domingo, novembro 29, 2015

sou mesmo asna

sábado, novembro 28, 2015

- o carteiro -

anita, mim gosta muito de tim















terça-feira, novembro 24, 2015

faz hoje 16 anos que fui internada. tinha 20 anos e 30kgs. e achava que podia chegar aos 25. kgs, claro
- original soundtrack -

Acho que não há ninguém - nenhum músico - que perceba tão bem o que uma mulher quer e sente, e consiga colocar isso em palavras, como o Chico Buarque. Só o vi e ouvi ao vivo uma vez e fiquei num péssimo lugar... Para além de ser capaz de escrever sob o ponto de vista de uma mulher, o chico consegue colocar em versos palavras como "paralelepípedos" ou "escafandristas" que além de tudo, fazem sentido e só contribuem para a riqueza do todo! E como se não bastasse, tem músicas com uma consciência social que nos fazem ter vergonha de nós mesmos. Menos frequentemente, o Chico dá-me vontade de dançar e de perder a compostura. Esta é uma dessas músicas:















(Essa moça 'tá diferente, Chico Buarque)
- não vai mais vinho para essa mesa -
























































(sim, no nariz!)
- o carteiro -




















Van Gogh
Fifteen Sunflowers in a Vase
1888
National Gallery, Londres

a música do Chico Buarque fez-me recordar as minhas festas de aniversário, na adolescência. até aos 18 anos, as minhas festas de aniversário eram muito tensas. "tensas" é de facto a palavra. aliás, até poucos meses antes do meu 18º aniversário os dias eram muito tensos. a minha infância e a minha adolescência foram uma sucessão de dias alternados de, por um lado, sossego e agradecimento a Deus, e por outro, tormenta, sobressalto e medo constante. a vida familiar foi de facto... difícil. pouco ortodoxa também. pensei em sair de casa, ir viver no meio da rua, pedir, deixar o liceu.

bom, mas isto a propósito das festas de aniversário. Já aqui falei das festas de aniversário da Bárbara, quando tínhamos 8, 9, 10 anos. Por volta dos 14, 15 anos, as minhas festas de aniversário passaram a ser data a fixar no calendário do pré-mulherio. Como o aniversário coincidia, mais coisa menos coisa, com o Carnaval, convocava um fim-de-semana em minha casa, longe dos pais e perto da diversão. Éramos cerca de 5 ou 6 raparigas, com as hormonas em ebulição, mochilas cheias de roupa (curta) e muita vontade de usar maquilhagem! lembro-me de um aniversário em que fomos ver um desfile de Carnaval, à noite, dispostas a metermo-nos com qualquer macho. e foi o que fizemos. A presa era um dos músicos da banda filarmónica de Alcobaça que tocava no seu tamborzinho. Das bancadas gritamos-lhe: "és lindo", "és meu", "no fim falamos". O rapaz corava, os companheiros faziam-lhe sinais com o clarinete e quando, no esquema de grupo, o moço se vira para o nosso lado, a Andreia atira-lhe uma serpentina que se enrola nas baquetas. O rapaz pára de tocar, desembaraça-se daquilo e desorientado, engana-se no esquema, sorrindo, tímido, ao que lhe dizíamos. Numa outra ocasião, qual aves de rapina, seleccionamos a presa do outro lado da rua. Era um rapaz com cabelo e olhos claros, com um sorriso enorme e cara bolachuda. Entre sinais combinou-se que o rapaz viria ter connosco no final do desfile. Assim foi! E aquilo deu pano para mangas, comigo e a Bárbara a discutir quem tinha o direito a "sofrer de amor" por ele. Sim, nós éramos dadas a um bom drama! Chegámos a colocar um anúncio no Blitz para o procurarmos, depois daquela noite, vejam lá!

Arranjávamo-nos, íamos para uma discoteca, dançávamos toda a noite, beijávamos quem nos apetecia. Não éramos promíscuas, não pensem... éramos adolescentes. Cantávamos o Purple Rain, e dançávamos o Something got me started, ou o Too Funky e tudo o que era música de Carnaval. Eu não bebia, mas uma vez envolvi-me numa briga com outra rapariga e o resultado foi quase o mesmo! 

