segunda-feira, fevereiro 27, 2012

- original soundtrack -

só hoje é que reparei que esta música é mesmo muito bonita


Ayayayay
Feels like fire
I'm so in love with you
Dreams are like angels
They keep bad at bay-bad at bay
Love is the light
Scaring darkness away-yeah
I'm so in love with you
Purge the soul
Make love your goal

The power of love
A force from above
Cleaning my soul
Flame on burnt desire
Love with tongues of fire
Purge the soul
Make love your goal

I'll protect you from the hooded claw
Keep the vampires from your door
When the chips are down I'll be around
With my undying, death-defying
Love for you
Envy will hurt itself
Let yourself be beautiful
Sparkling love, flowers
And pearls and pretty girls
Love is like an energy
Rushin' rushin' inside of me

The power of love
A force from above
Cleaning my soul
Flame on burnt desire
Love with tongues of fire
Purge the soul
Make love your goal

This time we go sublime
Lovers entwine-divine divine
Love is danger, love is pleasure
Love is pure-the only treasure
I'm so in love with you
Purge the soul
Make love your goal
The power of love
A force from above
Cleaning my soul
The power of love
A force from above
A sky-scraping dove
Flame on burnt desire
Love with tongues of fire
Purge the soul
Make love your goal
I'll protect you from the hooded claw
Keep the vampires from your door

(Power of love, Frankie goes to hollywood)
- não vai mais vinho para essa mesa -
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou quase ao mesmo tempo ou "vamos lá ver se me consigo concentrar porque estou a ouvir Nick Cave e bem sabem que isto me desconcentra. Theodore Robinson, como muitos outros antes dele e muitos outros no seu seguimento, pintou a partir de fotografias, o que não o diminui em nada. Quero por isso falar de outras coisas que não a diferença entre a fotografia e o quadro. Theodore Robinson era um impressionista americano. Sim, também os havia americanos, com ligações - em alguns casos e este é um deles - a França. Foi através dele, principalmente dele, que a América teve Impressionismo e teve contacto com o Impressionismo francês. Robinson, por exemplo, passou o Verão de 1887 em Giverny e embora tivesse dado a conhecer o Impressionismo francês, não foi através dele que desejou tornar-se conhecido, tendo por isso tentado distinguir-se de Monet de quem era bom amigo. Este quadro marca uma viragem no tempo que Robinson esteve em Giverny. Esse mesmo tempo pode ser dividido em dois períodos diferentes. Até aqui, até ao início dos anos 90 Robinson pintou sobretudo com pincelada pesada, redonda e breve, ao estilo de Pissaro. Mas a partir daqui a pincelada tornou-se mais leve e luminosa. Ora aqui ele ainda parece trabalhar quase manchas de cor, como podemos ver na água (a verde e roxo), no canto inferior direito. Mas em pequenos apontamentos o pintor tenta soltar a pintura e aplicá-la mais amiúde, mais solta e salpicada. A paleta é, na minha opinião, aquilo que mais limita o quadro. Há uma distância que procuramos ter com o quadro; não sentimos uma empatia imediata, talvez pela mancha branca dos barcos em contraste com a água bastante escura. se a água reflete o céu, então existe neste quadro uma discrepância entre um céu carregado e um dia tão iluminado como nos faz crer a luz presente no barco. é pelo menos o que eu acho, mas tendo em conta que não é um autor muito conhecido, corro o risco de estar a fazer uma análise que sirva uma ideia minha que é a que o Impressionismo francês é o melhor. Talvez não seja, mas parece. Também convém referir que segundo aquilo que penso, mesmo o pior Robinson pode ser melhor que o melhor Renoir!
Theodore Robinson
Two girls in a boat
1890


