segunda-feira, abril 16, 2012

- o carteiro -

pelos caminhos de Portugal, eu vi tanta coisa linda vi um mundo sem igual...

também.... não foi assim muita coisa linda que vi, mas por acaso vi uma igrejinhas, daqui (estou a tocar na orelha). ali na zona da régua é possível ver meia dúzia de capelas (algumas são igrejas) que para além de nos deverem orgulhar muito (algumas pertencem à rota do românico), mostram quão rico é o Portugal fora das grandes cidades. confesso que não sou muito dessas coisas, de andar a viajar pelo país a achar piada a cada casa caiada de branco, mas gostei particularmente destas ermidas que têm em comum o facto de serem de pequenas dimensões e de terem elementos românicos. para além disso lembram as construções em baldaquino estilo que tem referências em todo o mundo, embora possua um núcleo muito curioso na Península Ibérica. vamos então ao que interessa. Perto de Tabuaço encontramos, ladeira abaixo, uma indicação para o caminho que leva a São Pedro das Águias.
São Pedro das Águias, Tabuaço

O que torna esta ermida tão especial é a entrada, encostada à escarpa, quase sem espaço para o visitante entrar. do outro lado ergue-se a capela mor. o caminho que nos leva até a igreja é longo, íngreme, com descidas acentuadas (e que nos fazem pensar no quão penosa será a subida) e pavimento em cascalho solto. Ali, e depois de breve observação do santuário, ainda podemos ir ter ao rio através de um caminho pouco seguro de pedras que ultrapassamos como se estivéssemos na praia a passar o paredão. no dia seguinte seguiu-se São João de Tarouca - cujas portas fecham para visitas impreterivelmente ao meio dia, abrindo depois às 13:30h (é assim!) e que, na impossibilidade de se deixar visitar, nos deixa espaço para dar uma vista de olhos por aquilo que foi o antigo mosteiro, hoje destruído (não percebi se aquilo era abandono ou eternas obras de recuperação).

Seguiu-se a igreja de São Pedro de Balsemão. Porque estas ermidas não estão assinaladas, foi necessário pedir indicações. Disseram: "é por aqui, cerca de três quilómetros mais à frente". Mas quantos três quilómetros foi necessário andar! e o pior era que quanto mais se avançava, mais estreita ia ficando a estrada, quase sem espaço para um carro nem muito estreito nem muito largo. O caminho tornou-se lama e já fora da povoação, após breve inquérito a uns trabalhadores muito solícitos (e que deviam ser a única alma ali do burgo porque não se via ninguém) lá chegou o veredito: "São Pedro de Balsemão? Era ali atrás, junto ao fontanário". Só que o que para uns é um fontanário, para outros é apenas um par de torneiras pintadas de verde escuro, frente a uma igreja. Ninguém imaginaria que tal tesouro nacional ficasse por ali, numa povoação cujo o único acesso é quase um caminho de cabras.
São Pedro de Balsemão, Lamego

Faz-me pensar no quanto temos e do tão pouco que precisamos para viver. embora eu confesse que ache sempre que para ser feliz é preciso isto e mais aquilo e mais aqueloutro. Estas igrejas lembraram-me pela localização e pelo tamanho diminuto, a arquitectura irlandesa dos mosteiros aquando do monaquismo irlandês. E lembram-me também como a igreja de São Frutuoso de Montélios em Braga.
São Frutuoso de Montélios, Braga

Esta pequena igreja tem em comum com as suas colegas nacionais uma particularidade de onde vêm o termo "arquitecturas em baldaquino", já que em todas a forma exterior faz adivinhar o interior. Olhem por exemplo para são miguel de hildesheim, que não é um edifício português, mas cuja imagem do exterior é suficiente para traçar a sua planta sem haver lá entrado uma única vez.
São Miguel de Hildesheim, Alemanha

Faz-me lembrar também que existe, por toda a Espanha um conjunto destas arquitecturas, a maior parte delas também assim, junto a "fontanários", em caminhos de cabras, como São Juan de Banhos, São Pedro da Nave, Santa Comba de Bande... O que as une e o que as une às igrejas portuguesas aqui referidas não é a época de construção nem as dimensões, mas tão somente esse aspecto de uma organização em cascata com as forças dos edifícios mais altos a descarregar nos mais baixos até chegar a terra, através de um sistema de pendentes. Bom, na verdade esta parte dos pendentes já extrapola porque os pendentes estão presentes na passagem de cúpulas para semi-cupulas, o que não é o caso de nenhuma destas igrejas. Mas mesmo assim, podemos chamar "arquitetura em baldaquino" a edifícios que não têm nada a ver com estes, como as igrejas bizantinas, turcas, gregas, arménias...
San Juan de Baños, Palencia

San Pedro de la Nave, Zamora

Santa Comba de Bande, Ourense

E last but not least... São Martinho de Mouros, em Resende. Foi de facto mais fácil de encontrar do que as outras ermidas. Muito bem arranjada, mas já com obras de outras épocas, resta-lhe o portal românico. o adro cheirava a aleluias e tílias que vinham do centro paroquial, logo ali ao lado. Estava porém tão deserta, que eu ainda tive tempo para fazer um xixi despreocupado dentro de um tambor de betão que lá estava esquecido de uma obra.

São Martinho de Mouros, Resende

7 Comments:

Blogger AM said...

estou agora a ler o Romanesque Architecture de Hans Erich Kubach na History of World Architecture da faber and faber/Electa
(essa do baldaquino continua sem me dizer nada mas ok na mesma - smile)

16/4/12 7:12 da tarde  
Blogger AM said...

quanto a Hildesheim...
quem vê elevações, volumes, não vê corações (smile)

16/4/12 7:16 da tarde  
Blogger Wis said...

Gostei de te encontrar no Pinhão! :D
Ainda não há Facebook para ninguém? :D

Beijos

17/4/12 4:07 da tarde  
Blogger Belogue said...

Olá António:
também não sei porque é que lhe chamam "arquiteturas em baldaquino". quer dizer... percebo a expressão, mas não sei se é uma expressão que só aquela faculdade usa, ou se é geral. Não me parece que seja uma expressão da arquitetura porque nunca a vi em livros nem na net, mas assim que possa vou perguntar ao meu professor.

gostava muito de ver hildesheim

19/4/12 11:43 da tarde  
Blogger Belogue said...

Olá Wis. Vou enviar-te um email, se não te importares

19/4/12 11:43 da tarde  
Blogger João Barbosa said...

gostei

21/4/12 4:06 da manhã  
Blogger Joana Duarte said...

Este comentário foi removido pelo autor.

14/6/13 5:01 da tarde  

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