terça-feira, agosto 28, 2007

- o carteiro -

[porque também sou uma criatura de Deus Nosso Senhor]

Até já ou Nah-rak ik-tah tard (é assim que se pronuncia).
- o carteiro -

Para celebrar os dois anos de Belogue (se chegarmos lá), aproveitem para escolher o melhor e o pior post do blog. Os escolhidos serão publicados no dia de aniversário.

segunda-feira, agosto 27, 2007

- não vai mais vinho para essa mesa -

I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm, I don't give a damm and... that's enough.
- o carteiro -

- Três milhões de refugiados deixaram o Iraque desde 2003, devido à política de Sadam e a outros factores. Dentro do Iraque há o mesmo número de deslocados: os diferentes grupos deslocam-se para áreas mais homogéneas.

- Os refugiados iraquianos que saem do Iraque escolhem diferentes países por diferentes razões: a Síria porque é o território da região que está mais disponível para receber qualquer tipo de refugiados independentemente da religião. Durante um longo período a Síria chegou mesmo a proporcionar-lhes serviços de saúde e ainda lhes providencia educação. neste momento a Síria já não pode receber mais ninguém, até porque o governo sírio subsidiava bens como o pão, e o próprio Estado já não tem condições para tal. A Jordânia praticamente fechou as fronteiras em 2005, em parte por causa do excesso de refugiados e em parte devido aos próprios problemas demográficos do país. A população jordana é na sua maioria palestiniana. Não era uma boa ideia... O Líbano não é um país muito acolhedor para os Iraquianos, mas os cristãos iraquianos foram bem recebidos pelos cristãos libaneses
- Antes de fechar as fronteiras, a Jordânia acolheu os refugiados mais ricos, assim como o Egipto, o que só beneficiou as duas nações.

- O Egipto fechou as fronteiras após receber cerca de 150 mil iraquianos, na maioria sunitas. A Suécia recebeu entre 40 a 50 mil refugiados iraquianos. A América recebeu 700.
- A América não recebe mais refugiados porque isso seria admitir que a guerra estava a ser um falhanço. Por outro lado, segundo as leis de segurança americanas, uma família que, por exemplo, tenha pago o resgate de um filho sequestrado por terroristas, é considerada inadequada para entrar em território americano uma vez que ao pagar o resgate estava a contribuir para a causa terrorista.
- O Iraque, tal como o conhecíamos já não existe, mudou irreparavelmente. Os sunitas, por exemplo são um alvo fácil porque os seus nomes distinguem-nos dos Xiitas que controlam grande parte do território, principalmente Bagdade. Mas Bagdade já não é a cidade mais importante do Iraque. Quem controlasse Bagdade controlava o Iraque. Hoje há cidades como Kirkuk, Mosul, Basra e outras que funcionam como cidades-estado, com as suas próprias milícias, os seus senhores da guerra, as suas leis.
- O poder eleito não interessa. Quem tem o poder da rua é que comanda a rua e o país. O governo não controla nem providencia nada. São as milícias que controlam os diferentes ministérios e estes que se controlam entre si.
- As milícias não são só xiitas ou sunitas ou curdas. As forças americanas neste momento também funcionam como uma milícia, mas não a mais poderosa sequer. Neste campo os americanos são ultrapassados pelo Mahdi Army que controla quase na totalidade a polícia e o exército iraquiano.

(e continua, aqui...)
- o carteiro -
há mais um carteiro, mas ainda em produção. entretanto, e com a "postitização" do monitor, o melhor é dar andamento ao trabalho. o que é que diz aqui? "faz-me um submarino, por favor." e aqui: "desenha-me um ..." ilegível!
- original soundtrack -


É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
Senão não se faz um samba, não

Fazer samba não é contar piada
Quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não...
(…)

(Samba da Bênção, Vinicius de Moraes)
- não vai mais vinho para essa mesa -

às vezes melhor, outras pior...
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "ó Paolo, não te importas que faça um 'estudo' da tua Pietá?", "podes, mas vê lá isso por causa dos direitos de autor. não quero ter me que me aborrecer e ser chamado à Loja do Cidadão", "na boa Paolo, estás comigo, estás com Deus", "ai como eu temo isso!":

