segunda-feira, janeiro 30, 2017

- original soundtrack -

Para as Catarinas deste mundo, mas principalmente para os Carusos que sabem colocar em palavras o que se sente nestas alturas. (tradução aqui)
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Catari, Catari, pecche me dice sti parole amare,
pecche me parle e 'o core me turmiente, Catari?
Nun te scurda ca t'aggio date 'o core, Catari,
nun te scurda!
 
Catari, Catari, che vene a dicere stu parla ca me da spaseme?
Tu nun'nce pienze a stu dulore mio,
tu nun'nce pienze, tu nun te ne cure.
 
Core, core, 'ngrato,
t'aie pigliato 'a vita mia,
tutt'e passato e
nun'nce pienze chiu!
 
Catari, Catari...
tu nun `o ssaje ca
fino e `int`a na chiesa
io so' trasuto e aggiu pregato a Dio,
Catari.
E ll`aggio ditto pure a `o cunfessore:
sto'a suffri pe` chella lla...
sto'a suffri,
sto'a suffri nun se p? credere...
sto'a suffri tutte li strazie!`
E `o cunfessore,ch'e perzona santa,
mm`ha ditto: `Figliu mio
lassala sta!...
(Core' ngrato, Enrico Caruso)
adoro ver mulheres bonitas. na rua, onde fôr. fazem-me sentir no meu lugar, inferior ao delas.
elas jogam na "primeira liga", na Liga Sagres.
eu, na liga Uprel.
- não vai mais vinho para essa mesa -

 

a marcha do passado dia 21 de Janeiro, que reuniu milhares de homens e mulheres em várias cidades, contra a presidência Trump (e contra o homem em si, sejamos honestos), deverá ter tido momentos altos, histórias, cartazes... destaco esta publicada pelo suplemento The Cut do New York Times e que conta o seguinte episódio:
Sábado, dia 21, em Washington, decorria a marcha, quando uma senhora, com um lenço de apoio a Trump no banco traseiro, entra para dentro do carro onde a esperava o condutor. A senhora olhava os manifestantes à sua volta e claramente agastada disse a uma pessoa que passava: "Se vocês tivessem trabalho, não andariam aqui a fazer esta confusão". Uma mulher que se manifestava, sem olhar para o carro, respondeu: "Bitch, it's Saturday."

- ars longa, vita brevis -
Hipócrates

 
olá a todos. hoje não há "antes e depois". A vida está cara e eu não tenho tido nem tempo, nem internet, para falar a verdade. Uma vez que nos estamos a aproximar desse dia (Dia dos Namorados)pelo qual o comércio anseia, trago-vos antes um post sobre anéis. Na verdade, este é um post sobre poder e sobre o poder de um sobre o outro, bem como sobre o poder social do casamento. Porque esta coisa de casar por amor é relativamente recente e veio com os romances de cavalaria. As pessoas sempre sentiram isto; o amor não foi inventado na Idade Média. Mas o amor romântico não era necessário para casar. Aliás, o casamento não tinha nada a ver com o amor. Era um contrato onde o que importava era garantir a descendência, a subsistência das partes, e que tudo se mantivesse na ordem pré-estabelecida. Aliás, a ideia do amor romântico é um mito, como se pode ler aqui, neste link que a ana me enviou. Hoje o amor romântico está em decadência: toda a gente o quer, mas tê-lo é careta, é limitativo e, claro, uma carga de trabalhos! Toda a gente tenta compreender o que sente. Mas se o amor está na cabeça, porque é que o sentimos no coração? É que parece que é mesmo no coração, quando se trata, no fundo, de uma opção tomada dado um conjunto de circunstâncias que vão do nosso estado de espírito ao cheiro da outra pessoa. Nada mais casual, portanto. Hoje o amor romântico já não é o que era... o amor romântico deveria ser altruísta, mas é cada vez mais egoísta. Pensa-se "eu quero que me amem", mas não "eu quero amar". Não pensem que sou muito experiente nisto, pelo amor de Deus! Aliás, Deus - ou o divino - está presente neste amor romântico, embora este seja um princípio que sirva bem os prósitos do catolicismo pois o amor romântico cria relações mais duradouras e por isso, menos passíveis de uma ruptura ou de se basearem no lado físico, somente. Mas sim, existe alguma coisa de divino, de muito humano (no sentido de Humanidade) no amor romântico. Faz-me lembrar aquele texto do Livro da Sabedoria (vou citar de memória):
"A Sabedoria brilha sem perder a verdade e... Quem a busca desde a Aurora, não se fatigará, pois há-de encontra-la sentada à sua porta. Meditar sobre ela é prudência consumada e quem lhe consagra as suas vigílias depressa ficará sem cuidados..."
Ou seja: tudo tem um tempo para acontecer. Se não aconteceu, então é porque ainda não era o tempo para tal. O amor romântico, parolo ou não, tem um tempo.




















