quinta-feira, julho 21, 2011

- original soundtrack -
ainda que vos pareça piegas e pouco edgy, por favor respeitem. a letra diz-me muito
Turn down the lights, turn down the bed
Turn down these voices inside my head
Lay down with me, tell me no lies
Just hold me close, don't patronize
Don't patronize me

'Cause I can't make you love me If you don't
You can't make your heart feel something it won't
Here in the dark in these final hours
I will lay down my heart, and I'll feel the power
But you won't, no you won't
And I can't make you love me
If you don't

I'll close my eyes and then I won't see
The love you do not feel, when you're holding me
Morning will come, and I'll do what's right
Just give me till then, to give up this fight
And I will give up this fight

And I can't make you love me if you don't
You can't make your heart feel something it won't
And here in the dark in these final hours
I will lay down my heart and I'll feel the power
But you won't, no, you won't
And I can't make you love me
If you don't

Ain't no use in you trying
It's no good for me baby without love
All my tears, all these years, everything I believed in
Baby
Oh yeah
Someone's gonna love me

(I can't make you love me, versão de Bon Iver, até aos 5 minutos e 20 segundos)
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "mais uma voltinha, mais uma viagem. de carro porque os saltos dos Laboutin não podem ser usados em calçada portuguesa". quando soube que este quadro era de uma pintora e não do Jacques-Louis David, fiquei admirada. tinha mesmo todo o ar de ser dele, mas enfim, é de uma seguidora. foi apresentado no salão de 1800 e ao que parece o público e os críticos gostaram muito. quer dizer, nem todos os críticos. houve um que ficou chocado pelo facto de uma mão branca ter pintado uma coisa preta. ele disse mesmo "such a horror...". de facto, este é um dos poucos quadros do Louvre que apresenta como personagem principal (é aliás um retrato) uma pessoa negra. ainda que a revolução francesa permitisse igualdade, a mesma não chegava a mulheres e negras ainda por cima. se bem que eu ache que a pintora fez um bom trabalho, já que este retrato nada deve a outros anteriores, de mulheres com parte do corpo à mostra. não acho que seja ofensivo. há no entanto pormenores que nos deixam com a pulga atrás da orelha (salvo seja): o tecido que cobre a cabeça é o mesmo que descobre o corpo e a cadeira onde a moça está sentada é do ancien régime. não sei... não fosse o autor uma mulher e eu diria que isto era obra de esclavagista que dormia com a escrava. mas isto já sou eu a inventar. seja como for, mais do que o retrato de uma mulher negra, este é um dos retratos da escravatura da época. quanto ao sapatinho... a modelo parece muito a beyonce sem pinturas se bem que aquelas mamocas estão mais espevitadas que as da beyonce:
Benoist
Portrait of a Negress
1800
Musée du Louvre, Paris


Laboutin
Colecção Outono/Inverno 2011

- o carteiro -

o sapateiro a subir acima da chinela...

A cidade islâmica, baseada na religião e na importância da vida privada, tem uma configuração diferente das restantes cidades, exactamente pela influência da religião. Para além desta fonte existe a Sunnah que pode conter ou não palavras de Alá, mas que compila o conjunto de ditos e feitos do profeta (a Sunnah está subdividida), a Charia (ou “via a seguir” que reúne todas as regras para o homem islâmico viver em sociedade), Caso não seja possível encontrar resposta para as questões islâmicas nestas fontes, recorre-se à Fiqh (parte jurídica propriamente dita e que foi elaborada por quatro escolas sunitas. Os sunitas correspondem a 90% da população islâmica no mundo).


