segunda-feira, fevereiro 28, 2011

- original soundtrack -

Say say my playmate
wont you lay hands on me
mirror my malady
transfer my tragedy

Got a curse i cannot lift
shines when the sunset shifts
when the moon is round and full
gotta bust that box gotta gut that fish

My mind's aflame

We could jet in a stolen car
but i bet we wouldnt get too far
before the transformation takes
and bloodlust tanks and
crave gets slaked

My mind has changed
my bodys frame but god i like it
my hearts aflame
my bodys strained but god i like it

My mind has changed
my bodys frame but god i like it
my hearts aflame
my bodys strained but god i like it

Charge me your day rate
ill turn you out in kind
when the moon is round and full
gonna teach you tricks that'll blow your
mongrel mind
baby doll i recognize
you're a hideous thing inside
if ever there were a lucky kind it's
you you you you

I know its strange another way to get to know you
you'll never know unless we go so let me show you
i know its strange another way to get to know you
we've got till noon here comes the moon
so let it show you
show you now

Dream me oh dreamer
down to the floor
open my hands and let them
weave onto yours

Feel me, completer
down to my core
open my heart and let it
bleed onto yours

Feeding on fever
down all fours
show you what all that
howl is for

Hey hey my playmate
let me lay waste to thee
burned down their hanging trees
it's hot here hot here hot here hot here

Got a curse we cannot lift
shines when the sunshine shifts
there's a cure comes with a kiss
the bite that binds the gift that gives

now that we got gone for good
writhing under your riding hood
tell your gra'ma and your mama too
it's true
we're howling forever

(Wolf like me, TV on the radio)
- não vai mais vinho para essa mesa -

caro AM, sonhei o seguinte:
sonhei que encontrei um ninho de lulas no armário da sala. eram três ou quatro e estavam acompanhadas pela mãe que me bufou assim que abri a porta do armário. as lulas cabiam na palma da mão, eram pequeninas, rosadinhas, estavam cheias de pulgas e ainda tinham pelo. o meu pai achou melhor lavarmos as lulas para lhes retirar as pulgas, só que eu pus água muito quente dentro de uma bacia e enquanto esfregava as lulas o meu pai disse-me: "cuidado que a água está muito quente e elas podem cozer".
[e assim se faz um conto surrealista]
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

pois ora muito bem... trago hoje um antes e depois com uma imagem de Mark Tansey que não sei se já tinha postado. as duas imagens em comparação sei que não postei. a primeira, como disse, é de Mark Tansey. trata-se de parte de um tríptico chamado "breve história da pintura modernista" e data de 1982 (hoje vai tudo a minúsculas porque eu estou um bocado aborrecida. pelo menos tenho o belogue!). o tríptico tem ainda uma senhora a lavar uma janela com um jacto de água de uma mangueira e um homem que bate com a cabeça contra uma parede. a galinha frente ao espelho é a terceira parte. e em que medida estas três partes podem de alguma forma corresponder à ideia de "história da pintura modernista"? A pintura modernista e a arte moderna em geral tiveram um papel de grandes educadoras que seria dispensável se as pessoas soubessem nesse tempo aquilo que vieram a saber mais tarde. havia uma certa sobranceria na arte moderna, não só pela forma comos se fazia designar, mas também por incutir nos outrso, em todos, a necessidade de ser moderno e ser moderno era rejeitar a arte e os valores do passado e adoptar atitudes condizentes com o zeitgeist. ora havia nisto uma perversão: quem não fosse pelo modernismo seria contra ele; ou seja, quem não fosse moderno seria por exclusão de partes, antigo e ser antigo significava não estar atento e pronto para o progresso. quando na realidade não ser moderno significa apenas, e neste contexto, não apoiar a causa moderna. a pintura moderna gozou da mais valia da sua nomenclatura. mark tansey aproveita a subversão da arte moderna (que ao rejeitar outras ideias que não as suas acaba por se tornar tão ultrapassada quanto a arte a que se quer sobrepor) e faz uma brincadeira com os conceitos sagrados a arte moderna que segundo tansey eram: a arte como janela para o mundo, a arte como superfície plana e limitada e por fim, a arte como espelho do ser. a arte moderna passou por todos estes três paradigmas. apesar de a arte reflectir de facto algo, esta supremacia do ser opinativo e especial (toda a gente tem a mania que é especial hoje em dia), faz com que tudo seja arte desde que justificado com a expressão interior.

