sábado, maio 30, 2009

- back to black -

“Art is making something out of nothing and selling it.”- Frank Zappa

segunda-feira, maio 25, 2009

- original soundtrack -

(...)
I just can't fit
Yes, I believe it's time for us to quit
When we meet again
Introduced as friends
Please don't let on that you knew me when
I was hungry and it was your world.
Ah, you fake just like a woman, yes, you do
You make love just like a woman, yes, you do
Then you ache just like a woman
But you break just like a little girl.

(Just like a woman, Bob Dylan)
- não vai mais vinho para essa mesa -

Quando a minha idade era muito curta, a minha progenitora disse:
“X, senta-te aqui. Vou-te explicar como nascem os bebés”. Ao que eu respondi educadamente “Não estou interessada, obrigada”. Felizmente tive aulas aqui. Bloco C.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou como “isto não é um antes e depois, já o diz o prefácio da Segunda Edição. Depois de Zola ter escrito “Les Rougon Macquart: une famille sous le second empire”, Camilo Castelo Branco, com uma motivação diferente do escritor francês, mas aproveitando a eloquência do título, escreveu uma provocação ao Realismo que dizia abominar sob a denominação “Eusébio Macário: história natural e social de uma família no tempo dos Cabrais. Diz-se que “os Cabrais não são o segundo império” e que Eusébio Macário não é nem um Rougon e dos Macquart. Camilo terá escrito a obra por uma de duas razões (ou então as duas): para provar o quão básico era o Realismo, de tal forma básico que ele, um autor romântico conseguia escrever uma novela realista, ou pelo contrário, para angariar junto do governo o seu título de Visconde. Passo a explicar. A obra em si, seguida de “A Corja” que dá continuidade e desfecho mais justo à primeira parte, é um chorrilho de adjectivos e substanciação que reforçam as ideias duas e três vezes. Dou exemplos como: “Ela andava cheia de desejos animais; queria feiras e romarias com bailados de saracoteios desnalgados, pelintras, pedia socas de ponteira de verniz marchetadas de amarelo, com palmilhas de um escarlate de carne viva, e casibeques sarapantões de listras rubras e amarelas; lavava as pernas, brancas como pedaços de marfim polido das velhas imagens e maciezas cetinosas, nos riachos, com grande desfaçatez e presunção; boleava-se num quebrar de quadris reles de servilheta; tinha cheiros de mulher suspeita com grandes lampejos crus de óleo de amêndoas doces nos cabelos em bandos e muitos ardores”. A forma como faz uso desta adjectivação é um pouco diferente da de Eça que no meu ponto de vista era mais certeiro, mas piscava o olho à prosa de Eça de quem Camilo nunca gostou. Aliás, “Eusébio Macário” começa com a descrição de um relógio (“Havia na botica um relógio de parede, nacional, datado de 1781…”. Também o “O Primo Basílio” de Eça começa com um relógio (“Tinham dado onze horas no cuco da sala de jantar”). No entanto, as semelhanças acabam aqui; tudo o resto é zombaria.

Camilo refere-se com asco à modernidade, a tudo o que é novo, enquanto Eça se abstém de fazer juízos. Camilo fala de “farfalhices modernas”, “cambada moderna”, “modernices estólidas” e “ignorância da Botânica moderna”. O escritor é ambíguo. Na sua dedicatória confessa que a sua aposta de fazer um romance realista tinha falhado, mas isto é quase Camilo a fazer-se rogado. É como se mostrasse que não tendo qualquer talento ou interesse que não o lúdico, em fazer uma obra realista, a fez tão bem que é capaz de fazer qualquer coisa. Na referida dedicatória Camilo diz o seguinte: “Minha querida amiga: Perguntaste-me se um velho escritor de antigas novelas poderia escrever, segundo os processos novos, um romance com todos os tiques do estilo realista. Respondi temerariamente que sim e tu apostaste que não. Venho depositar no teu regaço o romance, e na tua mão o beijo da aposta que perdi”. Ora esta obra de Camilo, passado o choque inicial, foi um sucesso. Era Camilo a subvalorizar-se para que os outros o sobrestimassem.