Quando chegávamos a casa, ressacadas de fantasia, com os ouvidos a latejar, tomávamos o pequeno-almoço e discutíamos o quanto aquela noite tinha sido maravilhosa, planeando também uma nova vida a partir daí, pois certamente tudo iria ser diferente. Não sei porquê, mas depositávamos naquelas horas a mudança nas nossas vidas habituadas. achávamos que qualquer coisa nos viria resgatar do marasmo em que a indefinição da adolescência nos tinha deixado. 

Ouvíamos More Than Words dos Extreme (Nuno Bettencourt, se me estás a ler, é só para dizer que todas nós queríamos casar contigo e ter bébés teus na barriguinha) e sonhávamos (e chorávamos também, sem razão aparente, só porque sim) de olhos abertos com uma fantástica e irrepreensível existência futura onde a perfeição seria habituée de todas as horas. À medida que o Carnaval passava, a nossa coragem e ousadia - que no fundo era a coragem e ousadia que víamos nos videoclips da MTV e da VH1 - dissipava-se, e a languidez e melancolia instalavam-se como uma sombra que volta a cobrir a casa depois de uma tarde fria de Sol. Era já quarta-feira de cinzas, tempo de voltar à realidade de uma adolescência cheia de falhas, só apaziguadas pela crença nas amizades eternas, na música e na esperança imortal.
- não vai mais vinho para essa mesa -




































- ars longa, vita brevis -
hipócrates


Olá ISIS. Então que tal? A vida como vai?
Escrevo-te para te dizer que estou muito desiludida contigo. Vocês não têm aí alguém que estude as coisas? Já que vais atacar o teus inimigo, o infiel, convém que saibas onde atacá-lo. Pois eu não sei onde é que vocês se informam, se só sabem de Kalashnikovs e bombas, mas convinha que começassem a ter formação a sério para poderem atacar com propriedade. Não é chegar a um bar, colocar uma bomba e pronto. E se é dia de descanso do pessoal? É preciso saber e vocês, desculpa que te diga, não sabem. Primeiro que tudo, se era para fazer uma viagem e perder o episódio da novela, tinham saído na primeira sexta-feira do mês e não na segunda. Porquê? Porque é na primeira sexta-feira do mês que em Notre Dame se mostra a coroa de espinhos de Jesus. Tinhas era de ir à missa. Mas se já rezas cinco vezes ao dia, mais uma não fazia mal. Sim, há uma relíquia que é a coroa de espinhos de Jesus e está em Notre Dame. Foi o rei Luís IX (mais tarde santo) que foi buscá-la a Constantinopla e entrou com ela na cidade de Paris, descalço, vê lá tu! Até há uma imagem disso nos vitrais da capela que ele mandou construir. O tipo era um bocado beato, para dizer a verdade! Não achas?














Coroa de espinhos
Notre Dame, Paris

Bom, espinhos já não há. Na realidade, chamar-lhe coroa de espinhos, é um exagero, porque o que aquilo é, é um entrançado de palhinha dentro de um relicário de vidro. O rei retirou-lhe os espinhos e distribuiu-os por esse mundo fora. Posso dar-te conta do paradeiro de dois desses espinhos: Londres, British Museum. Não te metas com eles! São malta da pesada!

Um dos espinhos está neste lindo relicário do Duque de Berry (não vale a pena pensares em matá-lo porque ele já está morto). O relicário é uma história: diz-nos que ressuscitamos dos mortos (os mortos em baixo a sair das sepulturas) e ascendemos à vida eterna (Deus no topo), através do sofrimento (o espinho, no meio, em evidência) e com a ajuda dos apóstolos (12, seis de cada lado). Depois é também uma peça de joalharia com rubis (sangue de Cristo) e pérolas (Nossa Senhora) e duas safiras, a representarem o céu, o imaterial. O que vês em baixo é parte das armas do duque. Quem pode, pode!


