No capítulo 49, versículos 4 e 5 do Corão encontramos a primeira referência quanto à primazia dada à intimidade. Diz o Corão: “Os que te chamam de fora dos aposentos, na sua maioria não discorrem. Se tivessem paciência até que saísses ao seu encontro melhor seria para eles. Deus é indulgente, misericordioso.” Vemos por esta citação que a cidade muçulmana é bem diferente da cidade clássica já que ao contrário desta não é formada pelos seus cidadãos, mas sim pelos seus crentes. Embora na Antiguidade os cidadãos praticassem a mesma religião, a razão principal que fazia deles daquela cidade não era a religião, mas sim a condição de cidadãos. No Islão, o cidadão é aquele que pratica o islamismo. Tentemos pensar como seria se em Londres por exemplo, apenas pudesse votar, trabalhar, contrair matrimónio quem praticasse o Anglicanismo. Em seguida esta citação mostra-nos como é importante para o Islão a questão da privacidade e como esta está separada da vida em comunidade, de tal forma que os muçulmanos se opõem de forma feroz à possibilidade de a mesma ser corrompida. Lá, a vida privada nem sequer é doméstica pois para ser doméstica era necessário que a casa pudesse ser usufruída e isso raramente acontece. Mesmo nos pátios interiores os momentos livres e de lazer são para ser vividos em espiritualidade. Desta forma o espaço da casa islâmica é um espaço fechado ao exterior (com determinadas relações métricas entre alturas de janelas, ruas e portas) no qual apenas penetra quem é convidado a tal. O espaço fechado tem também uma explicação espiritual já que permite criar uma abertura vertical, individual e direccionada ao divino que a abertura horizontal não permite. É praticamente impossível espreitar para o interior de uma destas casas e as fachadas despojadas tornam difícil qualquer conjectura acerca da natureza do seu dono. Mas é porém possível ver em que bairros e residências vivem muçulmanos e não muçulmanos já que o traçado das habitações é diferente. A religião que congrega os muçulmanos é também aquela que os separa dos outros pois as práticas civis destes são incompatíveis com a arquitectura religiosa dos primeiros. E note-se aqui que toda a arquitectura da cidade islâmica é religiosa, mesmo quando não aplicada a edifícios de culto. O cuidado com a intimidade e com a necessidade de mantê-la assim, íntima, faz com que a comunidade muçulmana tenha criado um código restrito nas relações humanas. Este cuidado é tão importante que condicionou o aspecto da cidade islâmica principalmente no que concerne à altura dos edifícios, às dimensões das aberturas (janelas e portas), à colocação das mesmas e à proibição de abrir janelas para a rua principal.

“Não sereis recriminados se entrardes em casas desabitadas que tenham alguma utilidade para vós; Deus sabe tanto o que manifestais como o que ocultais.” (capítulo 24, versículo 29) Embora esta regra islâmica presente no Corão não diga respeito aos direitos de propriedade, mas sim à questão da privacidade, podemos estabelecer uma relação com a primeira. Como vimos a casa islâmica é uma casa fechada ao exterior, com portas colocadas de forma assimétrica entre si para que quem fosse a sair de uma casa não pudesse ver o interior da habitação em frente da sua. No entanto estas fortalezas escondiam, em muitos casos o poder económico de quem neles habitava. Mostrar esse poder porém seria um desafio à igualdade defendida pela lei islâmica que não concebe a execução de uma fachada sumptuosa na rua ou na praça pública, se isso for sinónimo de exibição de riqueza e desrespeito pela condição menos afortunada dos outros irmãos. A fachada da casa é na verdade a fachada interior que se vira para um pátio do proprietário da habitação e que serve para contemplação do mesmo. Para os muçulmanos, e segundo a Fiqh, ter uma casa espaçosa era uma das condições para ser feliz.

No capítulo 3, versículo 96 do Corão deparamo-nos com o seguinte: “Realmente o primeiro templo que se fundou para homens é o que está em Beca, templo bendito e guia dos mundos.” Se tivermos em linha de conta que o termo Beca tem o mesmo significado que Makka ou Caaba, vemos que na realidade este versículo se refere ao local reverenciado pelos muçulmanos em Meca. A fundação do mesmo remonta a Abraão e mostra que na ali qualquer fiel está seguro. Desta forma, quem está em sua casa também está seguro, mesmo em tempos mais conturbados. No entanto a Fiqh alerta-nos para a necessidade de proteger a habitação. Como deverá a mesma ser feita? Segundo estes escritos, e não obstante o cão ser um animal sujo para o Islão, o mesmo poderá guardar uma casa desde que não entre dentro desta nem em contacto com roupas ou utensílios dos humanos que ali habitam.

No que diz respeito à rua, a lei islâmica separa a rua enquanto local de trânsito, a rua enquanto caminho para os transeuntes, o adarve que é para alguns juristas islâmicos um local de carácter quase semi-privado ou até a finá, um local em redor de uma propriedade que seria parte da mesma. A lei islâmica era bastante tolerante relativamente à finá, mas no que concerne às ruas propriamente ditas, não. Aliás, em relação à propriedade privada o Islão determina isso, conforme podemos ler no capítulo 2, versículo 188 do Corão que diz o seguinte: Não consumais as vossas propriedades em vaidades, nem as useis para subornar os juízes, a fim de vos apropriardes ilegalmente, com conhecimento, de algo dos bens alheios.” Estas ruas estavam bem separadas e a sua propriedade, não obstante o nome, era bem definida. E acresce-se o facto de em caso de construção, mesmo que mínima na finá, a Fiqh poder determinar a demolição do construído. Num dos escritos que chegaram até nós o profeta refere mesmo qual deve ser a largura das ruas: “quando as pessoas disputam a largura das ruas o seu limite deve ser de 7 cúbitos”. A finá, segundo os juristas, era o espaço em redor de por exemplo a porta de uma casa e que não devia ser mais de metade da largura da rua, embora no caso dos becos fosse possível estender a esse espaço frente à casa por toda a largura da rua. Como vemos os proprietários da zona junto aos becos tinham mais liberdade do que os outros e usavam-nos como espaço privado e comunitário razão pela qual abundam nos bairros islâmicos.