Mas haverá outra razão para a obra: o tempo dos Cabrais foi o tempo da troca de títulos por votos. Daí a expressão: “Foge cão que te fazem barão. Para onde se me fazem visconde?”. Talvez Camilo, amantizado com Ana Plácido e a viver a mesma vida dissoluta em detrimento de um crescimento intelectual, tal como vivia a família de Eusébio Macário (ele próprio um intelectual de pacotilha que acumulava na oratória definições da enciclopédicas), estivesse desta forma a tentar obter o seu título de visconde. É que nas obras que se seguiram a Eusébio Macário o pendor foi sempre o da glorificação da monarquia. E a Monarquia via nele o bastião contra a ideologia invasora dos costumes do reino. Por isso cedeu-lhe o título de visconde.

Como se disse, a história de Zola e a de Camilo assemelham-se no título, aproximam-se na data (Zola escreveu a obra em 1871 e Camilo Castelo Branco escreveu Eusébio Macário em 1879) e também na estrutura: ambos são compostos por vários volumes. A história dos Rougon Macquarts é descrita ao longo de cinco gerações através de 20 volumes escritos entre 1871 a 1893. Mas enquanto Camilo estava interessado em treinar o seu Realismo, Zola estava interessado em transpor para o papel os seus estudos e leituras sobre o darwinismo, o evolucionismo, a hereditariedade e o determinismo científico. Conta por isso a história de uma família com um número de membros reduzido, e que ao longo das várias gerações vai aumentando. O crescimento da família (o conjunto dos tomos tem mais de mil personagens que representam as más condições de vida daquela época, a inveja, a traição, a intriga) é condicionado pelo tempo e pelo espaço onde os seus membros vivem. Começam por viver da agricultura e passam pela arte, pela política, pela banca e os casamentos e cruzamentos entre membros dão origem a doenças físicas e mentais. Por isso se chama história Natural e Social de uma família.





