quarta-feira, junho 24, 2015

- não vai mais vinho para essa mesa -

quando fui buscar um livro à estante, vi isto:


















e pensei: "as piadas que eu podia fazer!"

sábado, junho 20, 2015

burra, ingénua, crédula
irascível, fria, sarcástica
uma burguesinha

quinta-feira, junho 18, 2015

quando o teu patrão te manda ter cuidado com o decote e tu te sentes ridícula e rameira...

segunda-feira, junho 15, 2015

- original soundtrack -

sei que já postei esta música, mas gosto tanto da Jessie Ware... 


















(...)
I’m lost again, it’s happening
When you’re around I just go weak
All I wanna know, is it mutual
Then I never want to leave
Then I’m ready to run, ready to fall
Think I’m ready to lose it all
And I’m ready to run, ready to fall
Think I’m ready to lose it all
(...)

(Running, Jessie Ware)
- não vai mais vinho para essa mesa -

raparigas que esticam o cabelo antes da aula de ginástica
raparigas que se maquilham antes da aula de ginástica
raparigas que se maquilham na aula de ginástica
raparigas que posam para selfies na aula de ginástica


- o carteiro -

e o Homem criou Deus... (II)

as sociedades eram portanto politeístas: adoravam vários deuses que tinham características físicas e psicológicas humanas e habitavam elementos ou estavam responsáveis por eles. a ocidente, tanto a Escandinávia, como Grécia ou Roma tinham os seus deuses. No caso de Roma, que adoptou os deuses gregos dando-lhes nomes diferentes, o politeísmo era uma forma de lidar com a morte. estamos perante uma sociedade extremamente violenta, onde viver podia ser mesmo um castigo. com as sucessivas mudanças de governo - apoiadas na necessidade de apaziguar os ânimos das hostes que apoiavam uma ou outra facção que queria governar um império em expansão - as delacções eram frequentes. viver o suficiente para ver os filhos crescerem e ver nascer os netos era a felicidade. a morte era uma realidade diária. havia por isso todo um ritual diário ligado com a morte: manter o fogo sagrado, fazer oferendas aos deuses (oblações e holocaustos)... tudo fazia parte de uma superstição generalizada. a ligação dos romanos aos deuses não assentava portanto na fé, mas na superstição.
embora morrer por causa da pátria fosse mais comum - ou chocante - do que morrer pela pátria, a verdade é que as honras que Roma concedia aos heróis que por ela morriam era quase nada quando as comparamos com a fervorosa gratidão e devoção que a Igreja primitiva manifestava para com os seus mártires. Mas vamos por partes: há razões pelas quais o cristianismo se foi implementando numa região onde já existiam duas formas de religião: o judaísmo e o paganismo. Por um lado o judaísmo era restricto, era visto como uma nação, um povo enquanto o cristianismo era considerado como uma seita. judeus e pagãos mais ou menos bem: os judeus empreendiam obras e tiveram protecção de alguns imperadores que em troca choraram a sua morte. como eram um grupo restricto nunca procuraram, ao contrário do cristianismo, expandir-se. essa foi aliás uma das vantagens do cristianismo face aos potenciais crentes: enquanto os judeus impunham a circuncisão, os cristãos aceitavam circuncidados ou não circuncidados. para além disso, os judeus, muito ortodoxos quanto às questões alimentares, não conseguiam aceitar a ideia de que o pão e vinho eram o corpo e sangue de Cristo. os cristãos ofereciam também uma esperança: a vida após a morte. num mundo onde era muito fácil morrer sem razão aparente, muitas vezes tendo por justificação acusações de conspiração, a vida após a morte apresentava-se como uma saída. no que diz respeito à convivência entre primeiros cristãos e pagãos, o mesmo foi, como se sabe, difícil. os pagãos não se opunham à ideia de que poderia existir um representante de uma entidade divina, sob a forma humana, mas estranharam várias práticas cristãs: por um lado a defesa, por parte dos primeiros cristãos, da existência de um mestre humano, de proveniência obscura e que fora morto pelos seus compatriotas. por outro lado rejeitavam a pobreza e ascetismo do seu mestre, bem como a ideia de imortalidade, de vida após a morte, uma vez que estavam focados nos benefícios e vicissitudes temporais. por outro lado não compreendiam porque é que os cristãos, que tinham um herói - Jesus - não escolheram para a prática dos seus rituais os templos dos heróis pagãos, optando antes pelos edifícios civis romanos para implementarem as suas basílicas por possuírem uma configuração que melhor se adequava aos rituais. As autoridades acusavam os cristãos de serem ateus por não acreditarem nos deuses do paganismo e de odiarem a natureza humana, já que pregavam coisas diferentes e estranhas.  
os primeiros cristãos tiveram uma implementação e aceitação difíceis, razão pela qual, e em território alheio que lhe era hostil, tiveram uma postura inicial bastante dócil. mas esta postura era objecto mais de louvor e admiração do que de imitação. Isto, é claro, mudou à medida que os cristãos foram ganhando terreno nos âmbitos civil e eclesiástico. 