Paolo Veronese
Pietà
1576-82

The Hermitage, St. Petersburg


Agostino Carracci (irmão de Aniballe Carracci)
Pietá
1582
- não vai mais vinho para essa mesa -

dont' worry (you never did)! coração ao largo, capitão
- o carteiro -
Caro AM:
Em meu entender o uso da tinta directa na tela começou com os impressionistas. Como já tinham ultrapassado todas as questões bizantinas que dividiam a classe artística entre os movidos pela razão e os que se regiam pela emoção (o lado direito e esquerdo do cérebro), e como é sabido, foram os primeiros a explorar a técnica. Em Van Gogh isso foi sempre uma característica da própria pintura. Talvez por isso seja tido como pós-impressionista e não como impressionista. Preparava a tela com camadas sucessivamente mais espessas de uma cor base, pintando em seguida com pequenas pinceladas que não sei de eram o resultado de mistura de cores, mas que eram de certeza o caminho traçado pelo artista para uma nova forma de ver a arte. Acabou aí as telas limpinhas com sfumatto (à excepção de movimentos como o Simbolismo). As pinceladas tinham a espessura exacta do pincel e não se procurava disfarçar isso. Com pequenos toques obtinham-se manchas de cor que só à diatância e sabendo da capacidade da retina em percepcionar uma mensagem quando as partes que formam o todo se unem, Van Gogh abriu caminho para Seurat, para o pontilhismo e para o Divisionismo.

Mas julgo que pretendia era que eu falasse (escrevesse) sobre uma técnica chamada de Empastado (Impasto), muito usada por Auerbach, De Konning e Yeats no que se refere ao uso das tintas (acrílicos ou óleos) muito espessos, ou por Riopelle, no que se refere à aplicação da tinta com uma espátula. No caso de Riopelle que começou fortemente influenciado pelos surrealistas e pelos expressionistas, a evolução foi natural. Abandonou o tema ou qualquer uma das duas teorias dos movimentos referidos, para se concentrar na técnica apenas para conseguir novas texturas. Trabalhava com a espátula por cima de tinta escorrida e tanto aplicava mais tinta como gessos. Em Riopelle, parece não haver qualquer interesse: não há um tema, um objectivo, um centro de atenção, as telas não começam nem acabam, mas têm a mais valia de estarem mais perto da natureza do que muita pintura de plein aire, exactamente por essa aplicação dos materiais directamente na superfície de trabalho conseguindo diferentes texturas. Talvez tenha sido isso que levou Riopelle a enveredar mais tarde pela escultura (se gosto? Não. mas consigo ver as obras de Riopelle como obras de arte, uma vez que pensou e fez).

Jean-Paul Riopelle
La Tique
1954
Kitchener-Waterloo Art Gallery

Quanto a De Kooning, foi influenciado por Pollock, mas antes disso pintou fez pinturas realistas. Afastou-se cada vez mais do realismo ou do figurativismo e passou a concentrar-se numa das técnicas de Pollock: o quadro deveria ser a expressão imediata dos espasmos fiscos, dos movimentos do artista, do seu humor. Convém dizer que Kooning não se considerava expressionista abstracto e que de facto, mas suas obras e ao contrário das de Riopelle, há a visão de um mundo colorido onde identificamos algo do nosso mundo. Ou pelo menos podemos ambicionar fazer a ligação. (se gosto? Sim)
Willem De Kooning
Mulher VI
1953
The Carnegie Museum of Art

Depois de Van Gogh e dos pós –impressionistas , a verdade dos materiais não foi ocultada em detrimento do tema ou da teoria subjacente a um artista só ou a um movimento. E isso para mim é que é importante. Se é possível, se alguém pinta com a tinta crua saída directamente do tubo para os mais variados suportes e chama a isso arte ou técnica artística, não me incomoda. No momento em que alguém pensa nisso, sendo uma “boa ideia” ou não (lucrativa, chocante, original…), e o coloca em prática, já está a conceber um objecto artístico. Não pode é fazer como o ovo de Colombo e depois dizer, como muitas vezes se ouve “isto também eu fazia”. Ou acha que toda a gente que vai a museus e exposições sabe exactamente o que está a ver? E quantas vezes não tem de saber pois é uma expressão do artista que chega ao público numa percentagem residual face à totalidade do que era pretendido?
- não vai mais vinho para essa mesa -