- o carteiro -



- o carteiro -
Reabilitar o homem e canonizar a personagem:
O suicídio é visto por alguns como uma cobardia; por outros como um acto de coragem. E para outros, como um acto apenas. Talvez a associação que muitos fazem do suicídio à cobardia nos venha da religião, do Cristianismo que colocou ao mesmo nível num plano pós-vida, os que se suicidavam e os que assassinavam. Quem comete suicídio vai para o Inferno, não por ter colocado um "ponto final" na sua vida, mas por não ter aceite a Salvação por Cristo. Todos estavam condenados ao inferno (ver a parte da bíblia onde fala do suicídio), embora o suicídio seja um acto voluntário (excepto aqueles casos de suicídio forçado ou do harakiri). E falo do Harakiri porque acho que se relaciona com o que aconteceu com Judas Iscariotes, o apóstolo banido dos 12 e substituído após o suicídio por Matias. Este não é um post apócrifo nem cabalístico que defende as teorias ao estilo Dan Brown; pouco sedimentadas e com interpretações cruzadas em número suficiente para toldar a santa visão de um santo. É antes um post que pretende desmistificar – embora a figura esteja envolta numa certa mística – a ideia de que Judas foi o traidor de Cristo e que a sua morte foi um castigo da sua consciência. E que cada um tem direito de ministrar a si a morte que deseja pois por mais que se busque, a morte só existe para quem morre e não para quem fica a ver morrer.
Comecemos por distinguir Judas Tadeu de Judas Iscariotes sem grandes aprofundamentos pois para isso temos isto aqui . Acredito que Judas, o nome Judas signifique, como li em vários livros, “abençoado”. Embora em França o nome “judas” seja aplicado para designar uma pequena abertura utilizada por qualquer pessoa mal intencionada que pretenda espreitar o outro. E que Iscariotes remeta para a o conjunto de vilas de Queriote- Ezron (Josué 15, 21-25) e que quer dizer (cidade de Ezron). Como era costume as pessoas serem conhecidas pelo seu nome e pelo nome da sua cidades (Maria de Magdala, Jesus de Nazaré, etc…), não seria de estranhar que Judas Iscariotes fosse o “abençoado de Queriote”. Há depois quem decomponha a palavra e lhe junte “ish” que quer dizer “homem”. A outra teoria, também credível e muito divulgada principalmente no filme “A Última tentação de Cristo” de Martin Scorsese diz que Judas pertenceria a um grupo “terrorista” da época, uma espécie de anarquistas que pretendiam instalar uma nova forma de poder e expulsar os romanos. O nome Iscariotes viria então da união de Judas aos sicários (sicarii em latim quem dizer “punhal”), um sub-grupo dos zelotes que fazia incursões ofensivas contra os romanos que governavam na Palestina. Judas é apresentado em A Última Tentação de Cristo como um revolucionário que se junta a Cristo, primeiro com a intenção de vigiá-lo acabando depois por se render à mensagem de Cristo. Se assim fosse, era possível que Judas tivesse confiado em Jesus para liderar a revolta contra o ocupante romano. Mas perante toda a resistência de Cristo face à tomada de poder e violência, Judas entregou-o às autoridades. Há quem reverta o sentido desta história e a torne a grande razão pela qual Cristo conseguiu a sua morte em glória e consequente salvação do Mundo. Judas teria sido mandatado por Cristo para este o entregar ao Sinédrio e assim tornar irreversível a sentença da sua morte por evidentes provas.

