terça-feira, agosto 05, 2014

- o carteiro -

a exportação coreana
não percebo muito de política. gostava de perceber, mas não percebo. sei no entanto que a Coreia do Norte não é propriamente um exemplo de democracia. e pelos vistos, também não é um exemplo de bom gosto. a história é da Slate. A Coreia do Norte, como a maior parte das ditaduras, tem uma ideia de estética particular, ideia essa que serve os propósitos do regime e é defendida por este. Existe mesmo uma divisão do governo norte coreano dedicada à propaganda que por sua vez possui uma "fábrica de arte". Trata-se do  Mansudae Art Studio, fundado em 1959 em Pyongyang e que dá trabalho a cerca de 4000 pessoas. Estas são artistas retirados das mais credenciadas universidades norte-coreanas que fazem pinturas de moças rosadas e trabalhar no campo, da vitória da Coreia do Norte sobre a Itália no Campeonato do Mundo de 1966 e as estátuas gigantescas dos líderes norte-coreanos. O Mansudae Art Studio tem uma divisão chamada Mansudae Overseas Project que se destina à concepção e exportação deste tipo de obras de arte.

Ora em 2006 o Senegal encomendou ao Mansudae Art Studio uma estátua colossal denominada African Renaissance Monument que mostra um homem em com o torso descoberto, orientado para a frente, com uma criança no braço que com o dedo indica o futuro (risonho, provavelmente) e uma mulher, atrás do homem, com um seio descoberto, o cabelo para trás por causa do vento como que a fugir a um passado negro, num ar "realistósoviético". Os corpos são telúricos, os membros grossos e angulosos. (spooky!) 















O monumento foi encomendado pelo governo senegalês à Coreia do Norte pelo presidente da época, Abdoulaye Wade que pretendia (dizia ele) um monumento que representasse a libertação africana de séculos de escravatura e colonialismo. A estátua foi inaugurada em 2010 para marcar o 50º aniversário da independência do país face à França, e como o governo senegalês não tinha como pagar os 27 milhões de dólares, ofereceu à Coreia do Norte propriedades no Senegal. Quando o monumento foi revelado Abdoulaye Wade estava no final de uma presidência de 12 anos, marcada pela corrupção e pelas constantes alterações à constituição de forma a servir os seus próprios interesses. Hoje é o seu filho que está na presidência. De facto, Abdoulaye Wade reclamava para si 35% das receitas do turismo geradas pelo monumento, já que se paga para lá entrar. Isto é particularmente grave se tivermos em conta que 47% da população vive abaixo do limite da pobreza. Igualmente grave foram os corpos despidos do homem e da mulher da estátua, já que 92% da população é muçulmana.