Pérolas da música brasileira ou volta Nel Monteiro, estás perdoado:
Estou fazendo amor
Com outra pessoa
Mas meu coração
Vai ser pra sempre seu
O que o corpo faz
A alma perdoa
(…)
(Só para Contrariar) Só para contrariar a Winehouse deu a resposta
Chuva no telhado
Está frio o nosso quarto
E eu aqui, sem o seu abraço
Doido pra sentir seu gosto,
Doido pra sentir seu cheiro
(…)
Esse é meu desejo
Vê se não demora muito
Coração está reclamando
(…)
Quando você chegar
Tira essa roupa molhada
Quero ser a toalha e o seu cobertor
(Leandro e Leonardo)

Seu guarda
Eu não sou vagabundo
Eu não sou delinquente
Sou um cara carente
Eu dormi na praça
Pensando nela
Seu guarda
Seja meu amigo
Me bata, me prenda
Faça tudo comigo
Mas não me deixe
Ficar sem ela
(Bruno e Marrone)

domingo, agosto 26, 2007

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

- Olá boa noite. Bem-vindos ao último dia dos Truísmos Comentados de Jenny Holzer. Esta iniciativa foi da responsabilidade do computador, do blogger, dos fins de semana e do Belogue. Queremos agradecer a todos vocês por, ao longo de cerca de 2 anos e quase todos os fins de semana nos terem acompanhado... Sabemos que não fomos regulares, mas quem quiser ver o seu dinheiro devolvido basta fazer uma reclamação por escrito para a Beluga. Não são as "Quatro últimas canções", mas sim, os "Três Últimos Truísmos". Porque vale mais três truísmos postados do que um dedo no olho. Com vocês, Jenny Holzer:

- you should study as much as possible
- your actions are pointless if no one notices
- your oldest fears are the worst ones

sexta-feira, agosto 24, 2007


- o carteiro -


«Alô Dona Rosa, a sua filha chegou do Brasil!» 2



Há duas razões que me levam a escrever estes textos no Belogue: uma é a tal correspondência entre as diferentes artes e outra é o caos em que se encontram os museus. Não se trata da parte burocrática e política, mas sim da confusão com que os apreciadores de arte se deparam: quadros falsos que vão sendo descobertos como tal, quadros que se prova serem de um ou outro autor e até aí desconhecidos, os "antes e depois" aproveitados para dar como verdadeira esta ou aquela obra, as séries sobre um tema que certos artistas desenvolviam e que dispersos pelo mundo sem a informação necessária, faz com que as tomemos como únicas, as pinturas de aprendizes do mestre, ...
A Newsweek desta semana apresenta um artigo longo, mas bom param que gosta destas coisas e onde aborda o caso Pollock que morreu no dia 11 deste mês. De pintor maldito enquanto vivo a pequena mina dos coleccionadores por atingir com as suas obras valores astronómicos em leilões, Pollock nunca foi consensual. Em 2002 foram encontrados quadros atribuídos a Pollock num armazém de um amigo do pintor, também ele artista plástico. A autenticidade ficou provada em 2005 e a proveniência era credível. Os especialistas é que estão divididos, a mesma divisão que levou à prova ainda há pouco tempo de que um Van Gogh tido como verdadeiro, não o era. Os trabalhos encontrados, quando expostos, não foram identificados como sendo "by Jackson Pollock" e a ciência divide-se. As pinturas tinham sido feitas no atelier do amigo com materiais do amigo. As análises provam que pelo menos um pigmento utilizado nas pinturas descobertas só começou a ser comercializado após a morte de Pollock. Ao mesmo tempo, há uma técnica nas pinturas, que Pollock aplicava após o dripping e que só foi descoberta em 1998, muito após a sua morte. Se outra pessoa tivesse pintado os quadros, como saberia de uma técnica tão pessoal e só perceptível pela investigação científica?
Seja como for, um "Pollock mais ou menos" ou um "Pollock será?" ou mesmo m "Pollock que já foi, mas agora pode não ser, não sabemos", nunca valerá tanto quanto um "Pollock, Pollock".
- não vai mais vinho para essa mesa -
"Será que ela ainda é? Deve ser. Ou se calhar não. E se já não for? Não, não, deve ser. Com aquela cara de santinha, ainda deve ser. E daí... Às vezes as que têm cara de santinhas são as piores. E se a cabra já não for? É preciso ter uma grande lata! E falta de valores! "Ah e tal, que queria ter a certeza da outra parte, que não queria sem mais nem menos". Grande lata! A esta hora já metade do universo sabe menos eu. Com que então, já não é! E se ainda for? Se calhar ainda é."
- original soundtrack -

