segunda-feira, novembro 21, 2016

- o carteiro -

What to Wear XI (2000-2010)

nunca pensei dizer isto, mas está na altura de actualizar esta série de posts. Na última vez que escrevi o What to Wear (uma pequena história do traje em 10 posts. para quem pensa que isso é fútil, aconselho a ler este, ou este.), fiquei no ano 2000, à entrada do novo milénio. Entretanto dez anos passaram (até passaram mais) e muito se usou. A década seguinte (2000-2010) é considerada, segundo os entendidos, uma grande mistura. Usou-se de tudo e organizar este post não foi fácil, até porque não há muita coisa escrita acerca do assunto, de forma sistematizada. tentei por isso fazer com este post, o mesmo que fiz para os 10 posts do What to Wear. Note-se somente o seguinte:
a) este post não reflete as minhas preferências musicais ou de moda
b) é agora o mundo da pop, das celebridades rápidas, das cantoras de uma só canção, das "mulher de" que fazem as tendências. Não será por acaso que deixámos de ouvir falar de grandes casas de moda como a Christian Lacroix (que agora faz perfumes para a Avon, ou coisa que o valha).  Os designers começam a fazer parcerias com mega-marcas (Lagerfeld para a Macy's e para a H&M, por exemplo. Com a crescente influência da internet, das redes sociais e por consequência, do "eu", as pessoas passaram a não aceitar de ânimo leve vestirem-se como todos os outros. Os estilos são mais variados e as grandes casas de moda que ditavam as tendências têm de se adaptar. A internet coloca também a descoberto a origem da mão de obra que confeciona aquilo que vestimos, os ciclos de produção, os valores de custo e de venda, alerta para os problemas do consumismo desenfreado e poluente... Durante décadas ninguém se preocupou com isso. Agora os consumidores estão atentos e informados e querem que as suas roupas reflictam os seus valores, as mensagens que querem transmitir.
c) o milénio começa com a melhor tendência possível: os hot pants da Kylie Minogue no vídeo Spining Around. Adoro ver a Kylie Minogue de hot pants! A propósito disto o Nick Cave disse que rios de sémen haviam corrido quando o vídeo surgiu. Não sei se fez uma tendência, mas tem tudo o que caracteriza a nova década: brilho, conotações sexuais, decadência e pele à mostra.














2000-2002
Este tempo caracteriza-se ainda pela ligação aos anos 90, ao grunge - e por consequência às camisas de flanelas, as sweatshirts com nomes de bandas. Aliás, o grunge dos Pearl Jam e dos Nirvana dá agora lugar a algo mais soft e mainstream chamado Pop-punk. O Pop-punk deu-nos os Blink 182 e os Good-Charlotte, assim como a Avril Lagine. Talvez seja mais fácil descrever o que se usava nesse período que vai de 2000 a 2002 analisando uma mulher. Com a Avril Lavigne e o Pop-punk surge um estilo conhecido por Skater chic. Ela encarna esse estilo na perfeição. Em que consiste? Usar gravatas como cinto, mini-saias colegiais com botas Doc-Martens (Christina Aguilera no Dirrty), calças cargo, mas tudo com um ar muito... chic, muito limpo e brilhante. ailás, uma das tendências da época foi o brilhante (cintos com tachas, cintos com lantejoulas, aplicações de brilhantes na roupa...). Claro que não foi só o skater chic nem só a Avril Lavigne que adoptou este estilo. A Gwen Stefani em início de carreira a solo também fez uso das calças cargo e dos tops. Até a Jennifer Lopez cantou com elas enquanto usava uma mistura de salons e Camel Active. Uma coisa horrorosa!!!!

 
 












Esta época também viu surgir uma moda terrível que perdurou e se tornou a grande tendência da década: as botas Ugg. As botas Ugg são aquelas botas que parecem uma pantufas. Note-se uma coisa: este tipo de tendências chega-nos com as celebridades (lembro-me de ver a Pamela Anderson com estas botas e fato de banho e dizer "wow, quero ser como ela!"). É depois aproveitada por toda a cadeia de venda a retalho, do topo, à base. No final da década, recordo, as imitações de Ugg não eram só para fashionistas sem dinheiro, mas para todos. Com as Ugg - e com a Stella MaCartney - chegou o longo e triste reinado das leggings. Triste porque, deixem-me dizer-vos: LEGGINGS NÃO SÃO CALÇAS!. As leggings, as Ugg e os fatos de treino Juicy Couture marcam uma época pelo seu laxismo. Não é que as mulheres não possam nem devam andar confortáveis (uso leggings), mas assistiu-se a tudo o que a nossa imaginação possa... imaginar: leggings gastas, leggings usadas sem nada a tapar o rabiosque, Ugg com chuva, fatos de treino Juicy Couture (ou fatos de treino em veludo e com brilhantes) e chinelos para sair de casa. Não, desculpem, há um mínimo.















