segunda-feira, outubro 27, 2008

- o carteiro -
agora que a hora mudou e que às 23horas já toda a gente boceja porque o corpo pensa que é meia-noite, achei por bem fazer um post sobre as horas. Parece que não há muito a dizer, não é? Talvez o filme tivesse mais, mas o filme só existe, o relógio só existe porque existem as horas. E existe uma explicação lógica para a sua existência.
Inicialmente as horas (do latim horae e do grego horai), não separavam as diferentes partes do dia e não estavam em nada relacionadas com o dia. As horas têm um significado pagão e estavam associadas à divisão tripartida do ano (uma divisão que hoje é feita em quatro partes pois não se eliminava o Outono): Inverno, Primavera e Verão. Na Grécia Clássica as horas estão relacionadas com Talo (que representava a florestação), Auxo (que representa a recolha o fruto) e Carpo (que representa a maturação), mas também com as Graças pois todas elas tinham uma característica diferente.
As Horas são geralmente representadas em dois conjuntos de seis: seis jovens à esquerda de Hélios e Apolo e seis jovens à direita, e os seus cabelos, segundo a representação, estão presos ao sol. Elas representam a concepção cíclica do tempo e a renovação periódica da natureza. Já na iconografia cristã a sua disposição está intimamente ligada à disposição que já antes tinham os anjos (os serafins de vermelho e os querubins de azul), à volta da Mandorla (espécie de trono amendoado onde Cristo governa os destinos terrestres e divinos. Temos aqui dois exemplos da representação das Horas. Neste temos apenas seis jovens, mas é como se cada um delas representasse, não um período de tempo concreto, mas um período colectivo como as actividades humanas que se desenrolam do início do dia ao fim do mesmo. A primeira jovem representa a primeira hora da manhã, a hora de acordar e arranjar. A terceira já tem uma roca na mão, o que quer dizer que já está a trabalhar. Uma delas toca um instrumento musical e a última, dorme.

Edward Burne-Jones
The Hours
1870-1882
Sheffield City Art Galleries, Sheffield

Mas a representação cristã também deu espaço a alguns gnósticos que viram nas Horas uma forma de codificarem o conhecimento religioso. Assim é usual as horas estarem associadas aos doze apóstolos ou, mais commumente, aos quatro evangelistas, uma vez que se dividia o dia em quatro partes.


Paolo Uccello
Clock with Heads of Prophets
1443
Duomo, Florença