Peço desculpa por esta ser a segunda vez que coloco esta música. Peço também por estar mais para Camille Paglia do que para Barbara Cartland e por não ser feminista:

I made it through the wilderness
Somehow I made it through
Didn't know how lost I was
Until I found you

I was beat incomplete
I'd been had, I was sad and blue
But you made me feel
Yeah, you made me feel
Shiny and new

Like a virgin
Touched for the very first time
Like a virgin
When your heart beats
Next to mine

Gonna give you all my love, boy
My fear is fading fast
Been saving it all for you
'Cause only love can last

You're so fine and you're mine
Make me strong, yeah you make me bold
Oh your love thawed out
Yeah, your love thawed out
What was scared and cold
(...)

(Like a Virgin, Madonna)
- não vai mais vinho para essa mesa -

Elogio da idiotice 1
Entrar na banheira e pensar “mas o que é que eu vim aqui fazer”.

Elogio da idiotice 2
Entrar na banheira com a roupa interior vestida

Elogio da idiotice 3
Sentir mais dificuldade em escrever estas três linhas do que o “ars longa, vita brevis”.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois ou "vem aí muito texto":
O quadro de Pontormo é uma maravilha. Podem dizer: “ah e tal, é arte sacra, não tem piada, é só anjinhos e coisa e pronto”, mas a composição em si é fantástica e as cores (não fui a esta capela, não vi ao vivo, mas quando for, volto a escrever um post só sobre as cores. E que entre a asa de um falcão das florestas do Canadá pela janela dentro se isto não é verdade) do mais bonito contraste de cor da pintura. Melhor só o veneziano (digo eu).

Tudo gira em torno do corpo de Cristo morto, mas como se fosse uma grinalda de relações em pirâmide hierárquica (invertida no que diz respeito ao grau de santidade das personagens) e de idades: o olhar do jovem mais cá em baixo olha para fora e segura o corpo de Cristo, cujo tronco é segurado por outro jovem mais à esquerda que também olha para fora do quadro como se estivessem ambos a pedir ajuda. E isto não é efabulação: todo o resto do quadro nos leva a pensar isso, não só pelas expressões no rosto das outras figuras, mas pelo facto de elas estarem em acção, por se virarem de costas, por procurarem ajuda lá atrás, atrás do próprio quadro se isso fosse possível. Estes dois jovens podem ser então tomados por anjos que afastam do mundo material, o mundo dos vivos, o filho morto para entregá-lo a Deus. De reparar que a primeira figura não levanta o corpo em esforço, não tem o joelho assente no chão e a sua posição sugere-nos que é de facto um ser etéreo. O segundo jovem é então ajudado por uma mulher, provavelmente mais velha, que tem mais abaixo uma cabeça de uma outra mulher. Estas duas personagens femininas são devidamente enquadradas pela mão da Virgem. Se ela não aponta para o vazio, para o filho morto que lhe saiu do colo, deixando a pintura algures entre a Deposição e a Pietá, pelo menos ajuda a criar a ligação entre estas mulheres e ela própria, mais velha que as outras e sem dúvida o segundo ponto fulcral da pintura (o outro é Cristo). Novamente uma mulher de costas estende-lhe um pano. Não vai em busca de ajuda, nem fica a carpir o seu filho como as personagens que estão atrás. O último ponto de contacto desta grinalda é mesmo físico: a Virgem ainda toca com o joelho no joelho de Cristo, no momento em que estão a ser apartados. E atrás, claro, está o artista. Não ajuda porque quando ele nasceu já Cristo estava morto e ressuscitado há muito tempo e porque está cansado de tantas horas frente ao cavalete. (já existia cavalete nessa altura?)