Caravaggio
Taking of Christ
c. 1598
National Gallery of Ireland, Dublin
Mas o nome do homem não faz o homem. Pode persegui-lo, mas não o faz. Tenho a certeza que haverá muitos Adolfos sem problemas com raças ou megalomania. E que haverá muitas Marilyns de cabelo negro vareja. Por isso não podemos basear o destino de Judas no seu nome, embora o mesmo tenha ajudado a vincular a imagem de um homem traiçoeiro e embora tenha sido isso que a Igreja Católica fez. Antes de ser um traidor, Judas era o responsável pelos dinheiros do grupo de apóstolos. Ele era portanto o tesoureiro dos 12. Mostrou-se por vezes um pouco sôfrego, economicamente falando. Um das passagens da Bíblia que conta como Judas era apegado ao dinheiro é relatada por João (João 12, 1-6) quando, estando os apóstolos em casa de Maria e Marta, este demonstrou descontentamento por ter de desembolsar 300 dinheiros. É por este motivo, menos comum claro está, que o acto de denúncia de Judas é conotado com alguma avareza que até seria justificada com o facto de não o ter feito de livre vontade, mas sim a troco de 30 siclos (moeda da época e não 30 “dinheiros” como se costuma dizer). A Igreja e os seus doutores preferem dizer (e é isso que está escrito acerca da justificação para o seu suicídio) que Judas se suicidou porque depois de ter denunciado Jesus não foi capaz de lidar com o Desespero (filho do Diabo) e com os sentimentos de culpa; ou seja, não foi capaz de lidar com o peso da sua consciência. São três as passagens que falam do suicídio de Judas: Vemos isso em Mateus (Mateus 27, 3-5), em II Samuel (II Samuel 17, 23) (embora aqui se fale de Aitofel e não de Judas. Aitofel era conselheiro do rei David e traiu-o. Daí a comparação com Judas) e nos Actos dos Apóstolos (Actos dos Apóstolos 1:18). Porém, as passagens, quando analisadas podem ser consideradas contraditórias e feitas para esconder a morte falhada de Cristo. Bem, não há dúvida, segundo a história bíblica que Cristo morreu no madeiro. A forma como morreu já levanta algumas dúvidas. Há quem defenda até que a posição com que é retratado nos quadros não é a verdadeira: que se lhe tivessem sido pregados apenas pregos nas palmas das mãos e não lhe tivessem amarrado os pulsos, os tecidos humanos não aguentariam e Jesus teria escorregado da cruz e por isso não se teria mantido até expirar. A morte teria sido muito mais rápida ou então não teria sido assim. Mas como estava a dizer, o dramatismo da morte de Cristo pode ter sido empolado pela morte e traição de Judas. Note-se que a morte do Cristo é antecedida pelo seu consumo: antes mesmo de ter morrido, na Última Ceia, Cristo diz “Tomais e comei todos, este é o meu corpo…”(Marcos 14, 22). Ora com todo o respeito um animal não é comido antes de ser morto. Isto serve para corroborar a tese da consubstanciação em que a carne e o espírito habitam ao mesmo tempo na hóstia sagrada, ao contrário da Transubstanciação em que o espírito e a carne oscilam a sua presença na hóstia. Só o facto de Cristo já estar morto quando se dá a Última Ceia permite a sua ressurreição pois se ele se tivesse feito alimento – pão e vinho – depois de morto, isso seria um pleonasmo.
Giotto di Bondone
No. 28 Scenes from the Life of Christ: 12. Judas' Betrayal
1304-06
Cappella Scrovegni (Arena Chapel), Pádua
Há a possibilidade descrita no Levítico (Levítico 16, 5-22) de o sacrifício de Jesus mais não ter sido que uma recriação de um ritual anual de expiação em que se sacrificava não um cordeiro de um ano, mas dois bodes. Um deles seria crucificado para os pecados do povo e o outro para expiar esses mesmos pecados e por isso levado para o deserto ela abandonado preso a um arbusto por uma fita vermelha. De facto Cristo morre fora da cidade, no Calvário amarrado a um madeiro e com um manto vermelho. Jesus seria então o bode expiatório ao morrer desta forma. Seria necessário encontrar outra pessoa que fizesse de bode expiatório para Jesus ser apenas o “cordeiro”. Esse bode podia ter sido Judas pois a sua morte é que o mostra como um bode expiatório como vimos em Mateus. Há também aqui uma transferência de espíritos nestas duas mortes. Quando Jesus vem do deserto, antes da sua morte e antes da Última Ceia Lucas diz “E, acabando o diabo toda a tentação, ausentou-se dele por algum tempo.” (Lucas 4, 13), o que quer dizer que o demónio habitava no corpo do Salvador. Depois esta versão é de certa forma corrigida quando se diz em que Satanás já havia entrado no corpo de Judas antes da Última Ceia, quer dizer, no dia da Última Ceia, mas antes da mesma, e que o iria denunciar e que Cristo, também através do diabo, sabia deste facto (Lucas 22, 3-6). Pode relacionar-se uma coisa com a outra, mas se ainda assim não for suficiente para canonizar Judas, há outro facto relevante. Em Mateus e nos Actos dos Apóstolos há diferenças na forma como Judas morreu ou num pormenor muito importante que antecedeu a sua morte: Mateus diz que Judas se arrependeu e devolveu o dinheiro aos sacerdotes (Mateus 27: 4-6) e os Actos dos Apóstolos dizem que antes de se suicidar Judas teria comprado o seu campo de sangue; ou seja, o local onde iria morrer, quase como se tivesse adquirido uma campa num cemitério (I 16-19). Se foi como é dito em Mateus, Judas nada ficou a dever. Se foi como dizem os Actos do Apóstolos, Judas acabou por pagar o seu sacrifício. É tal como no sacrifício da expiação em que se matam dois bodes. Diz o Levitico que juntamente com o bode a pessoa terá de entregar dinheiro para que o Sacerdote faça o sacrifício da expiação. Judas teria entregue o seu dinheiro. A diferença é que num caso os sacerdotes pagam a Judas para ele se tornar o sacrificado e no outro é ele que paga a sua morte.

