segunda-feira, janeiro 23, 2017

- o carteiro -

olá amiguinhos, tudo bem com vocês? pois é... estamos de volta aos nimbos para ver se acabamos com isto. como já disse estou com problemas no computador, problemas esses cuja resolução, não obstante a minha boa vontade, devem ter de passar pela aquisição de um novo computador. enquanto isso não acontece, vamos ver se consigo postar.

Como vimos no outro post desta série (formada por dois ou três posts. uma série muito pequena, portanto), o nimbo podia ser circular, mas também triangular ou quadrado. Compreende-se o uso da forma triangular, aplicada quase em exclusivo a Deus já que o número três condensa um dos grandes pilares da Fé Cristã: que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. Três em um. Uno. A abadia de St. Riquier, mandada erigir por St. Angilbert, genro de Carlos Magno, era toda baseada no número três: tinha forma de triângulo, os claustros formavam um triângulo, sendo que em cada ângulo existia uma igreja. O número três repetia-se nos altares, fosse nos candelabros ou no zimbório. Ali habitavam 300 monges e cantavam 33 crianças (no coro de cada igreja). O número três é também significativo num outro caso: o caso dos nimbos com raios. Só as personagens divinas usavam nimbos com três raios. Maior número de raios é para outras personagens, especialmente, anjos. É o mesmo que se passa com as flores-de-lis: um número indefinido de flores-de-lis representa nobreza, mas não realeza. Somente três flores-de-lis podem representar a realeza. O nimbo com três raios pode ser usado por personagens não divinas quando estas se encontram em representação do divino.  O uso do quadrado enquanto forma para o nimbo já é mais difícil de compreender do que o círculo. Segundo os neo-platonistas e os pitagóricos, o quadrado simbolizava a Terra e a Terra era inferior ao Céu. De facto, o nimbo quadrado era atribuído aos mortais em vida, enquanto o redondo, a figuras divinas.

No que diz respeito ao nimbo dos santos... ora bem... os santos dependem de quem os nomeia. A Ocidente, não há festividades em honra de Adão, Abel, Abraão, Noé ou Moisés nem estes são chamados de santos. Aliás, nas litanias os patriarcas do Antigo Testamento são nomeados em massa, na totalidade e não individualmente. Já a Igreja ortodoxa considera Abraão, Isac, Jacob e David, santos com igrejas a serem-lhes dedicadas. E em localidades onde o ritual oriental se misturou com o ocidental, os profetas também possuem nimbo. De forma menos frequente, o nimbo é atribuído a patriarcas, juízes e reis.  




















The Fiery Ascent of Prophet Elijah
1570
Museum of History and Art, Solvychegodsk


Na abadia de Saint Savin (ver neste site, que adoro!) podemos ver um fresco com o sacrifício de Caim e Abel a Deus. Caim, "o mau" não tem nimbo, enquanto o seu irmão Abel, "o bom", apresenta-se com nimbo.














Saint Savin
Século VIII
França

Outro exemplo é o do rei do Antigo Testamento, Melquisedeque, que surge no pórtico norte da catedral de Chartres, não só com o nimbo, como também com uma pequena mitra. Aqui vemos Melquisedeque, Abraão com Isaac, Moisés, Samuel e David.



















Catedral de Chartres
século XII
França




















Catedral de Chartres
século XII
França

No Ocidente o nimbo é geralmente atribuído a santos do Novo Testamento e nunca, ou quase nunca, do Antigo. A Oriente o nimbo é usado por santos do Antigo e do Novo Testamento. Para o Ocidente São João tem nimbo, São José também e Maria idem idem aspas aspas. São João Baptista com nimbo faz todo o sentido: ele é o precursor, o que baptiza, o que prepara o Evangelho, aquele que estabelece a ligação entre o Antigo e o Novo Testamento.















São João Baptista a baptizar Cristo
Mosteiro de Patmos, Grécia

A Virgem tem sempre o nimbo, desde que nasce, embora essas representações sejam mais comuns na Igreja ortodoxa que acompanha todos os episódios da vida de Maria. para além do nimbo, Maria possui igual e simultaneamente a coroa. Neste exemplo que vos deixo aqui - uma subversão completa - o artista (Max Ernst) colocou a Virgem com nimbo a castigar o menino, cujo nimbo se encontra por terra.



















Max Ernst
The blessed Virgin chastising the Christ child before three witnesses
1926

Os apóstolos são sempre, e muito bem, representados com o nimbo, bem como as várias ordens de santos, mártires e confessores. Quanto mais próximo estamos do Renascimento, maior a probabilidade de nos depararmos com nimbos ricamente decorados com pérolas e raios, não na pintura, mas no vitral, como acontece com na catedral de St. Alpin, por exemplo.

Pessoas que alcançaram um certo grau de santidade em vida, foram honradas com o nimbo. Esta ideia foi defendida por João, o diácono e, mais tarde, por Ciampini. Só que o nimbo destes santos vivos não era como os santos já falecidos: era quadrado. Tínhamos visto nimbos quadrados no primeiro post relativo a esta temática. Quem estava representado era o Papa Pascoal, num mosaico da Igreja de Santa Cecília, mosaico esse comissionado pelo referido Papa. Pascoal devia considerar-se de tal forma santo que se fez representar com nimbo - quadrado evidentemente pois este sapateiro, ciente da sua chinela, não queria subir acima dela - em mais dois espaços, sendo que num deles parece um emplastro aos pés de uma Virgem com o Menino.



















Igreja de Santa Maria della Navicella, Roma





















Igreja de Santa Maria della Navicella, Roma


















Igreja de Santa Prassede, Roma




















Igreja de Santa Cecília, Roma

Esta é uma réplica do século XVIII de um mosaico do século IX, existente num triclinium do Vaticano. Mostra o imperador Carlos Magno e o Papa Leão III aos pés de São Pedro, cada um a receber o símbolo do seu ofício. Ao Papa São Pedro oferece o pálio e a Carlos Magno, uma lança ou um ceptro com seis estrelas. Ambos apresentam o nimbo quadrado, o que quer dizer que estariam vivos aquando da realização do mosaico, enquanto São Pedro tem o nimbo redondo.







































bou para dentro. beijinhos às famílias.