segunda-feira, julho 05, 2010

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

devia mudar os títulos destas coisas, não era? pois é..., mas agora não me ocorre nada melhor. um dia destes dei notei que já tinha estes títulos há muito tempo, mas mudá-los é um problema porque não me ocorre nenhum melhor e para mudar a gente muda sempre para melhor, não é? quer dizer... dizem isso, mas às vezes pode não ser. como por exemplo, este post. podia ter continuado de forma segura e tranquila com os posts sobre o LaChapelle. se calhar até faço mal em postar o seguinte pois pode, como se costuma dizer "ferir susceptibilidades". Mas eu tinha tanta vontade... quem ficar com a susceptibilidade ferida pode dizer-me que há aqui tintura de iodo. pois andava eu a ler o Expresso quando vi uma fotografia de um atentado à bomba na Índia. o jornal é de 29 de Maio deste ano. o atentado fez com que dois comboios (um de passageiros e outro de mercadorias) chocassem de frente originando assim cerca de 70 mortos e à volta de 200 feridos. a notícia não tem nada de artístico, embora hoje em dia, com a morte do sagrado nas civilizações ocidentais (a desmistificação do Céu bem como do Inferno), já nada nos espante e já pouco respeitemos. além disso as civilizações ocidentais são mais dadas à imagem do que à palavra e talvez não seja por acaso que ao ver a imagem do "depois" a relacionei com este "antes". nela Rubens retrata o momento em que Cristo morto é retirado da cruz. como verdadeiro protestante e na ressaca daquilo que era a consolidação do protestantismo em Antuérpia através da arte, Rubens pinta esta peça de altar para a Catedral de Antuérpia sob encomenda. claro que a encomenda tem duas faces: por um lado é encaixe financeiro na certa, por outro tem de se submeter aos gostos de quem paga. não é por isso de estranhar que Rubens tenha colocado no quadro o burgomestre Nicolaas Rockox. Depois de ter pintado a Visitação e uma apresentação no templo, Rubens pintou esta cena do tríptico. no quadro vemos alguma influência de Caravaggio pois toda a cena se desenrola em volta do corpo morto, que recebe uma luz irreal, que gela e foca as nossas atenções para o branco da pintura, assim como encena de certa forma este momento. notemos que em Caravaggio os intervenientes são muitas vezes retratados em instantâneos fotográficos. neste caso porém não há o dramatismo nem o tenebrismo de Caravaggio, a cor tem qualquer coisa de veneziano e segundo li, não se trata de uma devoção totalmente orientada para Cristo. este cristo também é São Cristóvão, o santo protector daquela diocese. a palavra cristóvão tem origem no grego e quer dizer protector de cristo, ou defensor de cristo. quando vemos e cena dentro do tríptico notamos que cristo está acompanhado dos seus amigos e familiares; ou seja, dos seus protectores.

a fotografia do acidente na Índia corresponde um pouco a esta relação entre os mortos e os que carregam as padiolas. tanto num caso como no outro, vários homens tentam apaziguar o efeito da morte: a um mostram-no nu, a outro tapado com um lençol branco; um morre crucificado à mão dos seus inimigos, o outro morreu trucidado às mãos de desconhecidos; um é conhecido por todos que ali estão, o outro talvez por nenhum; um representa o Bem terrestre o outro é o paradigma dos efeitos do Mal Absoluto; um mudou o Mundo, o outro não mudou nada. e assim acontece:

Rubens
Descent from the Cross
1616-17
Musée des Beaux-Arts, Lille


Expresso (fotografia de acidente na Índia)
29 de Maio de 2010

3 Comments:

Blogger João Barbosa said...

bem observado

5/7/10 8:27 da manhã  
Blogger Belogue said...

não sei... olhei e de repente pareceu-me ver uma descida da cruz

6/7/10 8:48 da manhã  
Blogger alma said...

lindíssima observação ...

6/7/10 7:42 da tarde  

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