Theodore Robinson
Two girls in a boat
1891
The Phillips Collection, Washington
não sei o que se passa. já não tenho uma noite de sono sem interrupções desde 2004. lembro-me dela: foi em casa da Miriam, em Lisboa. e quando não me atacam as insónias, o sono superficial, ataca-me uma vontade de dormir para sempre. Acordo de manhã e o meu primeiro pensamento é: "quando é que me volto a deitar?". As manhãs são tenebrosas e nem é porque tenha sono... é só mesmo porque não tenho vontade de me levantar. se pudesse passava o dia, e os dias inteiros na cama, a dormir ou apenas com os olhos fechados. de manhã sinto uma dor física, sinto vontade de morrer, mas morrer com um cobertor e uma almofada. não tenho vontade de postar, de escrever, de ir às aulas, de fazer os trabalhos, de estar com os amigos. cada tarefa, mesmo as que antes gostava, é um trabalho, uma obrigação que não vejo a hora de acabar.
- o carteiro -

originalidade a todo o custo

os humanos de hoje são herdeiros diretos da revolução Francesa e das Luzes. Descobriram a subjectividade e por consequência, o seu estatuto privilegiado que atenua as diferenças entre pessoas, bem como transforma cada uma delas em pequenos VIP no seu microcosmos. Por fim, o homem vindo da revolução francesa sentiu finalmente a força para rejeitar Deus. Com isto porém, e sem Deus para explicar o inexplicável, o homem sentiu-se sozinho no Universo, necessitando então de acreditar em algo. Foi então que começou a acreditar na cultura e foi igualmente a partir daí que se tornou individualista. Até às Luzes, a vida em si, o mundo tinha profundidade metafísica. As Luzes vieram relativizar tudo isso e coube portanto ao homem atribuir significado e valor às coisas como por exemplo, a arte (foi aqui que se desenvolveu, e muito, o turismo, mas também as galerias de arte, os museus e a literatura de viagem).

Estamos hoje mais do que nunca relacionados uns com os outros, temos acesso a informação como nunca antes e um novo mundo se forma todos os dias ante os nossos olhos. Hoje cada um de nós tem as ferramentas para criar: a criatividade é uma forma de vida da atualidade. Vivemos no auge do mundo individualizado, a fronteira entre criadores e consumidores é cada vez mais esbatida e a criatividade é hoje a qualidade individual mais apreciada - e sobreestimada! É esta a razão para o culto do artista. Mas neste mundo cada vez mais povoado, não basta ser um bom artista; é necessário ser o melhor de todos. Porquê? Porque foi sempre assim. Desde que começamos a colaborar em pequenos grupos e percebemos que uns eram melhores que outros em determinada tarefa, esta posição passou a ser invejada. Porém, num contexto mundial de 7 biliões de seres humanos, ser o melhor é cada vez mais difícil e mais ambicionado já que ser o melhor significa pertencer a uma percentagem muito pequena, uma elite. Mas com um mundo cada vez mais global, ser o melhor pode passar por obter um conhecimento privilegiado, que não esteja ao alcance de muitos, já que a aquisição de know-how nos torna a todos muito semelhantes. É por isso que hoje, e cada vez mais, as diferenças que separam os melhores dos outros que lhes ficam imediatamente atrás são cada vez mais pequenas. O mesmo acontece na arte: as pequenas diferenças que demarcam um de outro artista, potenciam a importância do artista. O que não quer dizer que a importância que é dada ao artista seja sinónimo de qualidade na sua obra! E como é que a cultura; ou seja, nós, conseguimos distinguir o melhor? O melhor de hoje em dia é aquele que apresenta obras mais diferenciadas e acessíveis. Mas como distingui-lo entre os outros se cada vez temos mais solicitações visuais? Temos cada vez mais museus, exposições, artistas... e estes já não se debruçam sobre questões fundamentais. Os artistas de hoje criam para um estereótipo que não é apenas a pessoa que vê, mas também, e sobretudo, a pessoa que compra, através de uma linguagem própria: tem de parecer arte, tem de ser palpável e única, tem de ser legitimada pelas exposições (mas também por instituições como os bancos), tem de ser previsível e coerente de forma a criar um estilo. mas também tem de ser autêntico e original e aqui é que começam os problemas pois isso implica uma sobrevalorização da originalidade o que por seu turno leva a uma corrida em busca da novidade e por vezes, à deglutição do novo sem qualquer digestão ou pensamento crítico acerca do mesmo. acredita-se que o que os artistas fazem é cultura, mas tudo é cultura, esteja numa tela, numa pedra ou num bit, sejam passarinhos a cantar dentro de gaiolas douradas ou uma senhora a vomitar uma pizza.