Jacques Callot
Mort de Judas
1635
Auckland Art Gallery
Gislebertus
Suicide of Judas
1120-30
StoneCathedral of Saint-Lazare, Autun
Por isso acho que Judas deve ser canonizado. Se a própria Bíblia diz ser uma passagem de difícil interpretação, porque é que se ostraciza o rapaz? Se há certezas quanto ao seu arrependimento, o que importa se o homem preferiu comprar um lugarzinho asseado para morrer? Ele não morreu mais rico! Deixem jogar o Judas.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
da China com amor

Aconteceu na China o que aconteceu aqui em Portugal depois de 2004. Após a “febre dos estádios”, que nos levou a construir mais estádios de futebol do que aqueles que efectivamente necessitávamos e que exigiam uma manutenção superior às capacidades das autarquias, os mesmos entraram num período de decadência. No estádio do Boavista joga um clube que esteve para terminar, em Leiria as ervas acumulam-se e em Aveiro, como o clube não sai da “cepa torta” e povo também não está para sair de casa e deslocar-se até à zona industrial para ver o Beira-Mar perder. Na China, após o muito falado e apreciado Ninho de Pássaro ter enchido o olho do mundo e o ego da China, deixou à sua obra o mesmo tratamento a que são votadas outras obras olímpicas: a negligência e o esquecimento. O estádio está vazio na maior parte das vezes que ali se realiza alguma competição, de tal forma que no mês passado a organização do estádio teve de baixar os preços dos bilhetes. Será da crise? Também, mas as receitas neste momento são tão magras que já há projectos para transformar partes da obra num centro comercial. Entretanto também se estuda a possibilidade da realização de óperas e espectáculos de entretenimento como a ópera Turandot encenada por Zhang Yimou (que foi concebida para celebrar os 60 anos no poder do Partido Comunista Chinês). Mas será isto suficiente? São 90 mil lugares. Qual é a probabilidade de se ouvir bem uma ópera? Ou uma peça de teatro? Ou de se ver bem e sentir interesse por um espectáculo de dança? Mais ou maior, neste caso, não é necessariamente melhor ou mais prático. Num momento em que cada vez tudo fica mais pequeno e concebido para um (os espaços de habitação, os automóveis, os telemóveis, etc), vai ser difícil encontrar alguma coisa grande para meter lá dentro.
- não vai mais vinho para essa mesa -

A andar nas ruas da capital lembrou-se que podia cruzar-se com ele. “E se isso acontecesse? Qual seria a probabilidade de isso acontecer”, pensou. Inconscientemente começou a caminhar mais perto da parede. “E se ele a achasse feia, ou mais velha ou mais magra?”, como na canção da Amália.

sábado, maio 23, 2009

- back to black -

"Look, it's my misery that I have to paint this kind of painting, it's your misery that you have to love it, and the price of the misery is thirteen hundred and fifty dollars." - Mark Rothko

segunda-feira, maio 18, 2009

- original soundtrack -


Tengo miedo del encuentro
Con el pasado que vuelve
A enfrentarse con mi vida...
Tengo miedo de las noches
Que pobladas de recuerdos
Encadenan mi soñar...

Pero el viajero que huye
Tarde o temprano detiene su andar...
Y aunque el olvido, que todo destruye,
Haya matado mi vieja ilusion,
Guardo escondida una esperanza humilde
Que es toda la fortuna de mi corazón.

Volver... con la frente marchita,
Las nieves del tiempo platearon mi sien...
Sentir... que es un soplo la vida,
Que veinte años no es nada,
Que febril la mirada, errante en las sombras,
Te busca y te nombra.
Vivir... con el alma aferrada
A un dulce recuerdo
Que lloro otra vez...