Relicário (espinho da coroa de espinhos)
c. 1400
British Museum, Londres



















Relicário (espinho da coroa de espinhos) - pormenor do espinho
c. 1400
British Museum, Londres
















Relicário (espinho da coroa de espinhos) - pormenor de armas do Duque de Berry
c. 1400
British Museum, Londres


O outro espinho está num relicário, também no British Museum, que é a coisinha mais linda que eu já vi. Encontra-se dentro de uma pedra que por seu turno está presa a uma pulseira. A pedra, uma ametista, está dividida em três partes, e abre quando retiramos o fecho das duas laterais. Na frente temos uma minúscula pintura de Maria com o Menino no colo e em baixo, um casal ajoelhado (crê-se que o relicário pertencia à família de Filipe VI e mulher, Joana de Borgonha que teve alguma dificuldade em dar à luz o primeiro filho homem capaz de vingar). Do outro lado vemos mais cenas da vida de Cristo como a Fuga para o Egipto e a Circuncisão ou a Apresentação no Templo, já não sei. Do outro lado encontram-se cenas da Crucificação e da Descida da Cruz. Mas se retirarmos uma parte móvel, lá está, o espinho que muito deve ter incomodado Jesus.






























































Relicário (espinho da coroa de espinhos) 
c. 1340
British Museum, Londres


ISIS, pá, "induca-te". 
Com muito amor e carinho da tua, b.

quinta-feira, novembro 19, 2015

será que emagreci mesmo? isso não me dava jeito nenhum por várias razões: começa a ficar frio e com menos peso, o frio sente-se mais; a tentativa de comer mais para colmatar o peso perdido geralmente acaba no oposto; as pessoas ficam a olhar com um ar paternal que me irrita.

adenda
não me irrita; estou a ser mázinha. não quero é que tenham pena de mim, é isso. 
mete isto na cabeça: não sou como ela; não quero ser como ela. tu bem tentas dizer que cada um é como é mas usas sempre um tom condescendente que não disfarças, como se eu fosse menos por ser como sou, "coitadinha". onde tu vês alegria, simpatia, eu vejo vaidade. onde vês sociabilização, eu vejo bajulação. onde vês assertividade, eu vejo sobranceria. há muitos caminhos para ir ter a Roma, mas seja qual for o que eu escolher, tu vais desvalorizá-lo, apontar reparos ridículos e fazer-me sentir mal comigo mesma.

terça-feira, novembro 17, 2015

- original soundtrack -


















Have you seen the well-to-do,
up and down Park Avenue
On that famous thoroughfare, 
with their noses in the air

High hats and Arrow collars, 
white spats and lots of dollars
Spending every dime, 
for a wonderful time

If you're blue 
and you don't know where to go to
Why don't you go where fashion sits,
Puttin' on the ritz.
Different types who wear a daycoat, 
pants with stripes
And cut away coat, 
perfect fits,
Puttin' on the ritz.

Dressed up like a million dollar trouper
Trying hard to look like Gary Cooper 
super duper

Come let's mix where Rockefellers 
walk with sticks
Or umbrellas in their mitts
Puttin' on the Ritz

Tips his hat just like an English chappie
To a lady with a wealthy pappy 
very snappy

You'll declare it's simply topping 
to be there And hear them swapping 
smart tidbits
Puttin' on the ritz!

(Puttin' on the Ritz, Fred Astaire)
- o carteiro -




















Van Gogh
Fifteen Sunflowers in a Vase
1888
National Gallery, Londres

postei aquela música porque, quando a minha idade era outra que não esta, eu pensava que o ideal seria viver nos anos anos 20, 30 ou 50 e ser cantora de cabaret. O que eu gostava! uma vez, eu e as minha amigas, planeámos cantar na festa do liceu. devíamos ter por volta de 15, 16 anos. O repertório era constituído pelos clássicos como: Let's do it, Fever, Sooner or Later, Making Whoopee... A mãe da Di, que era professora de inglês, iria dar-nos uma ajuda com as letras porque cantar e ser sexy ao mesmo tempo tornava a dicção sofrível. Achavamos que o ideal era vestir como a Kim Basinger no The Marrying Man, mas cada uma da sua cor ou com um decote diferente. às tantas, em vez de sermos umas Supremes, já éramos o coro de Santo Amaro de Oeiras, tanta era a mulherada que queria participar. Sim, nós tínhamos a mania que éramos mulheres com 15 anos, mas não nos sentíamos mulheres. Por isso, nunca vimos nesse facto uma justificação para o assédio que nos faziam. Convenhamos, aos 10 anos qualquer uma de nós já tinha sido assediada. Podia fazer uma lista, mas vou deixar isso para mim.

A nossa carreira musical terminou antes de começar: tínhamos vergonha. Eu tinha vergonha de cantar em frente ao Vasco - sim, porque o Vasco ia estar numa festa de final de ano no liceu, não iria estar a fumar um charro na praia, com os amigos!