hoje não conseguimos explicar uma obra de arte presente num museu sem lermos o que está escrito na legenda. com sorte não encontramos lá um "sem título". isto é quase como se um artista tivesse escrito um romance e depois um outro livro a explicar o sentido do romance. o mesmo se passa nas exposições: as exposições são livros que explicam ao observador o que o artista quis dizer. Nem sempre foi assim, só a partir dos anos 70, quando o conceptualismo e o academismo deram as mãos. isto fez com que as obras de arte fossem descritivas, narrativas e agradáveis, acessíveis; ou seja, era necessário vestir as ideias (os bonecos do kons, o tricot da vasconcelos... são isso mesmo: vestir de forma atraente uma ideia). o artista de hoje veste ideias e as exposições são desfiles de moda, onde o mais bem vestido é também o mais vestido, o que tem e transmite muitas ideias, o que é universal e ambíguo, isto porque o artista de hoje não quer que se pense que não tem ideias. por isso sobrecarrega-nos de coisas: ao dizer tudo o artista não está a dizer nada definitivo e por isso continua a ter a atenção de todos. no fim, o que nós temos é um cabide cheio de metáforas e formas de representar a ideia, mas já não temos a ideia em si! Este não comprometimento do artista prende-se com a sua necessidade de ser amado e admirado. Mas o que acontece é que estamos no mesmo sítio: começámos por explorar a arte numa direção, voltámos atrás e estudámos outros caminhos, mas agora já demos a volta e não sabemos mais que ideia é importante, o que é que é importante para a arte. Não vamos nunca voltar a fazer arte pelo amor à arte, nem sei se isso alguma vez aconteceu. como em tudo é necessário moderação, mas podemos ser mais honestos, não esperar reconhecimento ou pagamento, parar de tentar agradar a todos e acima de tudo, seleccionar. lá porque sai da nossa cabeça, não quer dizer que seja bom. o cabelo também sai da nossa cabeça...

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

33

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

- original soundtrack -

Another bride Another June
Another sunny honey moon
another season, another reason
for makin' whoopie

Alot of shoes, alot of rice
the groom is nervous. he answers twice
its so Killin that he's so willin'
To make whoopee

Picture a little love nest
down where the roses cling
picture the same sweet love nest
Think what a year can bring

He's washing dishes and baby cloths
He's so ambitious he even sows
but don't forget folks thats what you get folks
for makin' whoopee

Another year or maybe less
what's this I hear? Well you can't you guess
She feels neglected and he's suspected
of makin' whoopee

She sits alone most every night
He doesn't phone her he doesn't write
he says he's busy but she say's "is he?"
He's makin' whoopee

He doesn't make much money
only five thousand per
some judge who thinks he's funny
says you'll pay six to her

he says now judge suppose i fail
the judge says budge right into jail
you better keep her i think it's cheeper
then makeing whoopee