(Volver, Carlos Gardel na versão Penélope Cruz e Estrella Morente)
- não vai mais vinho para essa mesa -


- Que cara é essa? Aconteceu alguma coisa?
- Tive um sonho.
- Um sonho? E estás com essa cara?
- Um sonho erótico.
- … E estás com essa cara?
- Sonhei que…
- Não precisas de contar.
- Tive um sonho erótico com um tipo que eu conheço de vista, só de “olá, boa tarde”!
- E que tem?
- Fiquei a pensar que isso também poderia acontecer com ele. Já imaginaste a quantidade de pessoas que pode sonhar contigo nesses termos?
- Eu até acho elogioso.
- Depende das pessoas. E depende de conteúdo. Imagina! Tu és o caixote do lixo das fantasias sexuais dessa gente toda!
- Pensa antes que estás a contribuir para o bem do País. Enquanto existir gente que tem sonhos eróticos contigo, será gente, pela manhã, muito mais feliz, produtiva, bem humorada… Isso faz andar o país!
- Eu não quero ser a ejaculação de um velho caquéctico e mal cheiroso a quem dei uma moeda!
- Depende… deste uma moeda ou pagaste-lhe uma embalagem de Viagra?
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "that's what friends are for" ou como "hoje não temos um grande "antes de pois", mas como eu não também não sou grande, fica à medida. As duas pinturas contam uma cena mitológica que faz pensar os teógonos sobre quem criou quem. Sabe-se que os deuses criaram os homens, mas quando? Na mitologia grega começa por existir o Caos. Desse Caos nascem dois filhos (na mitologia grega, assim como na Natureza, os deuses tinham dois géneros, por isso era natural que se reproduzissem sozinhos): a Noite e o Érebo (fosso onde reside a Morte). Nasce também o Amor, a Luz e o Dia. Surgem depois a Terra-Mãe (Geia) e Pai dos Céus (Úrano) e deles, forças da Natureza como os Monstros: Ciclopes, Titãs e outros, que por vergonha Úrano aprisionou. A mãe não ficou nada satisfeita e pediu aos seus filhos Ciclopes e Titãs que enfrentassem o Pai. O único que teve coragem de enfrentar Úrano foi o titã Cronos. Numa rixa entre ambos, Cronos feriu o Pai e do sangue deste nasceram mais duas categorias de monstros: os Gigantes e as Fúrias. Os gigantes foram expulsos da Terra e as Fúrias ficaram (nota-se!) para punir os pecadores. Cronos casou com uma irmã, Reia, e reinaram por muito tempo. No entanto, Cronos temia uma profecia que dizia que um dos seus filhos o iria destronar, tal como ele havia feito com o seu pai. Por isso Cronos devorava os filhos quando estes nasciam (não sei se há, mas devia haver um complexo de Cronos). Quando Reia deu à luz o seu sexto filho, conseguiu escondê-lo de Cronos e enviou-o para longe. O seu nome era Zeus. Tal como dizia a profecia, Zeus destronou o pai.

Foi no reinado de Cronos que o Homem já tinha sido criado. Como era fraco e não tinha qualidades face aos deuses, o Homem vivia uma vida pobre e subserviente. Mas os homens, tal como as divindades, aspiravam a mais e tentaram derrubar Zeus ("matar o Pai", talvez uma antevisão do complexo de Édipo). Uns defendem que os humanos foram de facto criados pelos deuses, mas tornaram-se tão maus que os deuses tiveram de eliminá-los (versão que o Cristianismo mais tarde vai aproveitar para justificar a morte de Cristo), outras versões dizem que os humanos foram criados pelos deuses a partir dos metais. Outra versão conta-nos porém uma história diferente: a criação do Homem devia-se a dois Titãs irmãos (Prometeu e Epimeteu). Epimeteu (aquele faz antes de pensar) terá dado as melhores qualidades aos animais, qualidades essas como a força, a coragem, a manha, as asas para voar, as penas para cobrir do frio, as conchas para se abrigarem, não deixando nada para os Homens. Para contrariar e equilibrar isto Prometeu (aquele que está precavido) deu mais dignidade ao homem, tornou-o erecto como os deuses. Aqui a versão aproxima-se ainda mais daquilo que defende o Cristianismo pois diz que Zeus, com inveja dos homens e para castigá-los por ousarem assemelharem-se a deuses, puniu-os com a criação da Mulher. E deu à Mulher a caixa, a "boceta de Pandora" que continha todos os males do Mundo (sempre nós!). Prometeu não aceitou Pandora, mas Epimeteu sim e como se juntou "a fome com a vontade de comer", é fácil ver o que aconteceu: os dois curiosos abriram a caixa e soltaram-se os Males do Mundo.