Nessa altura, não sei se agora também é assim, o liceu dividia-se em grupos: os betos (com camisa aos quadrados ou às riscas e pullover a condizer); os surfistas (com cabelos compridos e camisas de flanela); os metaleiros (de preto e com símbolos de bandas como os Metallica e outros cujo nome não me recordo agora)... e acho que era só isto. depois havia as groupies dos grupos; aquelas que andavam com os betos, com os surfistas ou com os metaleiros. eu era aspirante a qualquer coisa que me permitisse ser aceite e por isso tanto comprava perfume da Don algodão em Espanha, para cheirar a beta, como deixava crescer o cabelo até ao rabo para poder disseminar-me entre os surfistas. era até aspirante a cantora de cabaré. Não cantava nada! Aliás, felizmente, nenhuma de nós seguiu a carreira de cantora. Também já não há cabarés, nem cintos de ligas, nem gangsters com fatos às riscas, nem sapateado, nem taças de champanhe (agora são flutes) nem a Audrey Hepburn, nem a Marilyn.

Às vezes também penso que podia viver num outro tempo, um tempo muito à frente, num outro milénio. Curiosamente, não imagino que no futuro vamos deixar de comer e começar a tomar os nutrientes em comprimidos, nem fazer férias na Lua, nem colonizar Marte. Vamos fazer o que sempre fizemos só que será demasiado tarde.
- não vai mais vinho para essa mesa -


- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "ei, por aí não que bai dar uma grande bolta".
Olá meus amores, coisas mai lindas da mãe. como indes bós. tendeis feito as bossas orações ao sinhor? tendeis bos portado bénhe?
Bamos ao que interessa. 
Há o São Pedro, aquele das festas na Afurada. esse morreu crucificado ao contrário, de cabeça para baixo. O miguel ângelo ou o rafael até têm um quadro dessa cena da vida do santo. Mas existe um outro São Pedro: São Pedro Mártir, um frade dominicano e inquisidor que nasceu em 1205. A Legenda Áurea fala dele. Ao que parece, já enquanto frade, este São Pedro foi atacado atacado por fiéis ao chefe cátaro local (o Catarismo era uma heresia). Foi apunhalado várias vezes e ficou ferido na cabeça. Segundo a Legenda Áurea, que retrata esta cena, São Pedro Mártir teve uma última acção: escreveu no chão, com o próprio sangue a expressão "Credo" que quer dizer "Eu acredito".

Há duas versões desta obra: a versão da National Gallery que é a primeira e a versão do Courtauld Institute e que, segundo se acredita, é obra da oficina de Bellini e não do próprio. Mas o que é que era "do próprio" quando a pintura era feita quase numa linha de montagem?
Bom, era só isto. Não tenho muito tempo para postar. Só tenho o Domingo para ler e escrever e às vezes não chega para tudo. Beijos e abraços, portainde bos benhe.














Giovanni Bellini
The Assassination of Saint Peter Martyr
1507
National Gallery, Londres
















Oficina de Giovanni Bellini
The Assassination of Saint Peter Martyr
1509
Courtauld Institute, Londres














Oficina de Giovanni Bellini
The Assassination of Saint Peter Martyr (pormenor)
1509
Courtauld Institute, Londres
- o carteiro -
e o Homem criou Deus... (IX)

Como vimos na última aula (estou a brincar) o fenómeno islâmico vai conquistando áreas cada vez mais importantes economica e geograficamente, áreas essas que anteriormente pertenciam ao Cristianismo. Só sobraram duas: Constantinopla e Roma. Curiosamente as comunidades monofisistas, mal aceites pelo Cristianismo oficial, tiveram mais sorte e tolerância sob o jugo do Islão do que sob a sua própria religião.