you better keep her
I know it's cheaper than makin' whoopee

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou eu bem sei Hassam o que é um tipo ser o segundo. o segundo é aquele que não ganhou ao primeiro. nunca ninguém se lembra do segundo e é por isso - e por causa da forte tradição europeia na arte (afinal era aqui se se situava a República das letras) - que tu és o segundo e o Caillebotte é o primeiro. Não te inibas Hassam, porque nem sempre quem chega em primeiro é o melhor. Neste caso o Caillebotte tem uma evidente vantagem: a perspetiva com dois pontos de fuga, pois tu aplica-la também, e igualmente com um edifício a servir de charneira. a tua visão da avenida é igual à dele; ou melhor, digamos que tu te serves do mesmo mote que ele para pintar este tipo de perspetiva. desconheço se foi propositado ou não, mas acredito que no vosso microcosmos artístico (hoje seria impossível) a cópia fosse ainda um sinal de admiração pelo original. tudo acontecia num ambiente de grande camaradagem e partilha porque de facto o vosso mundo era pequeno. hoje, com a transformação do conceito espácio-temporal, tudo está ligado, mesmo o que não está, e a noção de cópia é insuportável para quem copia. antes achava-se que Deus estava sozinho no céu porque ninguém estava ao nível dele. hoje achamos que toda a gente está no céu porque nos achamos todos divinos e especiais. o que é uma mentira, deixa-me dizer-te. o que não quer dizer que não admire a forma como retratas um dia de chuva que tenho a certeza, ser muito diferente em Boston e em Paris. Se o Caillebotte não fosse francês, eu diria que era inglês por causa do tom azul-cinza do ambiente. Como nunca fui a Boston, acredito no teu retrato climatérico. Até gosto mais da tua pincelada difusa, com contornos menos nítidos pois é assim que se vê através da chuva. É não só uma pintura de um dia de chuva como uma pintura com chuva, como se tivesses pintado e depois, ao vires embora com o quadro, o pingo grosso de uma caleira tivesse aterrado na pintura. Mas sabes o que é? É que eu pelo-me pela forma como o Caillebotte pinta a água entre as pedras da calçada...

Gustave Caillebotte
Paris: a rainy day
1876-1877
Art Institute of Chicago


Childe Hassam
Rainy day, Columbus Avenue, Boston
1885
The Toledo Museum of Art
- o carteiro -

Van Gogh
Fifteen sunflowers in a vase
1888
National Gallery, Londres

quando a minha idade era outra que não esta eu achava que namorar devia ser muito "fixe". "fixe" era a palavra que o pessoal de 6, 7 anos que queria ser "fixe", usava na altura. eu nunca recebi uma carta de São Valentim, tanto que passei a ser daquelas miúdas que se juntavam aos rapazes que recebiam as ditas cartas, debruadas a rosa e com bolas e corações em vez de pinta sobre os "is", e ficava o tempo do recreio a gozar, a rir, a fazer desenhos maldosos nas palavras sentidas das pobres. e depois fazia o mesmo juntando-me às raparigas, desdenhando da falta de romantismo dos rapazes da primeira classe... tãããão imaturos! ainda pensei em juntar-me a mais meia-dúzia igual a mim e enviar cartas falsas tanto a rapazes como raparigas, mas a verdade é que esses rapazes e raparigas começaram a namorar uns com os outros. todo um vocabulário não propriamente novo, mas muito aliciante, estava disponível. "namorar" era "passar o recreio todo com", "dar a mão" era "um beijo", "um beijo" era "fazer sexo", "mostrar as cuecas atrás de um arbusto" era excomunhão e chamada do encarregado de educação à escola. para além da vergonha de muitas vezes não termos as cuecas mais sexys porque tinham sempre desenhos, ou risquinhas ou eram de cores berrantes como as cuecas da Barbie que se usavam muito. havia também um jogo que, às escondidas, as miúdas menos populares faziam. eu fazia, confesso. consistia em fazer um quadrado no centro do qual se escrevia a idade com que desejávamos casar. havia quem dissesse 18 anos. todas exclamávamos: "tão cedo?". e para mostrarmos que éramos muito mais independentes e que o amor era só uma parte da vida, escrevíamos no nosso jogo, "28". quem queria ser mesmo radical, escrevia "30", mas aí já ninguém ligava porque todas achávamos que aos 30 anos estaríamos mortas. em cima do quadrado, na parte exterior escrevíamos "1", "2" e "3" números estes que correspondiam ao número de filhos que desejávamos ter. desconhecíamos a esterilidade, a infertilidade e a opção de não ter filhos. afinal, nós éramos o resultado da opção contrária. do lado esquerdo do quadrado, exteriormente colocávamos três nomes que correspondiam a três pessoas com quem desejávamos casar. Essas pessoas tinham sempre entre 6 anos (ai ai... os rapazes imaturos), e 28 anos (ai ai... o George Michael...). do lado direito ficavam os nomes de três locais onde gostaríamos de passar a lua de mel. eu escrevia sempre egipto e madrid porque gostava das consoantes mudas e rematava por vezes com um lugar exótico: caraíbas. que eu não sabia onde ficavam. também dizia Taiti, porque a Barbará tinha um gel duche com embalagem paralelepípedica que se chamava Taiti-com monoi. Em nunca dizia "passa-me o Taiti" dizia "passa-me o Taiti Comónoi". Não me lembro do que me calhava, mas acho que saía satisfeita. depois amarfanhava a folha para a minha mãe não ver. sentia que lhe fazia uma traição e acima de tudo, que traía deus. mais tarde, já com 15 (ai ai, as raparigas imaturas...) fazíamos um outro jogo: escrevíamos o nome dele seguido de "love" seguido do nosso nome. Depois contávamos as vezes que apareciam as letras. passo a exemplificar: Maria love João= 131113111. depois somávamos os números dos extremos, o que segundo o exemplo dava 24241. novamente: 382 e por fim: 58. neste caso a Maria gostava do João 58%. era ver darmos pulos de alegria quando a percentagem chegava perto dos 100%, no liceu, cá fora, frente às salas de aula dos outros. quando não dava, era o jogo que estava errado. por causa disso, por fazermos barulho frente às janelas das salas de aula dos outros e por darmos beijos na boca umas às outras, diziam cobras e lagartos de nós, mas éramos tão inocentes!!! no fundo acreditávamos que o jogo do quadrado e todos os outros jogos que nos preconizavam uma vida amorosa plena de alegrias eram a mais pura verdade, mesmo que não existisse mais o Taiti.
- não vai mais vinho para essa mesa -




