sexta-feira, julho 25, 2008

- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois ou "há uma grande confusão, anterior à colocação deste quadro na National Gallery, relativamente à pertença do mesmo e de um outro quadro pertencente ao pintor holandês de seu título “Lady standing at the clavecin”. Não a certeza se as duas obras foram ou não concebidas para serem mostradas juntas, uma vez que as duas se completam de imediato não só pelo título, pela matéria de entendimento subjacente aos dois, mas também devido à técnica utilizada por Vermeer para as pintar, técnica essa que é semelhante tornando-as bons exemplos do período tardio de Vermeer. Para além disso, no outro quadro existe no chão uma viola, o que pode indicar um dueto. São raras as pinturas de interior conhecidas de Vermeer que resultaram num grande fiasco. Para falar a verdade só me estou a lembrar de uma, uma Madalena penitente que agarra o seio naquilo que é claramente uma encenação. Todos os objectos de uma sala estão dispostos como se tivessem sido esquecidos de um quadro anterior. De resto, as pinturas de interior de Vermeer primam pelo pormenor e pelo significado desse mesmo pormenor. Nada é deixado ao acaso. Apesar da jovem estar perante o cravo, não aparenta estar devido ao rosto virado na nossa direcção e porque as mãos pousam mais no virginal do que o tocam. Talvez porque falta alguém para ouvir a sua música. Dizia-se que a música era o alimento do amor, mas neste quadro falta esse alimento, pelo menos para a jovem. Note-se que o banco em primeiro plano, banco esse que seria para uma visita, está vazio. Ela procura a pessoa que deveria estar lá sentada. E esta versão é corroborada pelos dois quadros pendurados na parede: se o ouvinte da jovem não está no exterior da pintura onde ela o procura com o olhar, pode ser que esteja nas montanhas (um dos temas de um dos quadros pendurados na parede à nossa frente). Ele é de facto o amor que o Cupido, o pequeno Cupido pintado nessa mesma parede representa. E obviamente, ela procura-o com anseio e total fidelidade pois o Cupido segura numa das mãos o arco, mas na outra eleva uma carta, símbolo do amor fiel. Já no quadro “Girl Asleep at a Table” que se encontra no MET, a mesma carta pode ser descoberta. O Cupido é da autoria de um pintor chamado Caesar van Everdingen e a pintura da paisagem pertence a Jan Wynants.
Mais uma vez, a luz chega do lado esquerdo da pintura, como é comum em Vermeer, a paleta de cores subsiste: branco, azul e alguns amarelos desmaiados. Mais uma vez também e tal como na Milkmaid, o quaddro que tratamos anteriormente, podemos reparar num rodapé de azulejos de Delft onde Vermeer pôde trabalhar o pormenor, as paisagens e elementos típicos destes azulejos, bem como o famoso azul de Delft.

Pelo menos nesta fotografia Moore está com uma expressão mais feliz; no sentido de “melhor conseguida”. No entanto, e mais uma vez, Thompson esqueceu-se da luz. O rosto de Moore não está iluminado e apesar da luz ter a mesma direcção que existe no original, não atinge a encenação na totalidade como Vermeer fez no seu quadro. As cores não vivem e, não fosse de facto a expressão de Moore e este era um quadro perdido. Ela não procura, como no original, o seu amor fora do quadro; tenta é seduzir-nos, levar-nos para dentro da pintura. Ela é muito mais concupiscente que a jovem do original. E de facto, nem sequer há um banco junto ao cravo. Para essa pessoa se sentar o que nos leva a crer que Moore, já iniciada no amor, não necessite nem do Cupido atrás de si, nem das montanhas, a não ser como sugestão de um amor activo:”

Johannes Vermeer
Lady Standing at a Virginal
c. 1670
National Gallery, Londres


Michael Thompson
Julianne Moore interpreta Vermeer
2001
Interview

1 Comments:

Blogger Ji|||i said...

aquilo ao lado do cravo da Moore nao é uma cadeira?

25/7/08 9:44 da manhã  

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