À medida que a conquista islâmica atinge o Norte de África, o Médio Oriente e a Ásia Menor, o Império Bizantino mostra-se incapaz de travar a ofensiva. O novo Imperador, Leão III procura respostas para esta situação que, julga, se encontram não só na estratégia, mas também na religião. Ou seja, o Imperador acredita que o avanço do Islão é o castigo divino que os cristãos têm de sofrer pelo seu pecado. E que pecado era este segundo Leão III? Adorar ícones. Os ícones eram - e são - pilares do culto bizantino, mas o Imperador entendia que quem os adora cai no pecado da idolatria. Note-se que o Islão proibia a veneração de ícones e com isto relembrava assim ao Cristianismo a proibição do Antigo Testamento quanto à iconodulia (sim, dulia com "u"). Para fazer cumprir a lei, Leão III envia tropas pelo mundo cristão para destruir as imagens religiosas. A comunidade cristã, obviamente, reage mal (pois que cada um tinha o seu santinho e é obrigado a abdicar dele? não há justiça!). Em 787 - e para dar resposta a esta crise iconoclasta - realiza-se um Concílio Ecuménico. O Concílio determina que é aceite, possível, fazer um ícone de Cristo pois Cristo tinha uma alma e um corpo humanos; ou seja, existiu. Apesar de ter uma alma e um corpo humano, Cristo era consubstancial a Deus, que por sua vez não tinha corpo, logo não podia ser representado. Apesar do Concílio resolver, aparentemente, a questão dos ícones, mostrou também o aprofundar de uma divisão entre o Ocidente e o Oriente, com este último a manter-se mais fiel às escrituras.

Já antes de Leão III subir ao trono, em 732, na Batalha de Poitiers, Carlos Martel (corrigido por anónimo) evita a conquista islâmica de "França". Ao fazê-lo, Carlos Martel instala um novo império cristão a Ocidente. Após a sua morte, e a morte do seu filho Carlomano (que havia ficado com parte das possessões do pai), sucede Carlos Magno no trono. Tal como Constantino e Justiniano antes dele, Carlos Magno vai ser declarado imperador e vai reinar como tal sob uma nova designação: Imperador do Sacro Império Romano. Ora vejamos: Carlos Magno não reinava apenas em "França" as suas conquistas foram vastas. Daí este título. A "Europa cristã", desde a queda de Roma (porque já havia imperadores romanos cristãos desde o século III, IV) entre 476 e 622, mais coisa menos coisa, passou um mau bocado. Do Norte vinham os bárbaros, do Sul e do Este vinham os muçulmanos e dentro do próprio império havia divisões quanto à aceitação e entendimento das imagens. É dentro deste caos que surge a figura de Carlos Magno, rei de França. É ele que recupera o espírito cristão e que começa os primeiros mil anos de uma religião unida, porém não una.

Em 799, um pequeno grupo de homens atravessa as montanhas que dão acesso à França com o objectivo de falar com o Imperador. Entre eles encontrava-se o Papa Leão III (houve um Papa e um Imperador com o mesmo nome, quase na mesma altura). Leão III havia sido atacado e vai até França pedir a protecção do imperador. Isto é uma inversão do que tinha acontecido até aqui. Até aqui, quando as instituições romanas entravam em ruptura era o Cristianismo, a religião que as orientava a nível religioso, claro está, mas também institucional. Isto era um poder; ser papa era ser representante de Deus na Terra, seguir o passos de Pedro e possuir um poder acima do próprio imperador. Agora, a cada passo que Leão III dá na direcção de França, a cristandade afasta-se da sua capital religiosa, Constantinopla, isto porque o Papa se submete ao Imperador; o poder religioso submete-se ao político.

sábado, novembro 14, 2015

"Ceux qui peuvent vous faire croire en des absurdités pourront vous faire commettre des atrocités"

(Voltaire)

quinta-feira, novembro 12, 2015

- o carteiro -

deves achar que a literatura começou quando tu fizeste a tua primeira aliteraçãozinha. 
E foste dizer isto para Espanha. Shame on you...



- o carteiro -

quando vejo os desfiles da Victoria Secret também me sinto um anjo.
papudo.
como o boneco da Michelin.
- não vai mais vinho para essa mesa -

ele - O Paulo Cunha e Silva era um homem que se fartava de fazer cultura!
eu, a pensar - [sim, fazia cultura de agriões e batata doce numa horta comunitária da área de residência... "fazer cultura"...]

terça-feira, novembro 10, 2015

- original soundtrack -



















(Poetry heals the ailing spirit, Valentin, Silvestrov)



- não vai mais vinho para essa mesa -

porque tenho andado a ver os filmes do Woody Allen, eis um apontamento do "Take the money and run"...