desconheço se o fotógrafo chema madoz conhecia ou não mark tansey quando fez este trabalho. a sua poesia visual faz-me lembrar ao mesmo tempo magritte+duchamp+dali pois dos três tem a ironia das imagens desconcertantes. o sentido parece-me diferente ainda que na forma seja tudo semelhante: com chema madoz lembramo-nos do mito de sísifo; aquele que faz a pedra rolar até ao cimo da montanha para depois a deixar cair pela outra encosta e assim sucessivamente. parece-me que é isso: a escada que sobe é a mesma que desce; é um lugar pífio. ele trabalha, não com emoções, mas com sensações; não pretende fotografias que expressem estados de alma, mas que sugiram algo. e assim acontece:

Mark Tansey
A Short History of Modernist Painting
1982


Chema Madoz


agora me lembro que, as três imagens do tríptico representam algo ou alguém ensimesmado, voltado para si.
- o carteiro -

gostaria de ser muito entendida em política internacional e poder falar das revoltas no mundo árabe. mas não sou. tenho a minha opinião, aqui para comigo, mas não sou. o que posso falar acerca disso, em tom descomplexado, é dentro do âmbito da arte. lembro portanto os meus... 7 ou 8 anos quando ouvia Onda Choc. uma das músicas cuja letra melhor recordo é a "Adoro o Egipto", versão portuguesa de um tema das Bangles. e dizia o seguinte:

Na aula d'História
Sobre o Egipto
Muito nos rimos
Todos nós
Porque imaginámos
Oh eh oh
Que estávamos lá
C'os faraós

Fomos de barquinho
Pelo Nilo
Através do berço
De Moisés
E um crocodilo
Oh eh oh
Levou-nos até Ramsés

Uma esfinge então cantava
Eh oh eh oh eh eh oh eh oh
Adoro o Egipto...

e assim passávamos o tempo, entre festinhas em casas das amigas e coreografias para estas músicas. agora que o tempo passou, recordo para além desta letra, que quando aprendi algo sobre a arte egípcia foi, erradamente, que a pintura egípcia era frontal e plana porque os egípcios ainda não sabiam representar a perspectiva já que esta foi uma descoberta posterior; uma descoberta do Renascimento. ora, nada mais falso. as civilizações do mundo clássico sabiam da existência da perspectiva e representavam-na, como foi o caso dos gregos. com muita mestria, diga-se em abono da verdade, mais até do que os artistas da Idade Média, mas tudo isso tinha um propósito. A arte egípcia era, ao contrário do que se pensa, uma arte que conhecia a perspectiva, mas não a representava. Era aquilo que se chama uma arte aspectiva; ou seja, o que interessava não era aquilo que se via, mas aquilo que se sabia. Tomemos como exemplo um rio. Para os egípcios o rio não era um espelho, mas um meio aquático onde existiam peixes e outras espécies. Da mesma forma um homem não era um ser com espessura, com três dimensões, mas um ser com qualidades e defeitos, com inseguranças e posição hierárquica.

Houve no entanto um curo período de tempo, correspondente ao reinado de Amenófis IV que a lei da frontalidade foi substituída. Este Amenófis foi casado com Nefertiti e pai de Tuntakamon, só para situar o pessoal... Como sabemos, cada cabeça sua sentença e poucos foram os reis e imperadores que não deixaram a sua marca. Mas Amenófis fez uma ruptura, ainda que breve, com uma lei da arte egípcia; ou seja, a da frontalidade. Amenófis adoptou o estilo naturalista - embora idealizado na forma como, pelo menos ele, era retratado: rosto alongado, lábios salientes e o dobro do tamanho dos restantes, já que a posição social era conferida, na arte, pelo tamanho, algo que tinha permanecido imutável. Para além disso deu todos os passos no sentido da representação de cenas do quotidiano já que o próprio era retratado dentro do seu ambiente familiar. Mas se repararmos com atenção, as inovações são também de outro nível. Vejamos a diferença entre a primeira e a segunda imagem: na primeira sobrepõe-se a lei da frontalidade na segunda, pequenas barrigas espreitam junto dos panos que cingem a cintura como forma de sugerir que estas eram pessoas com matéria e com volume.