Jacopo Pontormo
Deposition

1528
Cappella Capponi, Santa Felicità, Florence


Pasolini La Ricotta
(cena de um filme a quatro de seu nome RoGoPaG - Rossellini, Godard, Pasolini, Gregoretti)
1963
- o carteiro -

(a correspondêcia irá sendo entregue ao longo do dia)

«Alô Dona Rosa, a sua filha chegou do Brasil!» 1
Ora bem, não sou a melhor pessoa para dar esta notícia, visto nunca ter comido nessa cadeia de fast food, mas a Mac Donald’s abriu esta quarta feira em North Huntingdon, Pennsylvania, Estados Unidos da América, por ser este o Estado que criou o Big Mac. Ou como dizia John Travolta no filme Pulp Fiction “Le Big Mac”. O Big Mac foi criado em 1967 no restaurante Jim Delligatti's Uniontown e agora é vendido por todo o mundo. Todas as quartas feiras e durante um ano, o Museu oferecerá aos 100 primeiros visitantes um Big Mac grátis. Não sei se é muito hamburguer ou não, mas 100 visitantes deve ser mais do que alguns museus portugueses têm por dia. Falta-lhes dar um pastelinho de bacalhau e um copinho de aguardente.

A notícia até podia ser hilariante e os poucos leitores do Belogue poderiam pensar que esta era uma crítica à sociedade moderna, ou à sociedade americana. Mas não é, porque aquilo que nos intriga no Belogue é: o que é que está exposto, ou o que é que se pode ver no Museu do Big Mac? Big Macs em porcelana, em MDF e em poliestireno expandido? A forma de confeccionar um Big Mac com empregados de cera e hamburguers cobiçados por moscas? E os vigilantes dizem aos visitantes: “não pode tocar” ou “não pode comer”? E as varejas entram ou está-lhes vedado o acesso?
Site para já não há, mas neste link, no slide show podem ver dentro do museu um Big Mac gigante. Relevante!
- não vai mais vinho para essa mesa -

em Espanha é "tontear"

quinta-feira, agosto 23, 2007

"Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã"

(Chico Buarque)
- original soundtrack -

Maysa Matarazzo fez parte da banda sonora d' "A Lei do Desejo" de Almodovar, onde cantou "Ne me quittes pas". Maysa que tinha uns olhos capazes de matar moscas em Balikpapan, cantava boleros regados de Anafranil. Fica aqui o lindíssimo "Ouça":

Ouça, vá viver a sua vida com outro bem
Hoje, eu já cansei, de pra você não ser ninguém
O passado não foi o bastante pra lhe convencer
Que o futuro seria bem grande, só eu e você

Quando, a lembrança, com você for morar
E, bem baixinho, de saudade você chorar
Vai lembrar que um dia existiu
Um alguém que só carinho pediu
E você fez questão de não dar
Fez questão de negar

(Ouça, Maysa Matarazzo)
- não vai mais vinho para essa mesa -

é como estar sempre na mira de uma arma, sem ninguém para puxar o gatilho de vez
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Tu quoque, Bruti, fili mi:

Este senhor está para as nossas mães como o Jeff Koons estava para os nossos pais. Faz esculturas em tamanho real de obras de arte consagradas: algumas são pinturas, outras são fotografias. Mas ao tornar tridimensional o que é de origem bidimensional, transforma o seu próprio trabalho num monumento kitsch. Parece que os bibelots das nossas avós (e de algumas mães), cresceram e infelizmente, materializaram-se. Como a estátua da Julieta em Génova(?) ou uma qualquer estátua num jardim nas Caldas da Rainha a quem toda a gente apalpa a maminha. Também haverá quem se sinta impelido para posar junto das figuras.
Koons pelo menos era assumidamente kitsch com os seus cãezinhos e as fotografias saturadamente coloridas da ex-mulher Cicciolina. Era isto que os pais gostariam de levar para casa (alguns pais).

Manet
Chez le père lathuille
1879
Museé des Beaux-Arts



John Seward Johnson, Jr.
The Eye of the beholder

1997
- o carteiro -

Abriu recentemente em Liverpool o novo International Slavery Museum , isto no seguimento das comemorações da abolição da escravatura em Inglaterra. O museu, situado no Maritime Museum que sofreu algumas obras para poder receber a colecção, tinha como objectivo celebrar esse feito político e social, mas também dar a conhecer às gerações posteriores o que foi a escravatura. Porém, o museu está mais virado para a exposição de artefactos de tortura do que para a sua integração temporal e contextual. Lá é possível encontrar os mais arrepiantes instrumentos de tortura mas segundo a crítica, o estudo museológico não superou a barreira do óbvio e primário e limitou-se a expô-los com explicações bastante básicas do que estava a ser observado, sem um tratamento transversal das matérias. Não há uma valorização das pessoas, mas uma vitimização, não há a explanação do seu modo de vida pegando nos mesmos objectos ou mesmo em outros que poderiam contar a história das comunidades, mas parte-se antes para uma condescendência e desdemocratização das comunidades ao retirar-lhes a possibilidade de tratamento semelhante ao que teriam “artefactos WASP” num “museu WASP”.
Em todo o artigo, o parágrafo que destaco é o seguinte:




Este tipo de tratamento que veicula uma mensagem que pode não ser a mais adequada, o que veicula apenas uma mensagem não deixando aos visitantes a possibilidade de ter outras visões da história, é um pouco semelhante ao que se faz um pouco por todo o mundo com a reconstrução da História, da arte, numa tentativa desesperada de recuperar uma entidade perdida ou simplesmente de encontrar uma nunca tida. Umberto Eco no seu livro Viagem na irrealidade quotidiana descrevia a cultura vigente nos Estados Unidos como a cultura do falso. Da criação de ambientes em museus (uma linha da museologia que não segue a cronologia mas a semelhança de estilos), recriando cenas que nunca tiveram lugar, ou expondo obras que são cópias de originais já perdidos (por exemplo, uma estátua grega que nunca foi encontrada), ou versões mais pobres de obras que se encontram em outros museus como os (Girassóis de Van Gogh na National Gallery e os Girassóis de Van Gogh na Neue Pinakothek ). Embora se proceda sempre a uma identificação da peça reforçando a ideia de que não se trata do original, se o original está longe, ninguém se importa de ficar com a cópia. O mesmo acontece em qualquer museu europeu: se não posso levar aquele quadro de que tanto gosto, posso sempre comprar o postal, o tapete para o rato, o íman para o frigorífico. Mas pelo menos vi o verdadeiro. Talvez a questão do que é verdadeiro ou não resvale para o impertinente e pedante, mas se ao que falamos atrás juntarmos a reprodução de partes de cidades europeias em Las Vegas, ou a reprodução da Casa Branca em outras cidades dos Estados Unidos, ficamos com uma ideia de que a apologia do falso é não só resultante da falta de conhecimento, mas também do tratamento da informação. Contudo, não é só nos Estados Unidos que este fenómeno tem lugar: a Alemanha tenta reconstruir a sua imagem após duas guerras, recuperando para isso as suas cidades medievais, guerreiras e de certa forma, recuperarem uma identidade que já nada se adequa com o momento presente.

Dizia Walter Benjamim em "The Work of Art in the Age of Mechanical Reproduction” (obviamente não sei isto de cor):


"For the first time in world history, mechanical reproduction emancipates the work of art from its parasitical dependance upon ritual. To an ever greater degree the work of art reproduced becomes the work of art designed for reproducibility. But the instant the criterion of authenticity ceases to be applicable to artistic production, the total function of art is reversed. Instead of being based on ritual, it begins to be based on another practise — politics."
- não vai mais vinho para essa mesa -

acabar com o Belogue seria como desistir da natação ou deixar de ler. continuar com ele é como viver sempre numa mesa de jogo.

quarta-feira, agosto 22, 2007

- o carteiro -

Saí, ...

Edward Hopper
Rooms by the Sea
1951
Yale University Art Gallery, New Haven, Connecticut

fui para a Formiga Bargante.

Edward Hopper
Automat
1927
Des Moines Art Center, Iowa

terça-feira, agosto 21, 2007

m****, m****, merda (não aguentei)
- original soundtrack -

raio de música mais bonita!

You don't know what love is
Until you've learned the meaning of the blues
Until you've loved a love you had to loose
You don't know what love is

You don't know how lips hurt
Until you've kissed and had to pay the cost
Until you've flipped you're heart and you have lost
You don't know what love is

Do you know how lost hearts fear
The thought of reminiscing
And how lips tasting of tears
Loose the taste for kissing

You don't know how hearts yearn
For love that cannot live yet never dies
Until you've faced each dawn with sleepless eyes

(You don't know what love is, Chet Baker)
- não vai mais vinho para essa mesa -

1 - o carteiro ainda está a orientar o correio.
2 - eu sou mais.
- não vai mais vinho para essa mesa -