- o carteiro -
os meus pais (sim, tenho pais) dizem-me muitas vezes "X (o meu nome não é "X", obviamente), não há nada pior do que estar sozinho. devias arranjar alguém". "arranjar" é o verbo que eles utilizam, mas nem vou explorar isso mais do que o necessário. "arranjar" é do âmbito da utilidade e a companhia, seja ela qual for, não deve ser arranjada, não deve ser desenrascada, como um remédio, um remendo, uma panaceia qualquer. isso aplica-se a todo o tipo de companhia. 
eles estavam a referir-se à "companhia amorosa" que é uma expressão que, se não existe, passa a existir. 
mas eu penso, sinto, que não se deve ter uma companhia por medo do futuro em solidão, por medo da velhice sem um braço. quero acreditar - e só pode ser assim, quer dizer, é impossível ser de outra forma - que se há milhares de anos, artistas, músicos e escritores falam do amor, é porque ele existe. não é possível que tanta gente esteja enganada. claro que nem tudo o que é casamento, namoro ou outros, é amor. mas em algum lugar, de alguma forma deve existir amor: altruísta, íntimo, apaixonado, profundo e amigo amor.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

caros amigos, como "estaindes"? nós bem, obrigada. quer dizer, tem dias, mas quando os dias não correm de feição, eu prefiro ficar calada, cá no meu canto. [um destes dias estava a falar de signos com duas pessoas. eu e outra somos aquário. a terceira, que é capricórnio, disse que os aquarianos eram muito calmos, falavam pouco e deviam falar mais. parecia que algo os agrilhoava. e sim, é verdade. (isto a propósito de ficar calada). mas isto de ficar calada tem coisas boas. agora de repente é que não me lembro de nenhuma...]. bom, vamos ao que interessa. nem sei se posso dizer que isto é um "antes e depois" ou um "ao mesmo tempo". Não gosto do Renoir, já havia dito isso aqui. E não estou a escrever isto por causa das manifestações em Boston. Já antes, para mim, o Renoir era demasiado doce. É como um cupcake com tanta cobertura, tanta decoração que o sabor se perde e só de olhar já nos sentimos enjoados. Mas gosto do Monet e é por ele que vou começar. Monet e Renoir conheciam-se. Em 1869 eram ambos apenas dois jovens artistas, quase miseráveis, a tentar sobreviver em Paris. Tanto um como outro queriam pintar esta cena das banhistas na Grenouillere que era, no seu tempo, uma espécie de instância de banhos para a classe média. Pintá-la, era pintar a vida ao ar livre, do cidadão comum, do divertimento e lazer, repleta de movimento (o das águas, das folhas das árvores, dos vestidos, das pessoas). Maupassant por exemplo descreveu o espaço não como uma estância de banhos, um resort, mas como um lugar de encontro de bêbados e prostitutas. Diz que elas se pintavam demasiado, com rouge, baton e sombra nos olhos, tinham seios fartos e e péssimo gosto a vestir. Os homens, segundo Maupassant eram uns gigôlos de luvas claras e monóculo sempre a seguirem a presa. Monet pintou a pequena ilha entre o café flutuante e a margem da Ile de Croissy e não lhe ocorreu criticar a actividade que ali tinha lugar, talvez porque tanto ele como Renoir pertenciam à mesma classe social daquelas mulheres e homens. Por isso, tanto um como outro optam por retirar da cena o que ela tem de degradante, mostrando apenas o que era feliz e belo. Só que enquanto Renoir é atraído pelas pessoas e pelo seu domínio na e da cena, Monet por outro lado abarca o todo e as pessoas. Esquece o movimento de barcos e barqueiros, o barulho que podemos adivinhar nas vozes altas e nas gargalhadas, e evoca o silêncio parcial da natureza (tal como já disse, o roçagar dos vestidos, as ondas a baterem no casco dos barcos, as aves, as folhas ondularem ao vento, etc...). É interessante ver que o ponto central de interesse do quadro permanece em sombra, sendo que a luz do Sol entra dos cantos superior esquerdo e direito, mas não penetra na pequena ilha.
Com Renoir a cena é mais feérica. Mesmo descontando as diferenças de cor - que podem dever-se à falta de qualidade das imagens que encontrei na internet, a cena de Renoir pinta é muito mais cheia, mais povoada, não dando espaço para o silêncio que parece pautar o quadro de Monet. Senão vejamos: no quadro de Renoir há mais gente na água; há mais barcos (ocupam a parte de baixo da cena); os vestidos criam mais volume, o que nos leva a pensar que a pequena ilha tem mais mulheres e homens; a árvore tem os ramos pendentes para a água; a vegetação é mais densa e não deixa ver o céu ... enfim, tudo isso nos faz pensar num Domingo à tarde. E não me estou a referir a Seurat. Estou a referir-me mesmo ao Domingo à tarde. Quem já não foi passear para um hipermercado num Domingo à tarde? Quem já não ficou preso no trânsito a caminho da praia num Domingo à tarde? Quem já não foi a um jardim passear num Domingo à tarde e teve de encontrar 3000 pessoas conhecidas e filas para andar? Eu já. beijinhos às famílias, lavem os dentes, durmam bem e não façam xixi na cama que isto não está tempo para secar roupa.
