Agora chegamos à parte que diz respeito a estes dois quadros. Estarão a pensar: "então para quê tanto paleio?" Porque também é preciso situar as pessoas. Apesar de ter sido Epimeteu a fazer asneira, quem incorreu na ira dos deuses foi Prometeu que os enganara aquando da escolha da melhor parte dos animais após o sacrifício. Quando um animal era sacrificado, uma parte era comida pelos deuses e, após o aparecimento do Homem, a outra era comida pelos homens. Cabia aos deuses escolher primeiro. Prometeu, que estava encarregue de procurar o animal e prepará-lo, tomou um boi gordo e depois de o abater embrulhou os melhores bocados na pele do animal e colocou por cima destes pedaços, as vísceras. Os piores bocados foram embrulhados em gordura que reluzia. Zeus escolheu entre os dois montes e obviamente escolheu aquele que reluzia; ou seja, os deuses ficaram com os ossos do animal morto. Como Zeus tinha escolhido de livre vontade, não podia contestar a escolha, mas mudou as regras: a partir daí apenas os ossos dos animais eram queimados nos altares de sacrifício aos deuses. Quando convidado para o banquete no Olimpo, Prometeu, não satisfeito, roubou uma centelha de fogo que deu aos homens e com isso deu-lhes também a possibilidade de maior autonomia face aos deuses e vantagem face aos animais. Zeus, em fúria, ordenou que Prometeu fosse agrilhoado por fortes correntes de metal ao Cáucaso, uma montanha muito alta. Como Prometeu não se calava com profecias que diziam que o Deus dos Deuses seria destronado, Zeus enviou-lhe uma ave que todos os dias, durante mil anos, voava até ao Cáucaso e roía o fígado do preso. Após isto o fígado regenerava-se e ave regressava no dia seguinte. Sempre assim. Ad eternum (quase... foram mil anos).

Muitos foram os artistas que pintaram Prometeu Agrilhoado. Rubens foi um deles. No auge da sua glória o pintor conseguiu uma boa e sólida rede de contactos e encomendas. Tão boa que nenhum homem, por mais expedito que fosse, conseguiria dar resposta a tanta encomenda sozinho. Por isso ele (e muitos como ele) criou uma espécie de linha de montagem de pinturas: o mestre fazia o esboço geral, dava as directivas, os pupilos davam a "primeira demão", faziam quase tudo e o mestre voltava para completar os pormenores finais. Os pupilos eram escolhidos segundo as suas destrezas: os que tinham maior capacidade para a pintura de animais (Paul de Vos e Frans Snyders), pintavam os animais, os que tinham mais jeito para a figura humana, pintavam figura humana, os que estavam especializados em paisagens (Jan Wilden), pintavam paisagem. Podíamos ter num só quadro a intervenção de quatro ou mais pessoas. Não deixavam de ser trabalhos de Rubens, mas convenhamos que não era trabalhos só de Rubens.

