terça-feira, fevereiro 06, 2018

- o carteiro -

quando estás só a observar:

Moças posam na rua
Enquanto lhes tir' o retrato.
O condutor que espera, amua,
atrasado c'o aparato.

"Ráis part'ó Facebook",
atira ele da janela.
"Qualquer dia faço amok,
a tipas com' aquela."

As Kardashian wannabe's
não olham nem de soslaio.
A que fotografa até diz:
"Faz com'a Sara Sampaio!"

Editam logo as imagens,
Ali na hora, no Picsart.
Como Estalines, deixam paisagens
sem gente, tiradas em Marte.

O cabelo fica esticado,
A cinturinha, de vespa asmática,
O peito de pombo entesoado,
Entre outras regras da táctica.

Mas eis que surge essa ideia
do cílio, cujo olhar destaca.
Homero falava disso n' Odisseia,
Mas a propósito d'uma vaca.

Faltam as unhas de gel,
Armas potencialmente mortais.
Guardam a comida, o pó e o fel,
das mulheres ocidentais.

E prá terminar na perfeição,
usam-se hashtags baris,
Daquelas que chamam 'atenção,
Como "#VacationsInParis"

O objectivo disto aqui,
É arranjar um SugarDaddy,
Pra ir às galas da TVI,
Ter PT, Trender e Caddy.

Eles dizem que é artificial
fútil, feio e cafona.
Mas acham mesmo bestial
Comer ocasionalmente outra ...


8 Comments:

Anonymous Anónimo said...


Ai caramba!
Penso que alguém já disse aqui que a Beluga não voltaria a enganar os seus leitores com as coisas "ligeiras" que escreve. A Beluga é muito boa naquilo que escreve!!!!
Os efeitos de despersonalização e deslocação conseguidos com o recurso simples de escrever Estaline no plural, são notáveis!!!
Percebe-se que deve fumar muito enquanto escreve. O café e o tabaco são reconfortantes no inverno.
Acredito contudo que deve faltar-lhe uma pontinha de sorte. Talvez com uma promessa...
Pode fazer-me o favor de dar indicações para encontrar os versos de Homero que refere? O tema dos animais em Homero é dos mais apaixonantes!. Afinal de contas, foi um que abriu as portas de Tróia.

Um admirador secreto

7/2/18 9:32 da manhã  
Anonymous Anónimo said...


E pronto!
Cá estou eu a pedir desculpas mais uma vez. Se tivesse lido a sua resposta mais abaixo antes de postar este comentário, não o teria feito ou teria feito com outro tom. DESCULPE!!!!!!!

Um admirador secreto

7/2/18 11:06 da manhã  
Blogger Belogue said...

Caro "Um admirador secreto"

Quem disse que isto são ligeirezas? Isto é tão fútil, que é sério. E irritante! Dá mesmo vontade de fazer um amokzinho higiénico.

Como deve saber os meus 83 anos são mantidos com tabaco e álcool. Dão-me um ar cool e nerd. Na minha idade isso é "bués" de importante.

Sorte? Fica para outra ocasião.

O Homero segue em post.

Obrigada e boa noite! beluga

7/2/18 10:14 da tarde  
Anonymous Anónimo said...



Cara Beluga.
Ligeiras sim, mas fúteis não concordo. Para mim são deliciosas miniaturas que merecem toda a minha atenção;))))))

Um admirador secreto

8/2/18 1:11 da tarde  
Anonymous Anónimo said...


Meu Deus!!!

Como consegue escrever bem, tão bem, com essa idade!

Um admirador secreto

9/2/18 10:15 da manhã  
Anonymous Anónimo said...


Pronto para finalizar e ir-me embora ( já não era sem tempo diz a Beluga).
Por momentos pensei que tivesse colhido a lição para o "Estalines", na tabacaria de Pessoa.
O Esteves, tá a ver? Lamento se me enganei...
Adeus ó Beluga
Um admirador secreto

9/2/18 2:54 da tarde  
Blogger Belogue said...

Caro "Um admirador secreto"

O segredo de uma escrita jovial em idade tão avançada é o glúten. Não é canábis, nem cogumelos mágicos, nem chocolates (Come chocolates pequena, come chocolates) mas antes o glúten. Isso e o O'Neill:

Que vergonha, rapazes! Nós pràqui,
caídos na cerveja ou no uísque,
a enrolar a conversa no "diz que"
e a desnalgar a fêmea ("Vist'?Viii!")

Que miséria, meus filhos! Tão sem jeito
é esta videirunha à portuguesa,
que às vezes me soergo no meu leito
e vejo entrar quarta invasão francesa.

Desejo recalcado, com certeza...
Mas logo desço à rua, encontro o Roque
("O Roque abre-lhe a porta, nunca toque!")
e desabafo: - Ó Roque, com franqueza:

Você nunca quis ver outros países?
- Bem queria, Snr. O'Neill! E... as varizes?



Au revoir!

11/2/18 11:28 da tarde  
Anonymous Anónimo said...



Uma delícia. Um tratado pleno de malícia sobre o recalcamento .
O sr. O`Neill que até físicamente recalca os sapatos (mas logo desço à rua)
O Roque, que perguntado sobre algo que poderia ver, responde com as varizes.
Mas o melhor de tudo é o “ à portuguesa”.
Um delicioso poema de taberna.

12/2/18 5:13 da tarde  

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