quinta-feira, agosto 27, 2009

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

"vá lá, não me crucifiquem" ou como "sei que parece que isto está a fugir ao original, comparar obras de arte com obras de arte, mas o cinema é uma arte. Como vi um dia destes escrito, o cinema é a "cétima" arte (eu nem digo nada...) ou como "sendo assim, posso comparar um uma imagem e situação de um filme com uma imagem de um video de música, sendo que para mim, alguns vídeos são obras de arte. Os da Madonna são sempre, talvez não por mérito total dela, mas dos realizadores. No fundo, é quase sempre mérito dos realizadores. Hoje trago a comparação entre uma cena do filme "Asas do Desejo" e uma cena do vídeo "Everybody Hurts" dos REM. No filme "Asas do Desejo" de Win Wenders, um anjo desce à terra em ambiente urbano e pós-guerra e ouve os pensamentos das pessoas, o que as preocupa, a razão para a sua tristeza. Depois, e como os marinheiros que se deixam encantar pelas sereias, o anjo vê-se na desconfortável situação de escolher entre o amor de uma mortal e subsequente mutação para se tornar um humano e a vida eterna. Numa das cenas a câmara percorre uma carruagem do metro e lê/ouve, o pensamento dos viajantes. O barulho de fundo prossegue e os pensamentos vão do mais simples, ao mais pessoal e confessional. Um homem diz aos 12s de vídeo "It's four years since I saw her..." e acrescenta "and two that she's been ill". Isto quer dizer que a pessoa em questão não vê ou não fala com alguém há quatro anos, mesmo sabendo que essa pessoa está doente.

Lembrei-me que no vídeo dos REM existe uma cena muito semelhante. Aliás, o vídeo tem outra cena, no início que é muito parecido com a abertura do filme "8 e 1/2" do Fellini. Mas a parte a que me refiro é aquela em que a câmara percorre os vários carros, não é o vocalista que os percorre, quando o carro em que ele segue chega perto do local onde o trânsito parou, acho que age como anjo, fazendo com que seja possível ler os pensamentos de cada uma das pessoas. A cena que aqui deixo refere-se ao momento 1m21s quando um homem dentro de uma viatura pensa "17 anos...". Provavelmente iria rever alguém após 17 anos, ou perdeu alguém com 17 anos há 17 anos.

Meus amigos, "e assim acontece", como dizia o outro. Prometo trazer para a próxima arte de cavalete, cinzel, inspiração e moldura, para toda a gente ficar de barriguinha cheia.

Win Wenders
Asas do Desejo
1987


Jake Scott para REM
Everybody Hurts
1993

4 Comments:

Blogger João Barbosa said...

2 reparos:
a) As Asas do Desejo não é um filme do pós-guerra, passa-se nos anos 80 antes da queda do Muro de Berlim.

b) as citações teriam ficado melhor em alemão, que é a língua original, ou... em português, que é a nossa (lá estou eu outra vez a melgar)...
.

agora é que a Beluga me vais mandar uma lata armadilhada ;-)

27/8/09 12:16 da manhã  
Blogger Belogue said...

Bem, são duas respostas, sem orgulho ferido (palavra!) aos reparos:
a) se se passa nos anos 80, não deixa de ser pós-guerra: Pós Primeira Guerra Mundial, pós Segunda Guerra Mundial (a alemã perdeu as duas). O filme é dos anos 80, mas não fala dos anos oitenta. pelo menos do que me lembro.

b) em alemão ninguém percebia 8eu não percebia) e em português, pois... não havia.

Nada de latas armadilhadas. Eu sou pela paz. E logo hoje que tive uma guerra balcânica para resolver!

27/8/09 2:57 da manhã  
Blogger AM said...

não é no losing my religion que o m. stipe aparece em "asas"...

27/8/09 1:42 da tarde  
Blogger Belogue said...

Caro AM:
é verdade sim senhor. talvez ele seja um fanático pelo filme, mas tanto há relação entre o filme e o everybody hurts como com o losing my religion. Aliás, já tínhamos visto que ele era dado a fazer bons videos.

28/8/09 1:32 da manhã  

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