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

detesto fins de semana

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

- original soundtrack -
shepherd me from pain and the doubt
through the broken streets and the hearts
herd me home through hurt and the past
then leave me alone you have no choice
and now there is a white horse caged in my heart
and it's going to kill me just to get out
now there is a white horse caged in my heart
and it's trying to kill me just to get out
though we're different creeds, wear different masks
If you only could conceive that there's a chance
and hell is bent on showing me the dark
shepherd me to light, make it stop.

(White Horse, Scott Matthew)
- não vai mais vinho para essa mesa -

[na aula de História da Arte e Cultura da Época Medieval]:
[professora] - Vocês têm de imaginar naquele tempo de provações, quando não havia televisão nem internet, e em que era necessário por vezes um peregrino caminhar meses ou anos para chegar ao santuário, o que devia ser estar perante uma catedral gótica, feita para impressionar e fidelizar. Provocava ao mesmo tempo admiração e temor.
[eu] - Seria mais ou menos o equivalente às catástrofes naturais quase em directo...
[uma colega] - ou ao silvo de uma bala a meio da noite...
[todos] - ???
[a colega] - não acha?
[todos, cada um a seu tempo e sem convicção] -.... sim, claro...
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou era suposto saber muito sobre isto mas... ainda não cheguei a essa parte de matéria. posso no entanto falar-vos daquilo que sei. antes de mais sei que a imagem de cima mostra parte de um mosaico da Basílica de Santa Sofia (ainda havemos de nos encontrar aí, Sofia babe) em Istambul. Nele vemos Cristo Pantocrator rodeado da Imperatriz Zoé (vão lá à wikipédia...) e pelo último marido, e depois imperador, Constantino IX. Os mosaicos são belíssimos e eu sei porque tive de estudar o mosaico grego e romano até à entrada em cena do Cristinanismo. O facto de se ter perdido em profundidade e realismo, algo que existia nos mosaicos romanos até ao século V e até mesmo nos gregos embora estes preferissem as formas geométricas, não nos pode fazer acreditar que a arte dos primeiros cristãos era menor. Não era. Esta forma de representação procurava transmitir uma mensagem: a mensagem que a divindade se fazia rodear dos melhores e que estes eram inalcansáveis como podemos ver pelo céu dourado. Não existe céu dourado. Aliás, na natureza nem existe o dourado. As tecelas eram cobertas por uma folha de ouro, o que mostra a raridade das personagens que estão no espaço junto de Cristo. Ele, monumental e elas, menos simples e mais pequenas. A sua divindade vem do facto de partilharem a esquerda e a direita com o Pai e também do facto de se vestirem ricamente. E aqui é que o Lagerfeld a fez bonita. Muito bonita aliás, a colecção Outono Inverno da Chanel para 2011. Inspirado directamente nos mosaicos bizantinos o costureiro (o Karl, para os amigos) criou uma colecção repleta de dourados, verdes profundos e azuis parker que vão muito bem com as sandálias (sim, há sempre um cocktail no Inverno para onde se possa levar umas sandálias daquelas) rasas cravadas de pedras, que eu achei, vão-me desculpar esta futilidade, lindas. Se reparem, a parte das pedrarias no vestido é muito semelhante à da veste que o imperador tem colocada. A propósito, vi um dia destes, numa dessas revistas de fim-de-semana, que Teodora, a esposa de Justiniano tinha sido prostituta e bailarina e mais não sei quê. Tudo isso é, segundo se sabe, verdade. Mas há uma coisa que não referiram e que é também mencionada nas biografias da imperatriz. Teodora controlou uma revolta da forma mais ignóbil pois o povo manifestava-se contra os impostos e a miséria... coisas que nunca mudam. Teodora propôs a paz. Deu-lhes Panem et circenses, convidou-os para verem um espectáculo (não posso assegurar se foi no Coliseu ou não, uma vez que ele era Imperador do Oriente) e depois mandou fechar as portas e matá-los. Ah pois é... E assim acontece:
Constantino IX, Zoé e Cristo
Basílica de Santa Sofia, Istambul