sexta-feira, fevereiro 03, 2012

- original soundtrack -

bem, eu não percebo muito de música, por isso se me quiserem "tagar" por causa deste post, estão à vontade. o que tenho a dizer em minha defesa é que gostei da música (é cá um parasita!) e gostei dela. ouvi dizer que é "the next big thing". não sei, nem sei como é que se pode classificar esta música cheia de palavrões, mas gostei.
(212, Azealia Banks)
- não vai mais vinho para essa mesa -

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou como sempre que escrevo o título destes posts acho que devia mudar o aspeto do Belogue. mas em equipa que ganha (?!) não se mexe. bem, vamos ao que interessa. ainda que achem que uma imagem não tem nada a ver com a outra, reparem bem nos gestos da primeira e segunda personagens do friso egípcio e comparem com a pintura de Gauguin. o nome original do quadro é Ta Maatete que quer dizer qualquer coisa como "hoje iremos ao mercado" (gente parca em palavras). o melhor é que ele usa como modelo uma cultura muito afastada dele (ele tomou contacto com o friso no British Museum) para aplicar em outra cultura que também estava afastada dele, embora ele de facto vivesse lá, no Taiti. isto de usar outra cultura tem o que se lhe diga. é que o Taiti não tinha, segundo Gauguin, uma tradição artística e por isso o pintor usou a civilização egípcia. porquê a egípcia? porque achava-se que a polinésia tinha alguma relação com o egipto já que na na altura em que se assistiu à hegemonia deste povo, foi também quando se assistiu à hegemonia dos peles-vermelhas dos quais os taitianos eram oriundos. esta é uma das poucas pinturas relativas a este período em que Gauguin refere a realidade social da vida do Taiti. deste período vemos muitas mulheres deitadas, padres a tentar evangelizar as gentes, mas pouco sobre a sobre a vida em sociedade.

