quinta-feira, julho 24, 2008

- o carteiro -



Aposto que este, vocês não conhecem. Segundo Poussin, o mal do mundo era Caravaggio (segundo o Belogue, era Poussin). Possin achava que Caravaggio tinha vindo para destruir a pintura. Por nós, desde que fosse a pintura do próprio Poussin, venha ele! Esta é uma pintura que não se enquadra em nenhumdos géneros a que Caravaggio nos habituou: foi encomendada por Bellori para o local onde actualmente se encontra e cobria o tecto de um aposento que o cardeal geralmente utilizava para as suas experiências alquímicas. E é isso que foge ao normal em Caravaggio pois ele pintava cenas bíblicas – cujo sentido por vezes deturpava intencionalmente, cenas do quotidiano, retratos de santos, mecenas e personagens mitológicas, mas não pintou, no geral, muitas passagens mitológicas. O que pintou aqui também não pode ser chamado de pintura mitológica, pois não retrata um episódio em concreto, mas é um dos raros quadros dedicados a um tema não religioso (no sentido de religioso cristão). Trata-se de uma interpretação, de uma pintura decorativa, quase como se fosse uma encomenda para uma igreja, só que a interpretação neste caso é muito mais livre.



Caravaggio
Jupiter, Neptune and Pluto
c.1599-1600
Villa Ludovisi, Roma




O fresco é ocupado por três personagens que estão referidas no título: Júpiter no alto, montado numa águia pois esse é um dos seus atributos. Júpiter que destronou o seu pai, o tirano Saturno que devorou os seus cinco filhos mais velhos (entre eles encontravam-se Neptuno e Plutão), era o deus do fogo, dominava o fogo e por isso um dos seus atributos é o fogo. Mas para se ser o deus dos deus, é necessário ter domínio das coisas terrenas e das coisas etéreas. Nesta pintura Júpiter montado numa águia representa a transformação da matéria em estado gasoso, Em baixo temos Neptuno e Plutão. Quando libertou os seus irmãos do estômago do pai Saturno (daí o humor saturnino de que Sontag falava e que Goya. Este humor deve-se à festividade anual dedicada a Saturno, as Saturnais, que se realizava no solstício de Inverno, 21 de Dezembro e anunciava o Inverno, que como se sabe é uma época dada a comportamentos melancólicos. Lembremo-nos daquele texto publicado aqui no Belogue que falava dos quatro elementos e de como o Inverno era dado ao humor fleumático), Júpiter deu a cada um deles o poder de serem deuses de algo: Neptuno tornou-se deus dos mares é facilmente identificável pois é a figura que tem o tridente é uma figura cara e abusada pelas talassocracias. Plutão que ficou deus dos Infernos está perto de um dos cavalos que compunham o seu carro (o carro de Plutão era formado por quatro cavalos pretos (o que me faz um bocado de confusão nesta imagem porque o cavalo que Plutão tem a seu lado parece branco…) e por do Cérbero, o cão com três cabeças que guardava o Hades e não permitia que ninguém de lá saísse. Estas duas figuras juntas representam a Terra e a Água; ou seja, o estado sólido e o estado líquido, tão importantes para a alquimia. Por isso é que digo que esta pintura é atípica, pois geralmente Caravaggio não nos exige um conhecimento de mitologia muito apurado para descortinar o que é pintado, assim como não exige grande preparação bíblica para a interpretação dos quadros relativos a cenas da Bíblia. No centro da composição está aquilo que todos os alquímicos almejam alcançar: a pedra filosofal que está para a Alquimia como a reino do Prestes João estava para a Cristandade Ocidental. E nessa pedra filosofal, nessa grande esfera branca pintada ao centro do quadro estão pintados três signos: Carneiro, Touro e Gémeos; ou seja, os três signos que correspondem aos três meses de Primavera, o período e momento ideal para completar a obra alquímica.


Quanto a Poussin, só há duas palavras: inventio e imitatio; ou seja, invenção e imitação. A invenção era e e olhada como uma qualidade suprema de um artista, enquanto a imitação estava subjugada à invenção e pedia apenas que à ideia o seu refinamento para que algo pudesse ser traduzido de uma forma mais plausível. Na hierarquia da imitação, o mais nobre era a reprodução de seres humanos à imagem e semelhança de Deus, ou a reprodução de deuses. Os seres inanimados eram o patamar mais baixo da escala. E, caro Poussin, Caravaggio pintou muita gente!

2 Comments:

Blogger João Barbosa said...

mas afirmação de Poussin é excessiva, mas daí a dar cabo do senhora... não havia nexexidade, humm

24/7/08 10:33 da manhã  
Blogger Belogue said...

O Poussin era o mais clássico dos pintores clássicos e sem inventio ele realmente limita-se à repetição.

25/7/08 12:37 da manhã  

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