Karl Lagerfeld para a casa Chanel
Pre-Fall
2011
- o carteiro -

Exceptuando o cabelo estilo Whitney Houston em início de carreira, Dürer era no geral muito bem apessoado. Ao olharmos para o auto retrato do pintor de 1500, o que sobressai são os olhos e a postura completamente rígida e frontal, embora com certa subtileza nas mãos que tocam na pele do casaco. Um triângulo formado pelo cabelo que lhe cai pelos ombros emoldura o rosto e tudo é absolutamente perfeito. Tudo está colocado de forma irrepreensível no lugar certo. O rosto equilibra a composição ao jogar com o triângulo formado pelas inscrições à esquerda e à direita pelo dedo da mão cá em baixo. As inscrições - assinatura e data estão na mesma superfície da pintura, como se fizessem parte do tema, não sendo por isso informação adicional. Relativamente ao cabelo sabemos que Dürer o estimava muito, mesmo não sendo o corte da moda na época. Existe actualmente uma madeixa conservada como uma relíquia num relicário em Viena. O rosto de Dürer nesta pintura deve ser herdeira de um ícone pintado por Van Eyck que Dürer muito admirava. De resto o seu próprio rosto serviu de inspiração para o desenho de muitos véus de Verónica (os que tinham o rosto de Cristo) e um ano após a sua morte, o rosto do pintor foi usado para pintar o quadro de Georg Vischer "Christ and the woman taken in adultery". No entanto, apesar de todas as descrições que possamos fazer nunca vamos poder chegar a mais informações sobre Dürer. De que cor são os seus olhos? Que idade terá nesta pintura? Qual o seu estado de espírito? Dürer pintou-se de uma forma tão imaterial e tão de acordo com a época que parece Jesus. Este tipo de representação não é estranho, mas não em auto retratos e desta forma tão misteriosa. Claro que como o rosto de Cristo era completamente desconhecido, como ninguém sabia como era esse rosto, ninguém podia afirmar que Dürer era parecido com o Messias. Mas o pintor é o único artista da época que o faz. Só mais tarde Schielle ou Gaugin o fazem e se ainda agora pode ser considerado um sacrilégio, imaginem na época. Dürer pinta-se como Cristo pois tenta viver à imagem de Cristo na arte, podendo ser assim considerado um produto do divino. Dürer não se via como divino (Imago Dei), mas como Cristo (Imatio Cristo); ou seja, ele era um instrumento do divino. Com o que diz a inscrição do quadro não pode haver dúvida: Eu, Albrecht Dürer de Nuremberga pintei-me nos meus 28 anos".
Albrecht Dürer
Self-Portrait in a Fur-Collared Robe
1500
Alte Pinakothek, Munique

Como muitas imagens, esta de Dürer provocava algo em quem a via, mas talvez como nenhuma outra de forma tão apaixonada e tão extrema. A escritora alemã Bettina von Arnim tinha uma cópia da pintura (talvez também desejasse assim ter do homem), cópia essa que queria enviar a Goethe por quem se sentia capaz de se enviar também. O contrário também já aconteceu; ou seja, o retrato de Dürer foi tanto vítima de amores exacerbados como de ódios fervorosos. Em 1905 alguém recortou de forma perfeita as íris e as pupilas dos olhos da pintura. Claro que atribuímos, nestes casos de vandalismo, a culpa a quem vandaliza. Mas não podemos deixar de assinalar que um ataque, perpetrado com tanta precisão tinha de ser provocado também pelo atacado; ou seja, pelo próprio Dürer que acicatou os ânimos do atacante através da forma como o olhava.

Dürer tornou-se uma marca. Mesmo o seu primeiro desenho conhecido era um auto retrato. Não que fosse vaidoso ou narcisista, mas era um artista dotado, consciente do seu valor e que se sentia injustiçado face ao reconhecimento que tinham outros artistas como Ticiano e Bellini e que Dürer não tinha. Desenhou-se nu em 1503. Ali esconde uma mão atrás das costas e uma (que não se encontra actualmente visível) com o dedo esticado. Esse dedo aponta sobre um ponto assinalado a amarelo e sobre o qual Dürer diz: "Ali onde está localizado o ponto amarelo e para onde aponto é que me dói". Dürer deixa assim os sintomas para no futuro se revelar o diagnóstico para uma doença que muito provavelmente tinha contraído quando andava à caça de uma baleia que tinha aparecido na costa da Nova Zelândia.
Albrecht Dürer
Self-Portrait in the Nude
c. 1505
Kunstsammlung, Weimar