As pinturas murais do túmulo do nobre Nebamun são anteriores a Amenhotep III, que deu o grande impulso ao monoteísmo egípcio e fez florescer uma nova forma de fazer arte, muito mais humana e natural. Aqui não se nota, mas a figura feminina que em pé serve a primeira figura feminina sentada, apesar de manter o modelo representativo do corpo frontal e a cabeça de perfil, tem já um ventre muito redondo, anunciando já o humanismo, mas também a estilização do reinado de Amenhotep.
Capela tumular de Nebamun
1350 a.C.
British Museum, Londres


Paul Gauguin
Market Day
1892
Kunstmuseum, Basileia
- o carteiro -

paulo deu pra mim. eu tenho, você não tem...
- o carteiro -

e hoje, algo completamente diferente: retrato.

nunca liguei muito a retrato. achava que era só isso: a cara/corpo de alguém, e até uma demonstração de algum narcisismo por parte do retratado. nunca compreendi aquelas pessoas que iam de férias para albufeira ou para barcelona e pagavam para se verem retratadas. mas desde que comecei a estudar retrato reparei em outras coisas. neste retrato de ostentação, isolado, a 3/4 e de pé, o rei mostra-se em toda a sua força e graciosidade, apesar de aqui já possuir mais de 60 anos, o que naquela altura deveria ser muito. obviamente não teria o cabelo preto retinto. a cabeleira também faz parte do figurino e contribui para o aparato. Mais, Luís XIV posa como se estivesse a fazer uma dança, o que no seu caso não é para admirar já que ele era um fervoroso amante de dança. aliás, o rei movia-se como numa dança. todo o cenário mostra o seu poder real, cenário esse que se encontra mesmo montado. vemos uma coluna semi-escondida no veludo vermelho pesado, um pedestal onde a cena se desenvolve e tudo isto coberto por ricos tecidos. o veludo é preso com cordão e borlas douradas e a coroa repousa num pequeno banco. já tínhamos visto aqui no belogue que as coroas nunca são usadas a não ser no momento da coroação. no caso português encontram-se sobre um banco porque não pertencem ao rei, pertencem a nossa senhora da conceição desde 1640, mais ou menos. para além disto o que quero mostrar aqui são três singelos aspetos: a mão da justiça, os estofos e o avesso do seu manto real coberto de arminho. quanto à mão... a mão, encontra-se pousada no mesmo banco onde está a coroa. vemo-la com dois dedos esticados. sei que foi adoptada por Carlos Magno, diz-se que lhe pertencia, mas lembra-me e muito a mão de um clérigo na bênção. segue-se o tecido azul com estampado a dourado. o que está estampado são as flores de lis, símbolo da França e dos bourbon. os lírios eram, na antiguidade, as flores que tinham surgido do leite derramado do seio de juno quando esta dava de mamar a hércules (que ainda por cima era filho do marido com alcmena). é também símbolo de pureza e castidade na iconografia religiosa (que terei de fazer próximo semestre. a propósito, não sei se fica muito bem dizer isto aqui, mas como está no meio de muitas letras talvez ninguém repare: tirei 18 a história da arte e civilizações do mundo antigo. poderia ter tirado mais, mas o trabalho correu-me mal). segue-se o manto com o forro em arminho. arminho é uma espécie de doninha, mas de maior porte de com cauda mais comprida e negra na ponta. no inverno muda o pêlo para branco. aquilo que vemos no avesso do manto, aqueles pontinhos a branco são a cauda de arminho. cada ponto é um arminho morto. ora o arminho era símbolo de incorruptibilidade e por isso uma pele que quase ninguém na classe política nacional poderia usar! agora a sério. o arminho é um animal especial que representa a a pureza e a contenção: só comia uma vez por dia. para além disso os caçadores sujavam com lama a entrada da sua toca. como o animal preferia morrer a sujar-se na lama, acabou por se tornar símbolo da pureza e da castidade

Hyacinthe Rigaud
Luís XIV, rei de França
1701
Museu do Louvre. Paris