Michael Wolgemut
Portrait Diptych: Hans VI Tucher
1481













Michael Wolgemut
Portrait Diptych: Hans VI Tucher (pormenor)
1481





















Michael Wolgemut
Portrait Diptych: Ursula Tucher
1481


























































Nuremberg Master
Double Portrait of Berthold V and Christina Schmidtmayer
1475







































Nuremberg Master
Double Portrait of Berthold V and Christina Schmidtmayer (pormenor)
1475




























































Durer
Portrait of Hans XI Tucher
1499



Durer
Portrait of Hans XI Tucher (pormenor)
1499
 
Elsbeth nãoo era casada com Hans XI, mas com Nicolas Tucher. 
 
 


































Durer
Portrait of Elsbeth Tucher
1499
Staatliche Kunstsammlungen, Kassel













Durer
Portrait of Elsbeth Tucher (pormenor)
1499

Staatliche Kunstsammlungen, Kassel 
- ars longa, vita brevis -
Hipócrates

porque a ana gostou, aqui vão mais três, desta vez a "meter o dedo na ferida":

você quer levar um par de estalos? - I

Caravaggio
 The Incredulity of Saint Thomas (pormenor)
1601-02
 Schloss Sanssouci, Potsdam

você quer levar um par de estalos? - II



















Roberto Ferri
Tomba Lacrimata
2003

você quer levar um par de estalos? - III

















Ashmolean Museum, Oxford
 
- o carteiro -

na porta do frigorífico tinha um íman com esta imagem de São Miguel a pesar as almas. O íman, que trouxe para a Ana de uma visita à National Gallery, era na realidade para marcar livros, mas como não me apercebi, comprei e coloquei no frigorífico. A Ana, que não conhecia o São Miguel do Crivelli, ficou a olhar.





















- é um São Miguel a pesar as almas.
- ah... pois é.
- São Miguel psicopompo.
- Psicopompo! Muito bem. As coisas que tu sabes... Quer dizer, estou a armar-me, mas também já conhecia o termo psicopompo.
- Não sei é se "psicopompo" é para aquele que pesa as almas ou se para aquele que guia as almas...
- Ora espera aí... palavras com "pompo"...
- Pompom?... Estou a brincar. Pom...Pom...
- Pompoarismo! Pompoarismo tem mais a ver com guiar, orientar, levar... do que com pesar. Deve ser isso: psicopompo é para as entidades que guiam as almas.

E a Ana tinha toda a razão. São Miguel não é psicopompo, é "psicostásico"; ou seja, ele pesa as almas para saber se estas entram para o Céu ou se, pelo contrário, terão de ir para o Inferno. Há vários psicopompos: Caronte era psicopompo (na mitologia/cultura gregas Caronte era o barqueiro que levava as almas dos mortos para o Hades. Os mortos eram por isso acompanhados, no túmulo, por moedas para pagar a viagem e uma lucerna para iluminar o caminho).




















John Roddam Spencer Stanhope
Charon and Psyche
1883

Já a psicostasia é um tema muito caro à teologia e arte egípcias e não é mais do que o julgamento que Deus faz, através de outros deuses, das almas depois da morte. Na arte egípcia a cena inclui uma balança (com uma pena de avestruz da deusa Maat num dos pratos e no outro, o coração do defunto), Thot, Anúbis e o defunto:











Psicostasia
Papiro de Ani
c. 1275 a.C.

