segunda-feira, maio 02, 2011

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "como este antes e depois, com jeito é um "ao mesmo tempo". O primeiro quadro (painel para ser mais correcto) é de Leonardo da Vinci que o pintou por volta de 1483. o segundo é de Bernardino Luini, um autor menos conhecido que pintou esta Santa Catarina de Siena no início do século XVI. Com jeito, quase teriam pintado as obras ao mesmo tempo, mas visto Luini ser menos conhecido que Leonardo - e o seu trabalho padecer de algumas falhas anatómicas - não dou o benefício da dúvida a Luini e digo que o antes é de Leonardo e o depois de Bernardino Luini. Antes de trabalhar na corte dos Sforza, Leonardo recebeu uma encomenda de uma irmandade que lhe pediu, uma obra para o altar da recém construída capela consagrada à Imaculada Conceição. Esta obra tapava a imagem da Imaculada Concepção durante todo o ano e só era afastada no dia 8 de Dezembro, dia desta celebração. Esta irmandade invocava Cristo, a Virgem e São João Baptista como protectores. Ora o mais estranho nesta representação não é a relação que as personagens têm entre si, mas sim o facto de ela ser pintada uma vez que esta cena, a cena do encontro entre a Virgem, o Menino e São João Baptista não se encontrar nem na Bíblia nem em nenhum dos escritos ditos canónicos. Encontra-se, isso sim nos escritos apócrifos, mas esses não deviam contar para a irmandade em questão. Não sei se foi por isso se por outras razões, Leonardo viu-se e desejou-se para que a irmandade pagasse o trabalho. Existem duas versões deste quadro e com algumas diferenças as duas mostram o seguinte: Maria ajoelhada junto de São João Baptista, Jesus e o anjo Uriel, anjo que foi o mensageiro da Anunciação. Maria pousa os olhos, uma das mãos, e o grande manto azul nos ombros de São João Baptista que com uma das mãos benze o Menino que por sua vez o benze e é amparado por uma das mãos de Uriel que com a outra aponta para São João Baptista. O facto de a cena se desenvolver numa gruta pode ter um significado mariológico, já que por vezes Maria era comparada a uma montanha invicta que o Homem nunca tinha conseguido corromper. As alusões à sua virgindade chegam-nos do seu manto azul, da pedra do alfinete que o prende, da água e das já referidas montanhas. Nelas, só um lugar é seguro como a gruta: a crença em Cristo. Note-se que aqui, como em outras obras (como a Pietá de Miguel Ângelo, a Virgem surge com um rosto muito mais jovem do que aquele que na realidade, e segundo as escrituras, deveria ter).

A segunda pintura é de Bernardino Luini, ou pelo menos é-lhe atribuída segundo a National Gallery. Luini não é de facto um pintor muito dotado. Veja-se nesta pintura a mão que segura o livro, mão essa em que na passagem do polegar para o indicador o polegar parece outro dedo. Faz rodear Santa Catarina de dois anjos cujo sorriso não é bem conseguido: veja-se neste caso o sorriso mal esboçado do anjo que segura a roda de espinhos. Não parece o sorriso de um miúdo bolachudo que está a tramar alguma? Seja como for, e na minha opinião, os rostos de Santa Catarina e de Maria não podia ser mais semelhantes. Ainda que este fosse o ideal de beleza da época, não me lembro de nenhuma outra obra de outro pintor em que a expressão seja tão parecida com a da Virgem de Leonardo como esta Santa Catarina":

Leonardo da Vinci
Virgin of the Rocks (pormenor)
1483-86
Musée du Louvre, Paris



Bernardino Luini
Santa Catarina
Século XVI
National Gallery, Londres

1 Comments:

Blogger alma said...

vi uma exposição do arcimboldo e
alguns desenhos do Leonardo
e lembrei-me de si...

10/5/11 3:17 da tarde  

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