- não vai mais vinho para essa mesa -


- o carteiro -

coisas lindas:
All of Back

leituras:

















The Europeans, Henry James




















A Civilização do Renascimento Italiano, Jean Delumeau




















Perturbação, Thomas Bernhard (ou como a vida não faz qualquer sentido e tudo é sofrimento)

terça-feira, junho 09, 2015

jururururururu

segunda-feira, junho 08, 2015

- original soundtrack -
- o carteiro -

Este post é simultaneamente um "original soundtrack ", porque eu fartei-me de ouvir este disco quando tinha 6 ou 7 anos (sim, nessa altura brincávamos às barbies até aos 12 anos), enquanto desenhava num bloco de notas de folhas azuis ou no verso de papel de parede; e é também um "carteiro" porque, ao que parece, em 86 tentou-se implementar um novo acordo ortográfico que previa a eliminação dos acentos nas palavras esdrúxulas. Agora as palavras homógrafas deixam de ser acentuadas (exactamente por serem homógrafas é que o acento estava lá para distingui-las) e o cor-de-rosa escreve-se com hífen, mas não o cor de laranja. Explicação que li no ciberdúvidas: o rosa não é uma cor definida, é uma cor entre o vermelho e o laranja. (?!)

















Professora - Hoje a lição é sobre a nova escrita.
Eu explico...

Alunos - Pois é «setora» é sobre o novo acordo ortografico. 
Em gramatica portuguesa eu quero ser sabio. 
Agora já não há esdruxulas no dicionario.

Professora - Responda o Gonçalo à lição de geografia.

Gonçalo - O vulcão Vesuvio fica em Italia.

Professora - E os rios de Portugal. Leia sobre eles um bocado.

Gonçalo - Rio Minho, Rio Ave e Rio Cavado.

Gonçalo - Na Europa há algumas ilhas cuja beleza nos cega:
na Grecia, a de Creta; em França, a Corsega.
As Canarias de Espanha são um local exotico.
Portugal tem a Madeira, perola do Atlantico.

Professora - As palavras que o Gonçalo ler num texto escolar
se são esdrúxulas ou graves tem de adivinhar.

Gonçalo - Ó «setora», a nova escrita é cá de uma extravagância.
Será que é melancia ou será que é melância?

(Canção do Gonçalo, Ana Faria e os Queijinhos Frescos, 1986)
- não vai mais vinho para essa mesa -

estava a passar os olhos por uma daquelas revistas masculinas quando, na parte do "consultório" li o seguinte:
"Descasco sempre a laranja. Estou a perder alguns benefícios"?

[estás. e nem imaginas os benefícios que perdes por tirar a castanha do ouriço!]
- não vai mais vinho para essa mesa -


- o carteiro -

e o Homem criou Deus... (I)

