terça-feira, setembro 30, 2008

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou como acabei de escrever 'hipócretas' e devo ter dislexia na escrita ou “como este quadro está quase para o blog como a Mona Lisa ou as pietás ou as Últimas Ceias estão para o ‘antes de depois’. Já tínhamos feito um antes e depois com o quadro de Renoir pois o seu filho Jean Renoir realizou um filme ("Paris does strange things") onde aparece uma cena muito semelhante à pintada pelo pai. E já tínhamos falado do quadro a propósito do seu primeiro dono: Caillebotte que aparece num auto-retrato com o quadro de Renoir em fundo.

Renoir gostava destas cenas ao ar livre e daquelas onde se podia experimentar a alegria parisiense de um Domingo à tarde. Muito diferente das escolhas de Seurat para um Domingo à tarde, mas certamente mais divertido. O Moulin de la Galette situava-se em Montmartre e devia o seu nome ao facto de ali se produzir um espécie de panqueca, que fazia as delícias da classe trabalhadora, das raparigas jovens e dos seus namorados, bem como dos artistas que apreciavam desta forma o bolo, o espectáculo do divertimento e tentavam angariar modelos para as suas obras. Era um local de engate para trabalho. Mais ou menos... Depois de muito tempo a dedicar-se às pinturas de plein-air, Renoir tinha sede de carne humana, de ver e retratar pessoas; por isso as figuras humanas neste quadro estão tão individualizadas. Nele vemos a irmã da modelo Jeanne, modelo de Renoir, pintores amigos, artistas conhecidos e pessoas ligadas ao movimento impressionista. Picasso tomou contacto com este quadro aquando de uma visita a Paris por ocasião da Exposição Universal de 1900. Aí pôde deambular pelos cafés, ver exposições, viver um pouco da vida boémia de Montmartre. Obviamente, Picasso apaixonou-se pelo lado decadente desta vivência boémia onde burgueses e prostitutas conviviam com toda a naturalidade. Seria até mais lógico Picasso pintar a partir de Toulouse-Lautrec, mas terá pensado, quem sabe, que Lautrec tinha feito o trabalho completo e por isso só restava pegar numa outra visão e transformá-la. Mas acho que o pintor espanhol não conseguiu isso; não conseguiu desfazer-se da visível influência de Renoir. Tal como Renoir fez no seu quadro, Picasso assume o papel de observador exterior, sugerindo apenas aqui e ali o exagero e a artificialidade que caracterizavam o meio e que Picasso enfatizava consoante o seu interesse por este ou aquele ângulo. Não é um quadro típico de Picasso, típico de nenhuma das suas fases nem é um Picasso do Cubismo, mas na minha opinião é um dos poucos em que se celebra a vida sem sarcasmo:"

Pierre-Auguste Renoir
Le Moulin de la Galette
1876
Musee d'Orsay


Picasso
Le Moulin de la Galette
1900
Solomon R. Guggenheim Museum, Nova Iorque

2 Comments:

Blogger João Barbosa said...

o moulin de la gallette parece sempre muito piroso nos quadros, mas em Renoir é do pior

30/9/08 8:16 da tarde  
Blogger Belogue said...

não costumo ver muito este quadro pintado por outros. só o vi no retrato do caillebotte e claro, na cena do filme. O renoir, obviamente não é o melhor impressionista, mas já que fala disso, estou a preparar um desafio para si e ... para quem o apanhar (ao desafio, claro).

1/10/08 12:39 da manhã  

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