[1]
Senhor Berardo, largue os microfones e as câmaras. Deixe o Benfica para quem sempre esteve lá, o CCB para quem aprecia e o BCP para quem sabe e veja lá se consegue fazer parte deste grupo, desta equipa. Dói, não dói?
[2]
Robespierre de farmácia:
[3]
Podes tirar o homem da pedofilia, mas não podes tirar a pedofilia do homem.
[4]
[5]
E a ressurreição de Estaline, Mao e Pol-Pot.
- o carteiro -

Este post estava preparado há algum tempo, mas esperava o dia em que pudesse confirmá-lo, até porque escrito no calor (da noite) dos acontecimentos, o conteúdo poderia ser duvidoso. Mas hoje confirmei o que já estava parcialmente escrito. Embora “o carteiro” não se dedique a estes temas, é nele que vou inseri-lo.

Uma pessoa levanta-se de manhã e veste o seu vestido vermelho (semelhante ao da imagem no comprimento e no corte, mais discreto no decote). Não passa pelo espelho, não hesita entre levar e não levar: é aquilo que quer usar e não há ninguém que a demova (excepto o tempo, mas mesmo esse está de feição). Sai de casa e apesar da hora ainda não ser propícia a grandes movimentos, os primeiros transeuntes com quem se cruzam não disfarçam sorrisinhos, alguns arriscam a buzina do carro (uma coisa que entrou em desuso desde quê? Os finais dos anos 60?) e vêm as primeiras palavras. Algumas inocentes, sem consequências, até engraçadas. Outras de puro mal gosto, de nos fazer ter vontade de voltar atrás e vestir a primeira camisola de gola alta, ou então andar pelos cantos, junto às parades para disfarçar e para ver se ninguém repara.

Eles disparam com mais ou menos pudor, e outra coisa não seria de esperar (não por quem usa, mas porque lhes está na natureza olhar dessa forma para o invólucro), as palavras do costume, algumas lisonjas, mas na maior parte das vezes, com sabor a ameaça e a recriminação. De “bom rabo” a “estás mesmo a pedi-las”, vai um variado leque dos chamados piropos. O que é um rabo? Um aglomerado de moléculas, células, tecidos, músculos, carne e pele. Para além da função escatológica, não serve de grande coisa. Eu se fosse braço ou perna sentir-me-ia insultado por ser preterido em relação ao rabo. E o que é um braço ou uma perna, senão a extensão de uma função corporal. Já o “estás mesmo a pedi-las” é o mote para virar costas (melhor, virar de frente, pois de costas já uma pessoa estava), levantar o indicador e proferir uns impropérios. Mas assim seria uma pessoa que para além de “estar a pedi-las”, era mesmo “uma galdéria” pois ainda ripostava. O melhor é continuar com as costas voltadas e pensar que o aquilo a que se referem é à água nas florzinhas. É argumento falacioso: quem quer não pede, vai buscar.

Elas, são a verdadeira desilusão. Ouve-se de dentro dos carros: “olha para isto, depois dizem que os homens isto e que os homens aquilo. Quase que se despem! Está mesmo a pedi-las”, “até nem está destapada. O vestido é abaixo do joelho”, “mas é justo”, “cada um usa o que quer”, “e cada um vê o que quer, não é? Se eu não te conhecesse”. E o vestido vermelho passa, de cabeça levantada porque não tem nada de que se envergonhar e deixa de acompanhar a prosa familiar até porque entre “marido e mulher ninguém, mete a colher”, e muito menos o vestido vermelho de outra mulher. Que um espécime masculino assim pense, não é estranho nem revoltante,... quer dizer, não é nada (excepto a parte do “está a merecê-las”). Revoltante é pensar que uma mulher pensa isso de outra só porque nesse dia não vestiram as duas como acontece uma vez num milhão, vestidos vermelhos iguais.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois ou, não sei...

Gianlorenzo Bernini
The rape of Proserpina
1621-22
Galleria Borghese, Rome


Vik Muniz
Pluto and Proserpina

2003

segunda-feira, agosto 20, 2007

- não vai mais vinho para essa mesa -

(nem alheira)
Caramba, acho que engordei.
- original soundtrack -

pedro, gostei postei:

Stay out super late tonight picking apples, making pies
put a little something in our lemonade and take it with us
we’re half-awake in a fake empire
we’re half-awake in a fake empire

Tiptoe through our shiny city with our diamond slippers on
Do our gay ballet on iceblue
birds on our shoulders
we’re half-awake in a fake empire
we’re half-awake in a fake empire