E chegamos a São Miguel, ao "pesador de almas" que encontramos em muitas obras de arte. Eu, porque gosto, retomo o Crivelli. Aos seus pés tem o demónio (é aliás o arcanjo São Miguel que, fazendo parte do exército celestial, combate a revolta dos anjos rebeldes) que vence. Se não o derrota pela força da fé, fá-lo pela força da espada que desembainha com uma das mãos. Com a outra, pesa duas almas pecadoras: reparem no fiel da balança. Esta noite alguém vai conhecer os 9 círculos do Inferno...



















Crivelli
Saint Michael
1476
National Gallery, Londres





















Carlo Crivelli
Saint Michael (pormenor)
1476
National Gallery, Londres





















Carlo Crivelli
Saint Michael (pormenor)
1476
National Gallery, Londres



 

sábado, janeiro 28, 2017

a saúde (ou a falta dela) da tecnologia

acesso à internet: muito limitado
fogão: a passar por um período de introspecção
computador: a encomendar a alma ao criador
fogão novamente: diagnosticada doença bipolar.

não espera, já funci...
falso alarme

quarta-feira, janeiro 25, 2017

de mal a pior

segunda-feira, janeiro 23, 2017

peço que me desculpem, mas não tenho tido tempo para investigar nem escrever.
- original soundtrack -















Don't let yourself be hurt this time.
Don't let yourself be hurt this time.
(...)

(Falling, Julee Cruise)
- não vai mais vinho para essa mesa -

Poema ao Presidente da Câmara

Sr. nosso presidente
Tão alto e elegante
peço-lhe que atente
enquanto bou ali nun'estante
...
tenho aqui um marcador
mais uma folha de papel
pra dizer com'ó treinador
qual a tática pró plantel

defina limites pró povo
arrendar quarto, sala, banheira
não deixe construir mais de novo
nem ao dôtor Mário Ferreira

corte de vez c'os hotéis
faça isso, "sem medos",
lembre-se que vão-se os anéis
c'o importante são os dedos

nas visitas à cidade
aceite 1 conselho simplório
evite a modalidade:
"passeios de unicórnio"

é que um dia o ISIS rendido
ao mais puro epicurismo
torna-se da paz adido
e acaba-se logo o turismo

ficam as ruas cheias
de hotéis e de cambistas
e só resistem as mais feias
de entre as mulheres turistas

enquant'isso num acontece
e não há onde morar
uma pessoa adoece
só de tanto procurar

mas eis c'aqui também
s'achou uma sigela leira
"é pequenina" disse a mãe
"fala c'o dôtor Rui Moreira"

- o carteiro -

olá amiguinhos, tudo bem com vocês? pois é... estamos de volta aos nimbos para ver se acabamos com isto. como já disse estou com problemas no computador, problemas esses cuja resolução, não obstante a minha boa vontade, devem ter de passar pela aquisição de um novo computador. enquanto isso não acontece, vamos ver se consigo postar.

Como vimos no outro post desta série (formada por dois ou três posts. uma série muito pequena, portanto), o nimbo podia ser circular, mas também triangular ou quadrado. Compreende-se o uso da forma triangular, aplicada quase em exclusivo a Deus já que o número três condensa um dos grandes pilares da Fé Cristã: que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. Três em um. Uno. A abadia de St. Riquier, mandada erigir por St. Angilbert, genro de Carlos Magno, era toda baseada no número três: tinha forma de triângulo, os claustros formavam um triângulo, sendo que em cada ângulo existia uma igreja. O número três repetia-se nos altares, fosse nos candelabros ou no zimbório. Ali habitavam 300 monges e cantavam 33 crianças (no coro de cada igreja). O número três é também significativo num outro caso: o caso dos nimbos com raios. Só as personagens divinas usavam nimbos com três raios. Maior número de raios é para outras personagens, especialmente, anjos. É o mesmo que se passa com as flores-de-lis: um número indefinido de flores-de-lis representa nobreza, mas não realeza. Somente três flores-de-lis podem representar a realeza. O nimbo com três raios pode ser usado por personagens não divinas quando estas se encontram em representação do divino.  O uso do quadrado enquanto forma para o nimbo já é mais difícil de compreender do que o círculo. Segundo os neo-platonistas e os pitagóricos, o quadrado simbolizava a Terra e a Terra era inferior ao Céu. De facto, o nimbo quadrado era atribuído aos mortais em vida, enquanto o redondo, a figuras divinas.