Outros dois retratos foram feitos e vistos com menos certeza da masculinidade de Dürer como acontecia com o nu referido anteriormente. Nele o sexo protuberante recebe quase a mesma atenção visual que os olhos. Talvez o pintor mesmo na doença estivesse a ser exibicionista e orgulhoso mostrava o pénis e a gigantesca sombra do mesmo. Numa pintura que mesmo para os nus da época estava (como hei-de dizer...)... sofria de príapismo. Quer dizer... veja-se o pénis pequenino que tinha o David e Miguel Ângelo, quase contemporânea desta pintura. Bem, como estava a dizer, os outros dois retratos de Dürer que aparecem aqui são vistos pelos críticos como o reflexo do seu narcisismo. No primeiro ele retrata-se com os trajes de um cortesão e segura numa das mãos uma planta, simultaneamente símbolo de Cristo (mais uma vez a analogia com Cristo) e um afrodisíaco. Segundo alguns este não é um retrato de acasalamento, não era um retrato para seduzir ou ser conhecido por mulheres ou homens. Dürer sobre quem a vida amorosa era quase uma incógnita, fala poucas vezes sobre este campo da sua vida. Apenas uma frase algo dúbia: "os meus casos correm conforme o ordenado pelo Alto". Não sei se estaria a dizer que a sua vida amorosa era quase como divina ou se no fundo era inexistente. De qualquer forma o retrato não é de quem está a tentar seduzir, mas antes de alguém que está enamorado de si mesmo. Goethe que possuía uma edição completa dos desenhos de Dürer falava animado acerca do vigor e virilidade do pintor nos desenhos. No entanto, comparando esta pintura com o primeiro quadro deste post ou com o desenho de nu, não há nada de masculino aqui. Se compararmos com este retrato de 1498 tudo o que foi visto anteriormente é colocado em causa: a blusa deixa parte do peito à mostra; há um conjunto intrincado de listras pretas e as mãos de Dürer, ao contrário dos outros retratos, estão cobertas por luvas à moda de Nuremberga. Atrás Dürer pintava só uma das mãos enquanto deixava a outra, a que verdadeiramente pintava ou desenhava, oculta. Aqui o pintor mostra as duas mãos, mas desocupadas e ainda por cima com umas profiláticas luvas que afastam a ideia de qualquer trabalho manual. Este retrato é talvez o prémio que Dürer se ofereceu, já que na data em que é pintado, Dürer tinha sucesso em Veneza, tinha publicado o Apocalipse e tinha sido elogiado por Bellini. Pinta-se por isso como se fosse um dos patronos que costumava retratar: em pose grave, bem vestido e sobre uma paisagem italiana. É portanto mais do que o retrato de um homem; é a expressão de experiência, riqueza e cosmopolitismo.
Albrecht Dürer
Self-portrait at 22
1493
Musée du Louvre, Paris


Albrecht Dürer
Self-Portrait at 26
1498
Museo del Prado, Madrid

Dürer faleceu na Semana Santa em 1528. No seu túmulo podia ler-se qualquer coisa como: "O que quer que seja mortal em Dürer, está coberto por esta pedra". Dois dias após a sua morte a madeixa de cabelo é cortada e dada ao seu assistente Hans Baldung. Três dias após o funeral de Dürer estudantes e admiradores do pintor exumaram o corpo para fazer uma máscara funerária. No século XIX algumas pessoas abriram de novo o túmulo na tentativa de verificar a proporcionalidade do corpo de Dürer, mas no seu lugar encontraram o corpo de outro artista que tinha falecido recentemente.
- o carteiro -