Em termos urbanos, o Islão prende-se com questões que o Ocidente considera menores, mas todas elas se encontram fundamentadas no mesmo princípio: nada do que for feito na cidade islâmica pode ou deve causar dano seja a quem for. A vontade e a necessidade de uns nunca se pode sobrepor à privacidade de um que seja. Ainda relativamente às ruas, mas já a entrar no domínio da construção da casa propriamente dita e as suas condicionantes, temos de referir a existência de parapeitos que podiam, porém não deviam, condicionar a passagem de pessoas, animais e bens nas ruas. A lei islâmica refere mesmo que a altura do chão até ao parapeito de uma casa deve ser a suficiente para alguém montado num animal de carga possa circular, sem ter acesso a uma visão do interior da habitação, mas também sem ser impedido da sua passagem. No interior a janela tinha de possuir cerca de 2,50m de altura, para que uma pessoa com cerca de 1,60m em cima de uma cama ou cadeira não pudesse ser vista. Da mesma forma não se pode impedir o muezim de subir ao minarete, mas se para alguém, esta condição que permite ao muezim subir ao minarete e olhar – até mesmo para o interior – das casas em redor, então esta pessoa devia ser impedida de tal pois podia importunar quem perto dali vivesse. A propriedade privada (caso dos pátios no topo das casas, desprotegidos e à vista de todos) poderia impor-se ao direito público à intimidade. Muitos destes pátios são usados pela comunidade muçulmana para passar a noite em períodos de maior calor, já que o interior das casas se encontra muito quente. O muro que protege estes espaços deveria ter, segundo os juristas, cerca de sete palmos de altura, para que o transeunte não tivesse acesso visual ao que ali se passava.

Os governantes dos diferentes países e reinos do Islão decidiram que as portas deveria estar posicionadas de forma desencontrada, para que assim duas pessoas que abrissem a porta de casa, quer para entrar quer para sair, não pudessem ver o que se passava no interior da habitação vizinha. Segundo a mesma fonte as portas deveriam estar desencontradas cerca de 1 ou 2 cúbitos entre si.

- o carteiro -

é sempre difícil fazer uma crítica ao trabalho dos outros porque independentemente da avaliação, há o esforço de pessoas envolvidas no mesmo. para além disso, não podemos simplesmente destruir ou aprovar algo pelo sistema romano (agora também faceboquiano) de polegar para cima ou polegar para baixo. é também verdade que para o MIF e para a Marina Abramovich em concreto é indiferente o que eu acho, até porque as pessoas não têm sempre de achar coisas e porque, na maior parte das vezes, para falar a verdade, nenhum de nós acha nada; finge que acha.

The Life and Death of Marina Abramovich partiu de um telefonema dela para Robert Wilson a convidá-lo para este encenar a sua morte, ao que ele acedeu, mas na condição de encenar também a vida. Segundo a artista a morte será a derradeira performance, aquela em que não um, mas três caixões descerão à terra, em três cidades do mundo, à mesma hora. Só um conterá os seus restos mortais e tal como em "Todos os Nomes" de Saramago, será um pouco difícil descobrir se a última homenagem estará a ser prestada à artista ao a um caixão vazio. Logo no início há a alusão a essa performance, com os três caixões no palco e neles três figuras com máscara igual. Cães negros (talvez doberman) andam à volta dos caixões, aludindo assim a uma outra performance da artista.
A partir daí a vida de Marina Abramovich vai ser contada através de histórias sobre a própria vida, histórias estas que surgiram aquando dos encontros entre Marina e Robert Wilson. Distribuem-se por... ora bem... por 13 partes? Parecem-me 13 a contar aqui pelo programa que divide estas 13 partes em 4. Sendo que a primeira é o prólogo e a última o epílogo, sobram 11 e dessas 11, só 8 são para o início da vida da artista. E esse era o grande problema deste espectáculo. Enfatiza-se, tal como num filme de Hollywood, que o patinho feio - Marina Abramovic tinha grandes complexos pelo tamanho do seu nariz que é de facto... grande - dá origem a um cisne. Neste caso, a menina feia e complexada, que nasceu em Belgrado durante o Comunismo deu origem à grande artista que este século idolatra. Acresce-se a isto a relação conflituosa com a mãe, uma mulher com pulso de ferro, dominadora e que condicionou, segundo o espectáculo, a carreira da filha. Há nisto alguns problemas. O primeiro, o facto de colocar o ênfase, o leitmotif da sua criação numa infância e adolescência difíceis, que não deixa de ser um paradigma muito Romântico. Depois, ocupa mais de metade do espectáculo com episódios, que não são contados por ordem cronológica, episódios esses que se centram na vida da pessoa, sem abordarem nada acerca da sua obra. Por fim, numa opção que pode ser considerada um pouco narcísica, apresenta Marina Abramovic como a vítima de um destino demasiado cruel, destino esse que a santifica. Isto acontece na cena final com três corpos em cruz, elevados no palco, sendo que os mesmos se encontram cobertos com máscaras iguais, naquilo que me pareceu ser uma analogia com a performance da sua própria morte e até - mas isto sou eu a pensar - com a crucificação de Cristo, ladeado pelos dois bandidos. A artista aparece como mãe e como Marina, mas sempre numa atitude de diva (talvez para combinar com a exposição que decorria também naquele espaço, mas em sala anexa, intitulado "Warhol and the Diva"). A sua carreira apenas é referida no final, rapidamente por Willem Dafoe, o narrador magistral, um pouco Joker, que vai contando ao longo de cerca de 3 horas, estes episódios. Os mesmos são por vezes contados com o recurso a repetições ou adaptações das performances passadas de Abramovic, como aconteceu com o caso da cobra, do diálogo entre ela e Dafoe, o banho da caveira... Sei que estas palavras "magistral", "fantástico", "espectacular" são hoje em dia repetidas sem grande sentido, já que tudo é "esplêndido". No entanto, se tivesse que atribuir todos estes títulos a alguém, fazia-o a Anthony Hegarty, da banda Anthony and de Johnsons, a única pessoa que fez os espectadores (pelo menos eu), levantar no momento do aplauso final. Acho que hoje em dia se banaliza muito a ovação, mas se calhar é uma coisa minha.