E cá está, uma década que, como disse atrás, é marcada pelo brilhante (até havia tatuagens de brilhantes, não sei se se recordam disso)


















2002-2006
A queda das Torres Gémeas em Nova Iorque, bem como a Guerra no Golfo e a ascensão do combate ao terrorismo não mudou nada a longo prazo. A curto prazo, e no rescaldo dos ataques do 11 de Setembro, as estrelas em Hollywood moderaram a apresentação na cerimónia dos Óscares em 2002. Mas parece até que no geral, a crítica declarada ao estilo de vida ocidental de que estes ataques foram portadores, potenciaram um exagero nas liberdades propostas por esse mesmo estilo de vida. Vejamos uma das grandes tendências do período que vai de 2003 a 2006: as calças de cintura descida com o fio dental à mostra. A minha opinião acerca desse tipo de calças - que também usei - é que não favorecem, no futuro, a silhueta feminina, uma vez que não acentuam a cintura. Bom, mas voltando ao fio dental... quem é que não viu, nessa altura, isto?

















Estes anos viram também surgir uma outra moda que não favoreceu nada a silhueta feminina e que devia, de facto, ser reservada para o ginásio: os corsários ou calças capri, calças que terminam abaixo do joelho. Digo que não favorecem, especialmente as mulheres baixas, pois criam uma anulação da linha vertical do corpo humano, fazendo com que as mulheres pareçam ainda mais baixas. Se a mulher estiver a usar sandálias com atilhos ou botas, ainda pior. Estes anos não podiam acabar sem outra tendência se afirmar: os sapatos muito pontiagudos.

















(2007-2009)
Como já disse, quem define, neste tempo, as modas são as celebridades, mais ou menos efémeras, mais ou menos fabricadas pelos sintetizadores, media, estilistas... paradigmático disto é o facto de - e isto é muito importante pois muda tudo - as revistas de moda terem nas suas capas, não modelos, mas cantoras e actrizes. Vejam como em 2006 a Elle americana só apresentou nas suas capas, actrizes e cantoras [aqui]. Isso já tinha acontecido em anos transactos. Até a Vogue, mais elitista, mudou um pouco de linha ao incluir na sua capa actores e desportistas. As mulheres da capa são agora mais reais e não modelos. Isto é importante, pois aproxima a modas das pessoas, principalmente das mulheres que até aí se sentiam excluídas por não serem como os arquétipos de beleza vinculados pelas revistas. Quem de facto não era um exemplo de beleza era a Amy Winehouse... Não, não posou para Vogues nem nada disso, mas tinha um estilo próprio que influenciou muitas miúdas. Para já, muda o paradigma anterior: dos sapatos pontiagudos passamos agora para as bailarinas. Depois introduziu o uso do eyeliner de uma forma que não se via desde os anos 60.


















Destaco também duas tendências em cores. O amarelo é uma cor que a maior parte das pessoas detesta, mas entre 2007 e 2009 o amarelo teve um período de graça. Quem não teve uma peça amarela nessa altura? Eu tive. Tive uma camisola e um vestido. Diz-se que esta tendência se deveu muito ao vestido de Reese Witherspoon nos Óscares de 2007, ou ao da Michelle Williams em 2006. Não sei... acho que a escolha de certas cores como tendências tem mais a ver com questões económicas e políticas. Para quem acha que não, basta ver que o lápis-lazúli, que é um dos pigmentos mais caros que existe e lindíssimo, origina um azul que quase nunca está na moda. Talvez porque as melhores pedras se encontrem no Afeganistão e no Paquistão. A outra cor sensação - que ninguém esperava e que levou muita gente a gastar dinheiro em peças que hoje já estão comidas pela traça - foi o roxo/lilás. Não sei se se lembram, mas aquilo era horrível... Ver: Penélope Cruz na passadeira vermelha de Cannes em 2009, a passadeira vermelha dos Globos de Ouro de 2010, a passadeira vermelha dos Emmys de 2009 e claro, o nosso armário.

Com estas me vou, minha gente. Tenho uma roupinha para pôr de molho e umas escadas para passar a pano.