Van Gogh
Fifteen Sunflowers in a Vase
1888
National Gallery, Londres


O início do ano não é para mim a 1 de Janeiro, mas sim a 16 de Fevereiro. Não porque acredite que sou especial, mas porque cada um tem o seu tempo e o meu só me permite a renovação um mês e meio mais tarde do que aquilo que acontece com todas as pessoas. No entanto no início de 2011, ao levantar a minha taça desejei ter, até ao ano 2019 "a situação" resolvida. Caso contrário, para além dos quarenta, "a situação" daria não só um filme como muitas gargalhadas. Não quero cair ainda mais no ridículo. Aos 32 - e eu adoro este número que, segundo me disseram, é muito importante para programação - tenho tudo aquilo que nunca pensei vir a ter e nada daquilo que desejei quando pensava que ter 32 anos era quase estar com "os pés para a cova". Tenho família, tenho amigos (poucos, muito poucos e nem sequer acho que é por minha causa embora eu me esquive com frequência às noitadas por este tempo me ser hostil), tenho emprego, tenho uma casa... Mas com 6 anos, eu pensava que a felicidade suprema seria estar a trabalhar em Paris numa casa de alta costura com o meu nome. Filhos para compor o ramalhete e um maridinho que ainda não imaginava porque não tinha idade para essas coisas. Mais tarde com 16 substituí a moda pela arte e Paris por Nova Iorque. Acreditava que tal como no Português ou na História da Arte, iria tirar, quando chegasse a hora, boa nota nessa difícil arte de seduzir e fazer o outro apaixonar-se. Aos 26 perdeu-se Paris e Nova Iorque, quilos (e com eles Paris e Nova Iorque) e o interesse pelo âmbito das relações amorosas. A verdade é que não me lembro bem de muitas coisas daquele tempo, mas lembro-me de achar, mesmo aos 6 anos, as relações amorosas um âmbito bastante complexo para o qual era necessário especial traquejo. E se falo deste assunto aqui, é porque nos últimos tempos me tenho perguntado sobre a necessidade de ter alguém com quem namorar, sendo que este vocábulo engloba todas as variedades relacionadas. Pensava que queria todas as coisas normais, mas acho que não. Acho que não quero um maridinho e filhos. "Tudo bem", pensei, "é uma opção". O problema é que a este "alguma coisa" se contrapõe um "nada". Ou seja: se ter um/a companheiro/a é bom e recomendável, não ter parece ser nada. Termos saúde, dinheiro e sorte é bom. Se tivermos amor, melhor ainda. Mas se tivermos saúde, sorte e dinheiro e não tivermos amor não somos uns inúteis? Ainda que os outros não nos olhem como tal, não nos sentimos inúteis? Eu sinto. Não porque deseje um maridinho e filhos, mas porque tenho o direito de perceber se é isso que quero mesmo. E acima de tudo, com esta idade tenho o direito a experimentar. Mas ultrapassar a barreira que me separa do mundo, isso é que é o mais difícil: ultrapassar o medo de ser ridícula, infantil e unilateral. Deixar o pensamento fluir, ou nem sequer colocar o pensamento ao barulho.
Em Marcos, sobre a relação do Homem com o dinheiro e o Reino dos Céus o evangelista diz qualquer coisa como "é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino Dos Céus". O que a maior parte das pessoas não sabe é que existia em Jerusalém uma porta chamada Agulha, tão estreita que era impossível fazer passar por lá os animais. Eu gostaria, ainda que por breves momentos, de pertencer a esse grupo priveligiado de répteis de Jerusalém.
- o carteiro -

novidades e assim-assim
[1]
Esta é a nova e talvez a última performance da artista Marina Abramovic. Depois de no ano passado, na sua performance na retrospectiva que o MoMA lhe fez e na qual passou 700 horas sentada a olhar para os visitantes, Marina Abramovic convida-nos novamente a sentar o rabiosque, mas desta vez para comer. O seu último trabalho não é uma instalação, mas antes uma sobremesa de seu nome Volcano Flambé. Esta sobremesa foi criada a partir de uma colaboração entre a artista e o chef do restaurante novaiorquino Park Avenue Winter. Antes do prato ser servido os clientes têm de colocar uma bata de cozinha, bata esse que lhes é oferecida juntamente com uma caixa que contém auscultadores e um leitor de MP3. Através do leitor e dos auscultadores podem ouvir as palavras de Abramovic acerca da explicação da criação culinária e entretanto a sobremesa chega. Volcano Flambé é uma Cafarnaum: gelado de chocolate negro, esponja de amêndoa, mousse de banana e merengue suíço coberto de chocolate e caramelo endurecido ao qual (ufa!) se junta rum e fogo! Esta intervenção, ainda que na minha opinião um pouco rebuscada, não é despropositada: mistura o negro e o branco, o macio e o rugoso, o frio e o quente. Aproveitem que é até dia 20 de Março. O link está aqui.

[2]
O cartaz - lindíssimo - do novo filme de Almodóvar de seu nome La piel que habito.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

domingo, fevereiro 13, 2011

- o carteiro -

o bar está aberto, mas não levem as bebidas todas sem dizer onde foram buscá-las, ok?

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

- o carteiro -

bar aberto