quarta-feira, setembro 23, 2009

- o carteiro -

Tudo o que você nunca quis saber acerca da utilização do facebook:
Sombra real – a sombra do ponto, quando nele incide um raio luminoso qualquer, projectada de imediato no Plano Frontal de Projecção (PFP) ou no Plano Horizontal de Projecção (PHP), consoante a posição do ponto no espaço.
Sombra virtual – a sombra acessória de um ponto, cujo único propósito é servir de denominador comum entre duas sombras reais projectadas em planos de projecção diferentes. Uma sombra real projectada no PHP e uma sombra real projectada no PFP não podem ser unidas. Usa-se a sombra virtual para encontrar o ponto de charneira, a “plataforma de entendimento” entre duas sombras.

Estes dois conceitos do desenho e da Geometria Descritiva, embora difíceis de compreender sem recurso à folha, ao aristo e ao lápis são o paradigma daquilo que hoje constitui a forma como a maior parte das pessoas vive as aplicações ciberculturais.
Antes de avançar neste post devo dizer que:
- o Belogue, a Beluga e eu não temos nada a objectar em relação a quem tem Facebook ou em relação ao Facebook em si, mas à forma como a maior parte dos utilizadores faz uso da aplicação.

- Sou a pessoa mais suspeita para falar deste assunto pois vivo no medo constante de não ser fisicamente aquilo que esperam de mim.

A razão pela qual não concordo com o Facebook e porque o mesmo padece de vários “males”: é narcísico, viciante e ilusório. É narcísico porque necessita da aprovação do outro, do comentário alheio. Como os diálogos se fazem a dois, é sempre obrigatória a presença de outro. Quando esse outro não aparece experiencia-se a sensação de desilusão, de abandono, de ausência de um feed-back. Parte-se, com o objectivo de provocar esse feed-back, para as observações de cariz intimista e pessoal que criam quase sempre a piedade alheia. E embora não se procure a piedade, à falta de melhor, toma-se esta esmola como algo positivo (voluntário e sincero) criando-se assim um ciclo vicioso. Funciona esta auto-estima in vitro ao mesmo nível das endorfinas, só que tomada em doses para mamute.

A quem argumenta que o mesmo se passa, ou pode passar nos blogs (falo da minha experiência apenas. Nunca tive Hi5, Orkut ou conta de Messenger), a verdade é que isto se passa numa aplicação que supostamente serve para “fazer amigos” ou recuperar “amizades perdidas” pelo tempo. Que tipo de intimidade podemos estabelecer com amigos com quem não temos contacto desde a saída de circulação do escudo e, ainda mais, com amigos acabadinhos de fazer, daqueles que ainda estão quentinhos? E para os amigos que estão apenas distantes fisicamente? Onde está o postal, a carta, o telemóvel e, por muito que me custe chegar a este degrau na enumeração, a impessoalidade do mail? Há uma facilidade falaciosa em falar com aquele que não conhecemos, ou com o que acabamos de conhecer, em detrimento daquele que nos está no sangue ou na memória. É ou não verdade que preferimos a legitimação do desconhecido do que a do conhecido? A reprovação do desconhecido em detrimento da legitimação do conhecido? A coibição de qualquer um deles ao marcar do número de telemóvel de um amigo que mora a poucos quilómetros de nós?

O Facebook facilita um certo facticismo gestual que cria a ilusão de vida real ao fazer com que os intervenientes, com a esperança do elogio do outro, o elogiem de volta. Assim observa-se um diálogo óbvio que consiste na troca de encómios, como requer a falsa conversação. No dia-a-dia, quando um desconhecido que espera connosco pelo comboio nos vê tiritar de frio diz: “hoje está mais frio, não é?”, é óbvio que iremos responder qualquer coisa como “é, arrefeceu muito.” Há um código instituído desde tempos imemoriais que faz com que este diálogo vago e feito de factos do conhecimento geral subsista no tempo. Não cria amizades, mas permite fazer a manutenção das normas vigentes que sendo um aborrecimento ou não, dão-nos a possibilidade de viver em sociedade de uma forma saudável. Já no Facebook nota-se por parte de muitos utilizadores que na troca de palavras com os amigos antigos e reencontrados, ou com os amigos novos e desconhecidos, faz-se o percurso inverso. Há um grau de conhecimento mútuo (ou presume-se que esse grau exista e todo o diálogo é orientado nesse sentido) e por consequência a troca de confidências e elogios factuais, que podem ser dirigidos em específico àquela pessoa ou não, e levam à ilusão de cumplicidade. Assim é possível ter no Facebook 400 amigos absolutamente desconhecidos, só pelo prazer do acumular, pela necessidade de reconhecimento geral e por salvaguarda de possíveis candidatos a carpideiras caso se mostre necessário, e na gare do comboio nenhuma resposta à mini provocação “está mais frio”.

Aceito todas as críticas, caso exista alguma, e respondo pelas minhas palavras. Reconheço que a reserva em me mostrar, em me encontrar na vida real com alguns dos que aparecem aqui, se deve à minha insegurança e que por isso o meu exemplo pode não ser entendido como concordante com o acima escrito. Mas a razão para não ter 400 amigos e apenas 5 é porque só tenho capacidade para retribuir com o máximo de honestidade a estes cinco. Desculpem o tom duro.

P.S. (salvo seja!) – Não considero o Twitter pois é um GPS para sub-16 com espelho incorporado.

3 Comments:

Blogger João Barbosa said...

não deixa de ter razão. compreendo-a. não subscrevo integralmente, mas penso que basicamente está certa... apesar de ter FB. e o messenger dá mesmo muito jeito para trabalhar.

23/9/09 8:53 da tarde  
Blogger AM said...

If ever I would stop thinking about music and politics
I would tell you that sometimes it’s easier to desire
and pursue the attention and admiration of 100 strangers
than it is to accept the love and loyalty
of those closest to me

And I would tell you that sometimes
I prefer to look at myself
through someone else’s eyes
Eyes that aren’t clouded with the tears of knowing
what an asshole I can be, as yours are.

If ever I would stop thinking about music and politics
I might be able to listen in silence to your concerns
rather than hearing everything as an accusation
or an indictment against me

I would tell you that sometimes
I use sex to avoid communication
it’s the best escape when we’re down on our luck
But I can express more emotions than laughter, anger, and let’s fuck

If ever I would stop thinking about music and politics
If ever I would stop thinking about music and politics
If ever I would stop thinking about music and politics
If ever I would stop thinking about music and politics

If ever I would stop thinking about music and politics
I would tell you that I pooped in my own dog dish
And sometimes I would rather face not eating
than face licking it clean
And admitting when I’m selfish
And I’d tell you that I’m suffering
from the worst type of loneliness
The loneliness of being misunderstood,
or more poignantly
the loneliness of being afraid
to allow myself to be understood

If ever I would stop thinking about music and politics
I would tell you that the personal revolution
is far more difficult
and is the first step in any revolution

If ever I would stop thinking about music and politics
If ever I would stop thinking about music and politics
If ever I would stop thinking about music and politics
If ever I would stop thinking about music and politics

I would tell you that music is the expression of emotion
And that politics is merely the decoy of perception.



Music And Politics, Hypocrisy Is the Greatest Luxury, The Disposable Heroes of Hiphoprisy

23/9/09 8:57 da tarde  
Blogger Belogue said...

Caro João Barbosa:
Repito que não tenho nada contra quem usa. Eu só uso o gmail e mesmo assim, vivo tão na minha toca que mesmo essa forma de comunicar me parece estranha.

Caro AM:
Mais uma sugestão altamente postável...

8/10/09 12:11 da manhã  

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