Vou fazer uma coisa para a qual não sei se estou preparada, mas penso que sim: escrever sobre o aparecimento da religião na sociedade ocidental, principalmente o Cristianismo.É assim a modos que um manual para que quem ler possa fazer bonito nas reuniões sociais.
Quando o Homem se deparou com fenómenos que não controlava como os tremores de terra, as tempestades ou os eclipses, teve de lhes atribuir uma origem não humana devido à sua magnitude e ausência de razão aparente. A base desta explicação era a superstição; acreditava-se na origem supra-humana dos fenómenos, não porque houvesse alguma crença em si, não porque existisse fé, mas superstição. Existia portanto o medo do castigo divino (divino no sentido de não humano), caso não se observasse um respeito deferente pelas entidades que produziam os fenómenos. Para se aproximar mais das entidades divinas, o Homem conferiu-lhes um lugar e uma existência terrena: podiam ser encontradas nas árvores, nos rios, nas estrelas, etc... Chama-se a isto animismo. mas a certa altura - e isto é muito importante - a ideia de que cada árvore, cada rio, cada estrela era animada por um espírito, deu lugar à ideia de que o conjunto de árvores, de rios e de estrelas era governado pelo deus da floresta, das águas, dos céus... Antes de começarmos a esboçar juízos acerca deste entendimento, temos de perceber como era o mundo sem ciência, sem agricultura, sem escrita. até aí os homens eram caçadores-recolectores e acreditavam em 5 tipos de seres sobrenaturais: 1) os seres inanimados; 2) os seres animados ou inanimados controlados por seres imaginários (exemplo: um vento era controlado por um duende amarelo que só aparecia em noites de chuva); 3) seres vivos habitados por poderes sobrenaturais; 4) espíritos dos mortos; 5) ser supremo (não se trata de um ser que estava acima dos outros seres, mas que de alguma forma era mais importante). 
Como vimos, havia tantas tipologias de entidades sobrenaturais, que de facto estas existiam como parte integrante do dia-a-dia. A "religião" (entre aspas porque ainda não existia religião nesta altura), era a vida. Estava tão enraizada nas tarefas diárias que nem havia uma palavra para defini-la. Os seres sobrenaturais faziam de tal forma parte do dia-a-dia que o Homem tinha com eles uma relação muito próxima e esses deuses, esses seres sobrenaturais, tinham características humanas: zangavam-se, amavam, e cometiam erros como os humanos. 
Os caçadores recolectores viviam em grupos fechados; não se falava em sociedade. nesse sentido, a ideia de bem/mal associado a um castigo divino também não existia. O que acontecia é que como os grupos eram muito pequenos, quando alguém cometia uma falta (roubar as bagas ao vizinho, por exemplo) era fácil saber quem era. Para manter a ordem social - e não pelo medo do castigo divino inicial - os homens faziam o bem. Mas não esperavam com isso alcançar a vida eterna. Queriam era ter paz! A partir do momento em que o Homem começa a praticar a pecuária e a agricultura e por consequência, se torna sedentário, as comunidades alargam-se e a preocupação com a vivência em sociedade diminui. Ou seja: agora, um homem está rodeado por mais pessoas, pessoas essas que desconhece. se desconhece, porque é que tem de ser simpático para estes estranhos? Vigora a lei do mais forte e a ética social é colocada de parte. Tanto num caso, como no outro (tanto no caso das sociedades de caçadores-recolectores como no caso das sociedades sedentárias e agrícolas), o Homem arranjou um intermediário humano, um especialista humano para lidar com o sobrenatural. Este intermediário representa um passo importante no aparecimento da religião enquanto prática organizada  já que mistura crença, prática, autoridade e hierarquia. Se o intermediário tinha contacto com o além, ele tinha uma posição privilegiada; era por isso uma pessoa mais importante do que os outros e por consequência, forma uma espécie de relação entre religião e poder, os primeiros políticos são também xamãs: compreendem os deuses, tentam aplacar a sua ira com os seus conhecimentos que aplicam aos mortais com parcimónia, em vários campos da vida humana, incluindo a vida diária das trocas, das regras... Era evidente que uma sociedade que vivia pouco acima do limiar da sobrevivência era mais igualitária que uma sociedade capitalista, mas mesmo nesta altura as diferenças entre os bafejados e os outros fazia notar-se.
Com a invenção da agricultura, o carácter dos deuses altera-se.
Passamos então a chefaturas, em vez de sociedades de caçadores-recolectores. As chefaturas eram sociedades agrícolas, maiores que as sociedades de caçadores-recolectores, com milhares de pessoas e onde quem tinha a liderança era um chefe, sendo que este poderia ter vários sub-chefes. É aqui que a liderança política e religiosa se fundem. Ora vejamos: os deuses já não são a única força que pode castigar uma pessoa: os chefes, pelo poder político e religioso que têm, podem aplicar a sua força (ou a força das suas tropas). [atenção: a diferença entre uma chefatura e um Estado, é que o Estado pode aplicar legitimamente a força e só ele o pode fazer.] Nas chefaturas os castigos tanto eram aplicados pelo chefe, como pelos lesados que faziam justiça pelas próprias mãos. Ora isto levanta um problema: enquanto nas sociedades de caçadores recolectores o número de pessoas era pequeno e por isso, o fazer justiça pelas próprias mãos era controlável, nas chefaturas isso não acontece, já que nas chefaturas apoiar uma das partes poderia significar apoiar metade daquela sociedade e assim apoiar o caos. Nesta fase, o governo ainda não assumiu totalmente o controlo das pessoas e estas também não são controláveis. Cabe à religião manter os membros da sociedade na ordem. Nas chefaturas os deuses eram o garante do poder político, do poder social e económico. Eram eles - por intermédio de outros - quem ditavam as ordens que permitiam aos homens viver em comunhão.  

para a próxima há mais

sexta-feira, junho 05, 2015

- o carteiro -

perdi o mesmo comboio duas vezes. perdi-o numa estação, meti-me no metro para tentar apanhá-lo duas estações mais à frente, e mesmo assim, perdi-o. depois, e para desanuviar o neurónio, fiz todo o caminho de regresso à primeira estação, a pé. ao atravessar a ponte, deu-me a melancolia sanjoanina. o s. joão deixa-me melancólica. recito para mim aquelas breves palavras do pessoa, que não obstante ter nascido no dia de santo antónio (daí o nome) dedicou à noite de s. joão esta preciosidade que sempre que recito, sinto com mais dor, dor essa que vai aumentando até culminar numa espécie de despeito, no dia 23 de junho:

Noite de São João para além do muro do meu quintal.
Do lado de cá, eu sem noite de São João.
Porque há São João onde o festejam.
Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,
Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.
E um grito casual de quem não sabe que eu existo.
(Alberto Caeiro)