No que diz respeito ao nimbo dos santos... ora bem... os santos dependem de quem os nomeia. A Ocidente, não há festividades em honra de Adão, Abel, Abraão, Noé ou Moisés nem estes são chamados de santos. Aliás, nas litanias os patriarcas do Antigo Testamento são nomeados em massa, na totalidade e não individualmente. Já a Igreja ortodoxa considera Abraão, Isac, Jacob e David, santos com igrejas a serem-lhes dedicadas. E em localidades onde o ritual oriental se misturou com o ocidental, os profetas também possuem nimbo. De forma menos frequente, o nimbo é atribuído a patriarcas, juízes e reis.  




















The Fiery Ascent of Prophet Elijah
1570
Museum of History and Art, Solvychegodsk


Na abadia de Saint Savin (ver neste site, que adoro!) podemos ver um fresco com o sacrifício de Caim e Abel a Deus. Caim, "o mau" não tem nimbo, enquanto o seu irmão Abel, "o bom", apresenta-se com nimbo.














Saint Savin
Século VIII
França

Outro exemplo é o do rei do Antigo Testamento, Melquisedeque, que surge no pórtico norte da catedral de Chartres, não só com o nimbo, como também com uma pequena mitra. Aqui vemos Melquisedeque, Abraão com Isaac, Moisés, Samuel e David.



















Catedral de Chartres
século XII
França




















Catedral de Chartres
século XII
França

No Ocidente o nimbo é geralmente atribuído a santos do Novo Testamento e nunca, ou quase nunca, do Antigo. A Oriente o nimbo é usado por santos do Antigo e do Novo Testamento. Para o Ocidente São João tem nimbo, São José também e Maria idem idem aspas aspas. São João Baptista com nimbo faz todo o sentido: ele é o precursor, o que baptiza, o que prepara o Evangelho, aquele que estabelece a ligação entre o Antigo e o Novo Testamento.















São João Baptista a baptizar Cristo
Mosteiro de Patmos, Grécia

A Virgem tem sempre o nimbo, desde que nasce, embora essas representações sejam mais comuns na Igreja ortodoxa que acompanha todos os episódios da vida de Maria. para além do nimbo, Maria possui igual e simultaneamente a coroa. Neste exemplo que vos deixo aqui - uma subversão completa - o artista (Max Ernst) colocou a Virgem com nimbo a castigar o menino, cujo nimbo se encontra por terra.



















Max Ernst
The blessed Virgin chastising the Christ child before three witnesses
1926

Os apóstolos são sempre, e muito bem, representados com o nimbo, bem como as várias ordens de santos, mártires e confessores. Quanto mais próximo estamos do Renascimento, maior a probabilidade de nos depararmos com nimbos ricamente decorados com pérolas e raios, não na pintura, mas no vitral, como acontece com na catedral de St. Alpin, por exemplo.

Pessoas que alcançaram um certo grau de santidade em vida, foram honradas com o nimbo. Esta ideia foi defendida por João, o diácono e, mais tarde, por Ciampini. Só que o nimbo destes santos vivos não era como os santos já falecidos: era quadrado. Tínhamos visto nimbos quadrados no primeiro post relativo a esta temática. Quem estava representado era o Papa Pascoal, num mosaico da Igreja de Santa Cecília, mosaico esse comissionado pelo referido Papa. Pascoal devia considerar-se de tal forma santo que se fez representar com nimbo - quadrado evidentemente pois este sapateiro, ciente da sua chinela, não queria subir acima dela - em mais dois espaços, sendo que num deles parece um emplastro aos pés de uma Virgem com o Menino.



















