terça-feira, setembro 18, 2007

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

hoje não há antes e depois. só a história destes dois quadros. quem quiser lê, quem não quiser, vê:

Pierre Auguste Renoir
Madame Josse Bernheim-Jeune et son fils Henry
1910
Musée d'Orsay, Paris, France


Uma das famílias de marchands mais reputadas do mundo da arte é a família Bernheim. Começou por ser um negócio do fundador, Joseph Bernheim, que comercializava materiais de pintura. Por sugestão de Courbet, o filho de Joseph, Alexandre Bernheim começa a apostar no mercado de arte, na compra, venda de obras e promoção de artistas. Nesta última vertente do negócio, são porém os netos do fundador, Josse e Gaston quem pratica um apoio directo, um mecenato quase florentino do qual Bonnard foi o principal beneficiário. O pai, Alexandre preferia os paisagistas e realistas francesas, bem como os representantes da Escola de Barbizon. A escolha não foi feliz sob o ponto de vista do lucro: na querela entre realistas e impressionistas estes levavam a melhor e em breve e inevitavelmente novos estilos se iriam instalar no território artístico e mesmo social. Josse e Gaston viram isso. Para não se colocarem na posição de canibais do negócio do próprio pai, fundaram a sua própria galeria de nome Bernheim-Jeune (jovem). Apostavam em Cézanne e Picasso, Seurat e Signac, Toulou-se Lautrec e Bonnard.

Em 1910 os dois irmãos encomendaram a Renoir o retrato das respectivas famílias. Num deles, no retrato que representava a mulher de Josse-Bernheim e o seu filho Henry, a senhora Mathilde-Bernheim mostrou desagrado pelo braço pintado por Renoir por achá-lo demasiado gordo. Mathilde fala do seu desagrado a Rodin e com a intenção de que este faça Renoir mudar de ideias e retocar o braço, convida os dois para um almoço de família. Rodin pede então no término do repasto para ver o tão falado retrato e estudando-o elogia largamente Renoir dizendo: "Este é o melhor braço que já pintaste". Renoir concorda e responde: "É verdade, gosto de carne!". O quadro não foi retocado e permanece assim no Museu de Orsay. (No livro "A Relíquia" de Eça de Queirós uma das personagens, dizia "Quero regalar a carne")



Pablo Picasso
Gertrude Stein
1906
The Metropolitan Museum of Art, New York

Durante o Inverno de 1906 Gertrude Stein posou para Picasso. Foram 80 sessões. Isso mesmo, 80 sessões que não devem ter sido só de trabalho, mas também de muita conversa e troca de ideias. Ao fim de 80 sessões, Picasso apagou a cabeça de Gertrude Stein. Stein usou sempre o mesmo fato castanho que aqui podemos ver. O pintor disse que já não a podia ver e partiu para Espanha. Estávamos no período azul. Quando voltou, Picasso pintou novamente a cabeça de Gertrude Stein sem uma única sessão, sem a ver. Mais tarde Stein fez um corte de cabelo tão estranho que ficou apenas com uma calota na cabeça, provocando a ira no mestre. Picasso terá gritado: "Então e o meu retrato?". Mas retorquiu em seguida: "Ao fim e ao cabo está lá tudo."