Monet
Bathers at La Grenouillere
1869
Metropolitan Museum, Nova Iorque

















Renoir
La Grenouillere
1869
National Museum of Fine Arts, Estocolmo
- o carteiro -

e o Homem criou Deus... (VIII)

Sob a influência de Teodora, os bispos monofisistas que até aí estavam exilados, voltam a Alexandria. Aliás Alexandria recebe agora um patriarca monofisista. Os monofisistas são também convidados ao palácio para discutirem teologia com Justiniano. Talvez devido a estes encontros, Justiniano dá inicio a algumas transformações no âmbito religioso e não só: codifica a lei romana, ordena obras em Hagia Sophia, empenha-se na reconciliação entre ortodoxos e monofisistas (ao convocar um concílio ecuménico no qual diz esperar dos bispos a resolução do conflito) e embarca numa grande campanha com vista a recuperar as províncias perdidas para os bárbaros, e desta forma restabelecer a antiga glória de Roma. Justiniano reconquista o Norte de África, Espanha e Ravena, a capital do Império a Ocidente após a queda de Roma. No que diz respeito à sua acção no campo religioso, e não obstante os seus esforços para a resolução do conflito entre ortodoxos e monofisistas (monofisistas estes apoiados por Teodora e talvez também pelo próprio Justiniano) a verdade é que a facção ortodoxa prevalece e a Igreja fica dividida para sempre. Com a morte de Teodora os monofisistas voltam a ser perseguidos e com a morte de Justiniano, as províncias recuperadas das mãos dos bárbaros, voltam a pertencer a estes. 

Enquanto a Ocidente é este o cenário que temos, a Oriente algo nasce: o Islão (ou submissão), uma religião capaz de competir com o Cristianismo em alguns aspectos, incluindo a conquista de território. Maomé que procurava algo para além do paganismo do seu povo. Ouve então uma voz, a voz de Alá, o criador do Universo. Maomé sente-se na obrigação de contar a todos que o único Deus é Alá, mas tem medo de ser mal entendido (muitas das contradições do Islão devem-se a isto: no início da "evangelização" levada a cabo por Maomé este não foi bem aceite. Como as escrituras no Corão não estão organizadas por ordem cronológica, da não-aceitação para a aceitação dos crentes, há constantes avanços e recuos entre palavras de incitação à luta contra os infiéis e palavras de tolerância para com estes). Confia então a sua visão apenas à esposa que o apoia e se torna a sua primeira discípula. Maomé começa então a pregar em Meca e proclama, em verso, o Corão. Nasce assim o Islão: aquilo que começou com um pequeno grupo de seguidores de Maomé, é hoje uma religião seguida por uma em cada cinco pessoas no mundo.

Para o Cristianismo, o Islão foi um rival à altura, mas não logo de início. Aliás, Maomé diz que a bíblia hebraica é a base das suas crenças e o próprio Maomé é apresentado como um profeta a par de Abraão, Moisés ou Jesus. Mas ao equiparar-se a Jesus e ao equiparar este a um profeta, o Islão coloca o Cristianismo em causa pois não reconhece Jesus como o Messias. Em 622, perseguido pela própria tribo, Maomé e os seus seguidores saem de Meca e vão para Medina numa viagem/êxodo, que ficou conhecido por Hégira e que, de resto, marca o início do calendário muçulmano. Em Medina, Maomé converte as tribos de beduínos pelo poder da espada. Apesar de Maomé ter morrido em 632, em 20 anos após a sua morte, os herdeiros do Islão espalham-se por todo o mundo.

Bizâncio não se interessa pelo fenómeno islâmico que vem do deserto e o Islão conquista assim áreas mais importantes, geográfica e economicamente, áreas que até aí pertenciam ao Cristianismo.