sexta-feira, dezembro 21, 2007

- o carteiro -

zangam-se as comadres...

Cézanne
Sainte-Victoire vue de la route du Tholonet
1895-1900
Musée de l'Ermitage, Saint-Petersbourg


Esta notícia do The Guardian veio mesmo a propósito (ou terá sido ao contrário?) deste post do Belogue. A arte e a política não andam de mãos dadas. No exemplo que postámos aqui era possível constatar que os políticos americanos não se sentiam à vontade perante determinadas obras de arte e que os seus gostos artísticos poderiam mesmo ser pontos a favor ou contra a campanha eleitoral. As próprias galerias faziam o trabalho prévio de “separar o trigo do joio” e mostrar apenas as obras que não suscitassem a polémica. Agora sabemos que a arte também pode servir de arma de arremesso para vingar pendências entre países. Neste caso, a Rússia (cujo presidente sucedeu a Bush na capa da Time como homem do ano em 2007) retrocedeu na decisão de levar até Londres a exposição “From Russia –French and Russian Master paintings, 1870-1925, From Moscow to St Petersburg” Sabe-se que a decisão é política porque a exposição, como se pode ver já estava planeada e anunciada e porque muitas das pessoas que gerem os países em questão são também gestores de museus. A retaliação de Moscovo à expulsão de território inglês de quatro diplomatas depois da morte de Alexander Litvinenko não se fez esperar. Ou melhor, como toda a vingança, serviu-se fria. A semana passada o Kremlin ordenou o encerramento de dois consulados britânicos, um em São Petersburgo e outro em Yekaterinburg. O governo russo disse que manteria as portas dos consulados abertas se Londres desistisse da investigação da morte do espião russo, e Londres recusou. Do lado russo diz-se que o museu inglês não garantia a devolução da colecção após o término da exposição, do lado inglês argumenta-se que não há conhecimento oficial do cancelamento, que ninguém foi avisado de nada e que se o problema é o receio de Londres reter a colecção, os ingleses comprometem-se por carta a devolver a mesma.

Fiquei a pensar em duas coisas: a primeira é que o que é da Rússia não sai da Rússia (os espiões, as investigações, as obras de arte) e a arte é um bem universal muito pouco respeitado. Tal como a venda de produtos durante os voos. Como o ar é de toda a gente, não se cobram impostos sobre o que é vendido. Então em território britânico, e segundo a Rússia, as obras ficavam desprotegidas. Eu já ouvi falar em courriers. Vocês não? E penso na política de intransigência de Londres que não está a levar Brown a lado nenhum: não o trouxe a Lisboa, não por respeito para com os que sofreram às mãos de Mugabe, mas por políticas internas, pela questão das colónias inglesas em África; e não o levará à Royal Academy of Arts.