Pieter Pauwel Rubens
Prometheus Bound
1610-11
Museum of Art, Filadélfia


Jacob Jordaens
Prometheus Bound
c. 1640
Wallraf-Richartz Museum, Colónia
- o carteiro -




- não vai mais vinho para essa mesa -
I'd rather go naked than wear foul

Uma opinião é uma opinião é uma opinião
Apesar do muito que me apraz a aquisição de sapatos e roupa interior, tentei nunca postar sobre isso. Porque iria revelar os meus gostos mais do que aquilo que a blogosfera necessita de saber. No entanto após muito tempo de observação e investigação nas lojas da especialidade cheguei à conclusão que deveria escrever este post para tranquilizar a minha consciência.

Há uns tempos havia no Belogue uma rubrica que se chamava: “coisas que não compreendo”. Se a mesma não tivesse definhado hoje colocaria este post aí, mas visto que o que lá vai lá vai, deixo para o “carteiro” a notícia que me traz cá: a roupa interior das senhoras. Ao observar a forma como as senhoras compram e usam roupa interior percebi que as mesmas não atendem a quatro requisitos fundamentais: o “andar” de cima deve combinar sempre com o “andar” de baixo; a roupa deve ser adequada ao nosso corpo, medidas e à roupa que vamos usar (nada de enchouriçar as mamocas em soutiens mínimos e vestir uma t-shirt apertada por cima, ou usar uma blusa branca com soutien vermelho); nunca usar roupa interior com elásticos relaxados (umas cuecas não são assim tão caras!) e nunca usar por baixo aquilo que tem mesmo cara de que pode ser usado por cima. Vamos a este último ponto. Há uma razão para se chamar “roupa interior” e andar debaixo da “roupa exterior”; é a mesma razão pela qual não nos enxugamos com uma toalha de mesa após o banho, nem vestimos roupa de cama. A roupa interior tem as suas particularidades: é delicada, feita com tecidos confortáveis, perde a cor e a elasticidade com facilidade, etc… Independentemente das senhores preferirem roupa interior mais apimentada ou mais prática, com mais detalhes e efeitos ou com mais desportiva e simples, penso que uma senhora nunca deve usar estampados com Hello Kittys e personagens da Disney ou mesmo qualquer coisa que, adaptada a uma t-shirt de algodão, possa ser usada no dia-a-dia. E acreditem em mim que vejo muita gente sem roupa: há muitas senhoras que não dispensam do seu estampadozinho infantil.

Quanto à combinação dos andares prende-se ao com o meu perfeccionismo e sentido estético. É mais uma opinião do que uma regra, mas é a minha regra. O estado de conservação da roupa interior não deve, nunca (jamais!) ser descurado. Dizem que uma mulher se veste para agradar a um homem. Não sei muito bem o que é isso. Há dias em que me atavio e outros em que não. Mas sei que me engalano para me sentir bem comigo, porque gosto, porque quando me sinto bem comigo, sou uma pessoa melhor. Sei que parece muito “vamô tjirá o pé do chão, vamô sambá”, mas não é. Há depois quem pense sempre que nunca se sabe onde o dia vai acabar ou como vai acabar. Pode sempre ser-se vítima de um acidente e haver necessidade de um internamento. Nada melhor que estar preparado. Esta visão vai de encontro à ideia de que uma mulher se veste para os homens. Ou que se veste para ser despida por alguém e que por isso tem de estar preparada. Torna um acto agradável numa obrigação que é precisamente aquilo que não defendo. Assim como não andamos com nódoas no casaco, ou com as aclças descosidas, é de evitar andar com cuecas que pareçam já ter pertencido a alguém com o dobro do nosso volume.
Bem sei que não acham relevante, mas tinha de postar. Acho que às vezes as pessoas “emprenham” pelo olhar. Vêem o exterior, as calças que fazem o rabiosque maior, os mamilos falsos, os soutiens de água e atendem apenas ao geral, em atender à beleza dos interiores. A beleza dos interiores ajuda (-me) na beleza interior.