Igreja de Santa Maria della Navicella, Roma





















Igreja de Santa Maria della Navicella, Roma


















Igreja de Santa Prassede, Roma




















Igreja de Santa Cecília, Roma

Esta é uma réplica do século XVIII de um mosaico do século IX, existente num triclinium do Vaticano. Mostra o imperador Carlos Magno e o Papa Leão III aos pés de São Pedro, cada um a receber o símbolo do seu ofício. Ao Papa São Pedro oferece o pálio e a Carlos Magno, uma lança ou um ceptro com seis estrelas. Ambos apresentam o nimbo quadrado, o que quer dizer que estariam vivos aquando da realização do mosaico, enquanto São Pedro tem o nimbo redondo.







































bou para dentro. beijinhos às famílias.
 - o carteiro -

[1]
alguns dos melhores cartazes de protesto da Women's March de Sábado (link) (link)

[2]
um novo vocabulário para os próximos quatro anos (link)

[3]
a melhor análise do Inauguration Day (link)


quarta-feira, janeiro 18, 2017

- original soundtrack -

"depois de teres aquilo que queres, deixas de querer aquilo que tens", cantado pela "mulher mais bela do mundo"




















After you get what you want, you don't want it
If I gave you the moon, you'd grow tired of it soon

You're like a baby
You want what you want when you want it
But after you are presented
With what you want, you're discontented

You're always wishing and wanting for something
When you get what you want
You don't want what you get

And tho' I sit upon your knee
You'll grow tired of me
'Cause after you get what you want
You don't want what you wanted at all

Changer Boy...
You've got a changeable nature
You're always, always changing your mind
There's a longing in your eye
Hard to satisfy and
Here's the reason why...

After you get what you want, you don't want it
If I gave you the moon, you'd grow tired of it soon

You're like a baby
You want what you want when you want it
But after you are presented
With what you want, you're discontented

You're always wishing and wanting for something
When you get what you want
You don't want what you get

And tho' I sit upon your knee
You'll grow tired of me
'Cause after you get what you want
You don't want what you wanted at all

Baby...
I don't mean to make you blue...
But you need a talkin' to...

'Cause after you get what you want
You don't want what you wanted at all...
I know you!

(After you get what you want you don't want it, Marilyn Monroe)
- não vai mais vinho para essa mesa -















































- o carteiro -

bem ai o frio para uma pessoa ficar com os mamilos em sentido! como não quero que bos falte nada, deixo-bos mais camisolas quentinhas (e cardadinhas - é uma private joke) para que não tinhaindes frio nas partes altas.

camisola para senhoras que gostam de colocar o lenço de pano na manga e usar chinelos de carneira:



















Kansai Yamamoto
1970-1980

para jovens com atitude e que pertencem à equipa de desporto lá do liceu (ah, espera, isto não é nos EUA)
Kansai Yamamoto
1980

para aqueles homens que visitam a tia aos domingos à tarde e comem tostas mistas feitas por ela, enquanto vêem os programas de variedades, já que agora não dá o MacGyver antigo (esse é que era bom...)



















Kansai Yamamoto
1980-1990

para senhoras que não têm problemas em revelar o seu lado animal 



















Kansai Yamamoto
1980

para frequentadoras assíduas de vernissages, finissages, cocktails, premières and so on 



















Kansai Yamamoto
1980

bi aqui




- ars longa, vita brevis -
Hipócrates

"antes e depois" ou como gostava de compreender qual o encanto do Poussin. a sério que gostava. tive discussões com pessoas... conhecedoras... acerca do Poussin e não consegui compreender que que é que o Poussin possa ter sido importante. Ainda continua à procura de uma resposta nos livros, nos textos, já que nas imagens não encontro.

e o calor que não chega...

bem, hoje trago-vos o Ticiano e o Poussin. Por volta de 1520, Ticiano trabalhava para a corte de Ferrara, dominada pelos Este e, como bem o testemunha este quadro, estava "numa" de temas báquicos". Estávamos perante o Ticiano da fase "clássica" com cores ricas, vibrantes, mas poses formais. Aliás Ticiano não inventa nada de novo: a escolha das personagens, das suas expressões é fruto de textos clássicos (Ovído, por exemplo). A história desta tela é simples: Ariadne, filha do rei de Creta amava Teseu que ajudou a escapar da labirinto criado pelo seu pai (labirinto do Minotauro), através do fio de Ariadne. No entanto Teseu (esse grande ímpio), deixou-a, livrou-se dela na ilha de Naxos, quando estavam a regressar a Atenas. Aí, Ariadne tornou-se amante de Baco o que, ou diz muito da moça, ou da mitologia clássica em si... Nesta cena vemos Ariadne representada já com a coroa de estrelas (Corona Borealis), do lado esquerdo, numa pose que equilibra a de Baco, em total desalinho e desequilíbrio. A cena parece caótica com muita gente, mas é caótica pelo movimento exagerado dos corpos, todos eles em poses difíceis, em esforço.

















