segunda-feira, fevereiro 01, 2016

- o carteiro -

e o Homem criou Deus... (XI)

Ora bem, continuamos com Carlos Magno. Como vimos, Carlos Magno não poupava na violência quando se tratava de "evangelizar" os homens. Na verdade, se estes não seguissem o cristianismo pela crença em Deus, seguiam-no pela lança de Carlos Magno. O imperador não se coibia de emitir opiniões acerca dos sermões dos clérigos e chegou mesmo a mudar uma parte do Credo de Niceia bem como a estabelecer um centro educativo para o clero em Aachen. A sua acção no âmbito educativo permitiu que se apelidasse esta época de Renascimento Carolíngio, antes mesmo do Renascimento italiano. A escola para monges fundada por Carlos Magno, gerida por Alcino de Iorque, possuía um importante scriptorium. Foi lá que 90% dos manuscritos da Antiguidade foram copiados e foi graças a eles que hoje estão os nosso dispôr.
Mas o reinado de Carlos Magno tem um fim. Prevendo isso o imperador nomeia o seu filho Luis I, o Piedoso. Este, obviamente, não tem o carisma nem a visão do pai. Entretanto as fronteiras do império continuam a ser testadas por povos bárbaros, desta vez, pelos vikings vindos da Escandinávia. A sua forma de combater era diferente e pode dizer-se, implacável, já que para além de matarem as pessoas e destruírem as suas casas, também arrasavam as culturas, o que tornava o alimento escasso num espaço de tempo relativamente longo. O primeiro território que os vikings atacam é a Escócia, bem como o seu primeiro mosteiro cristão. Aliás, os vikings procuravam instituições relativamente remotas, isoladas e com alguns bens, pois assim não só eram mais fáceis de atacar como os frutos dos saques eram maiores. Graças ao facto de Luís I não ter o mesmo carácter do pai e de o império estar dividido pelos seus irmãos, os vikings ousam e alcançam Paris em 845. A matança foi terrível! Em seguida passam por Espanha, Portugal, Pisa e Milão. Apesar de tudo isto, que poderia colocar em causa da fé dos cristãos (onde está Deus face a esta matança?), a comunidade cristã permanece unida, acreditando no poder das relíquias que possui e na doçura da Virgem Maria para aplacar a maldade dos homens.

O Papa em Roma tem pouco poder e em Bizâncio o imperador é uma figura simplesmente decorativa. O Império que outrora era de Cralos Magno e que agora era defendido por Luís I corre o risco de ser desmantelado. Em 955, Otão I, juntamente com um exército cristão, derrota os Magiares (tribo húngara), embora estes estivessem na proporção de 2 para 1. Os Magiares acreditavam na sua invencibilidade e que iriam derrotar o exército cristão. Para Otão, vencer significava unificar o império e para tal contava com o poder da sua lança (também ela uma relíquia; talvez a lança de Longino...). Esta vitória coloca fim a 50 anos de domínio dos magiares e permite a Otão entrar triunfante em Roma, tal como havia feito Carlos Magno duas gerações antes dele. Perante o altar de São Pedro Otão é coroado pelo Papa, Sacro Imperador romano. Mas logo se desilude com ele. Este Papa, era João XII, instalado no trono papal pela família quando tinha apenas 18 anos. Era no fundo um devasso, que gostava de mulheres e segundo consta, não as deixava em paz nem mesmo quando estas iam a São Pedro rezar. Para além disso tirou dinheiro de São Pedro e deu-o aos seus filhos ilegítimos, deixando as igrejas de Roma entrar em declínio. O seu sucessor não foi muito melhor. Morre Otão I que deixa o trono ao filho Otão II. Segue-se também no trono papal Silvestre II que juntamente com Otão III pretende estabelecer a dignidade do Papado e reviver a ideia de Império Romano unificado. Pela primeira vez desde Carlos Magno esta ideia pode ganhar forma. Na entrada para o ano 1000 parece que toda a Europa é cristã.
Aproximávamo-nos então do ano 1000 e do fim do mundo. Seria mesmo o fim do mundo? E as pessoas pensavam que era o fim do mundo? Existe a ideia de que muitas pessoas entraram em pânico e que, perante a aproximação do ano mil se deram suicídios em larga escala. Mas esta visão não pode ser homogénea, não só porque os calendários eram diferentes, mas também porque milhares de pessoas viviam em localidades remotas, isoladas e nem sequer tinham acesso a esse tipo de informação.