O que aqui em cima foi dito, pode ser rebatido e por isso, antes que alguém comece a dizer que estou a ser parcial, há que referir que de facto era propositadamente um espectáculo elitista e digo-o no melhor sentido. O local era muito afastado do centro, o bilhete era caro (convertido em euros, ainda era um bocadinho, mas quer dizer... às vezes dão-se esses preços por festivais, por isso... não sei) e o espectáculo era apenas acessível, no que diz respeito à sua compreensão, por quem já seguia a vida e obra de Abramovic. Mais a obra que a vida e talvez por isso a obra tenha sido tão pouco referida. A razão pela qual chamo espectáculo é porque foi de facto um espectáculo: a nível visual foi perfeito, com muita imaginação, som potente, figurinos e efeitos visuais excelentes, dicção de Dafoe muito engraçada porém compreensível e até, com alguma ironia que talvez servisse para exorcizar os fantasmas da infância (com repercussões na vida adulta) que assombraram a artista. Houve também a criação/adaptação à cena de alguns quadros expressionistas (de Otto Dix, pelo menos). Porém... e há aqui não um, mas dois porém... foi um espectáculo, com tudo o que isso tem de bom e de mau. Era comercial (custou aliás uma fortuna, o que é de admirar para uma artista que é tão conscienciosa quanto à exploração comercial da arte) e era explosivo, para encher o olho. Não estou com isto a dizer que era desprovido de conteúdo e se calhar até era tão elitista que podia brincar com o valor da encomenda, mas mesmo assim, não deixei de pensar que estava num cabaret. Por fim, coloquei-me outra questão. Supostamente a performance é irrepetível, mas estes espectáculos, que contavam com a artista, eram em si uma performance... que se repetiu por vários dias. E é isso que é contraditório. Nem em "A artista está presente" a performance se repetiu, já que cada dia e hora era diferente da anterior.

Honestamente, o melhor espectáculo que vi foi mesmo Amadou et Mariam e até arrisco dizer que foi o melhor espectáculo que vi até hoje. Mas depois falo mais dele.
- o carteiro -

guess the google ou "eh pá, vocês querendo alguma coisa, é só falar comigo"
os Gray voltaram ou "mas quem é que quer saber disso?"
yo girls (and boys) ou "pimp my face"
uma Apple Stoer ou uma Aple Stor ou uma Apple Setore "made in China?"
Spike Jonze+Beastie Boys+Santigold=No Play no Game That I Can't Win
percebi hoje, ao ver o meu avô deitado na urna, muito apertado tanto na altura quanto na largura que não me interessa o que façam por mim quando eu morrer. interessa-me aquilo que eu fiz por mim. sem cenas new age, nem pieguices. o que eu tenho é a minha cabeça.

quarta-feira, julho 13, 2011

bem... vou indo

quinta-feira, julho 07, 2011

tomarei mais meio comprimido para adormecer rapidamente. para não dar tempo do coração bater no colchão e ecoar pelo quarto. uma lágrima atravessará o rosto na diagonal e outra também, até adormecer de cansaço. sei, porque todas as noites é assim.

domingo, julho 03, 2011

fuck. rios, rios...