Ticiano
Bacchus and Ariadne
1520-22
National Gallery, Londres





















Ticiano
Bacchus and Ariadne (pormenor)
1520-22
National Gallery, Londres


Cerca de um século mais tarde o pintor francês Poussin vai buscar a mesma pose de Baco e adapata-a a outra personagem da mitologia clássica: Céfalo. A história é semelhante à de Baco e Ariadne: Aurosa, deusa da Madrugada - se assim lhe quisermos chamar, apaixona-se pelo mortal Céfalo e tenta seduzi-lo. Ele no entanto só consegue pensar na sua esposa Procris e rejeita a deusa. Até parece que lhe está a dizer "deslarga-me porca". Poussin usa aqui uma artimanha para justificar o repúdio de Céfalo face a Aurora: coloca o putti a segurar um retrato de Procris de forma a que o marido não possa esquecê-la, mesmo face às investidas de Aurora. De facto, este detalhe não está incluído numa das fontes literárias do tema: as Metamorfoses de Ovídio. Neste caso, a pose da personagem não está relacionada com a agitação, o vigor, a festa dos sentidos, mas antes com a repulsa e o desprezo, dois sentimentos pouco nobres para acabar este post. mas a vida é assim...














Poussin
Cephalus and Aurora
1630
National Gallery, Londres





















Poussin
Cephalus and Aurora (pormenor)
1630
National Gallery, Londres

- o carteiro -

este post começa de uma forma estranha, mas tem razão de ser.
Há duas práticas ancestrais que hoje continuam a ser levadas a cabo por nós, todos os dias e em todas as partes do mundo. Uma, a iconoclastia, é o fenómeno da destruição de imagens, fenómeno que ocorreu na formação do Cristianismo: os opositores à imagem com propósitos religiosos, destruíram-nas em muitas igrejas, principalmente na parte oriental do Império já que segundo o Antigo Testamento o crente não devia adorar outros deuses nem fazer imagens que os representassem. Por isso, quem era contra a reprodução da imagem divina, destruía-a como forma de expressar o seu descontentamento, não com o retratado, mas com a ideia. Hoje continuamos a fazer isso: quando algo acaba, rasgamos a fotografia dele/dela. Há até quem queime, mas isso soa-me a macumba. Rasgar a fotografia - ou queimá-la, para quem quiser ser mais radical - não elimina a pessoa da nossa cabeça e muito menos do coração, mas é um acto iconoclástico: ao fazermos isso estamos a dizer que eliminamos (ou que queremos eliminar) a pessoa da nossa vida. Neste caso manifestamo-nos contra a coisa retratada. E contra a ideia pois afinal, a ideia levou a uma ruptura.

A outra prática é o potlatch, típica de tribos nativas da América do Norte. (Penso até que os habitantes da Utopia de Thomas More a praticavam). Consiste em oferecer a uma pessoa uma série de bens de que ela no final da cerimónia se despoja, oferecendo-os a outras pessoas. No seu extremo, o potlatch pode levar à destruição dos bens. A pessoa que os destrói quer com este acto afirmar o seu estatuto social e a sua superioridade face a quem oferece e face aos bens em si.
E foi o que fiz... há uns meses comprei um souvenir.  Era uma caneca com a reprodução de um quadro de Van Gogh. Um pouco saturnino, mas acho que ninguém cria na alegria. E para além disso o Van Gogh é solar, mesmo quando é saturnino.


















Infelizmente nunca consegui entregar o presente e entretanto, o contexto mudou. Entregá-lo já não fazia sentido. Todos os dias passo pela caneca e todos os dias penso "o que é que te vou fazer?" Pensei em fazer como os iconoclastas de Bizâncio e partir a caneca. Mas não é isso que sinto. partir a caneca não iria mudar nada em mim; iria mudar na caneca. Por isso resolvi praticar potlatch em potência: arrumar a caneca num armário bem alto, lá atrás e esperar um dia descobri-la já sem este sentimento de perda no coração. será um reencontro sem saudade ou melancolia (espero!), com a cicatriz, mas sem a ferida.