Turn the light out say goodnight
no thinking for a little while
lets not try to figure out everything it wants
It’s hard to keep track of you falling through the sky
we’re half-awake in a fake empire
we’re half-awake in a fake empire

(Fake Empire, The National)
- não vai mais vinho para essa mesa -

"offer very little information about yourself"

(Jenny Holzer, Truims)

- o carteiro -

o verdadeiro carteiro está under construction, haverá mais um ars longa, vita brevis, há música e quanto a isto não estar pronto já: acontece!
- não vai mais vinho para essa mesa -

- queria um recibo deste almoço (uma sopa), por favor.
[irritado e irónico]:
- porquê, é para o seu IRS?
- não, é para o seu IRC.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

[tão fashion que nós estamos]
Damien Hirst vai desenhar uma colecção de roupa para a Levi's que se vai chamar Factory X Levi's X Damien Hirst. Talvez a Levi's esteja a precisar deste empurrãozinho para enfrentar a concorrência que vende muito mais barato em tempo de crise. Quer dizer, é uma opinião. Se Hirst não crevejar o símbolo da Levi's com brilhantes...
- o carteiro -
O diabo está nos pormenores. E nos cães.
Se antes me detinha perante uma composição que suspeitava já ter visto em outra obra, hoje o que me prende a atenção são... os cães. Notei, há algum tempo, que os quadros executados entre o século XV e o século XVIII têm, consoante os autores e as temáticas: cenas da mitologia, banquetes, retratos de nobres (mais elas do que eles), e outros em que a presença dos animais não se justifica, mas eles estão lá. Apresento para já alguns exemplos:

Neste caso, como temos a deusa da caça retratada é natural que a mesma esteja acompanhada dos seus fiéis amigos que a protegem e que vão buscar o fruto da caça.

François Boucher
Diana no banho
1742
Museu do Louvre, Paris

No entanto, neste caso, já não se percebe porque é que Ticiano fez Danáe acompanhar-se de um cão, no momento da fecundação. Danáe estava ser fecundada por Zeus que assumiu a forma de uma chuva de ouro. Um cão enrolado, e minúsculo está à cabeceira da princesa grega. Avanço com a hipótese de, como se trata de uma princesa, Ticiano ter pintado Danáe acompanhada por um animal de estimação tal como pintaria uma princesa vestida acompanhada do seu cãozinho.

Ticiano
Danáe com a Criada
1553-1554
Museu do Prado, Madrid


Com Circe volta a fazer sentido a presença dos cães: os amantes humanos de Circe assumiam a forma de animais.

Dosso Dossi
Circe e os seus amantes numa paisagem
1525
National Gallery of Art Washington

E Cleópatra, porquê tem a rainha um cão perto da mesa de banquete. É difícil investigar esta questão. Facto é que em retratos de banquetes esta é uma imagem recorrente. Não sei se para colocar a tónica no lado mais caseiro e familiar do banquete (à excepção do banquete de casamento, nem todas as classes podiam ter e assistir a um banquete e como é óbvio, havia diferenças segundo a classe social em questão), se para sublinhar o sentido ainda mais luxuriante e exótico dos banquetes reais: um cão ao fundo de uma mesa pode sempre ser presenteado com os restos de comida que o seu dono não quer. Talvez seja uma noção vinda da Antiguidade Clássica onde pelo menos nos banquetes romanos o desperdício de comida e mesmo a avidez eram comuns. Já com os gregos era diferente, embora um cão se destaque entre todos os ca~es gregos: o de Ulisses que esperou pelo seu dono e foi o primeiro a reconhecê-lo. (Já aqui referi num post muito antigo a relação entre os cães e os homens na literatura. Também em Frei Luís de Sousa é o cão que primeiro reconhece o romeiro, antes mesmo de qualquer humano, na Bíblia é o cão que que primeiro vai ter com o cadáver de Abel e no Fausto, na lenda que deu origem ao livro e ao filme e às peças e às óperas, o médico fazia-se acompanhar de um cão negro que segundo se afirmava tinha o diabo aprisionado nele. O Orlando de Virgina Woolf fazia-se acompanhar de um cão, seu único parceiro.)

Giovanni Battista Tiepolo
O Banquete de Cleópatra
1743-1744
National gallery of Victoria, Melbourne

Nesta outra pintura de Ticiano um cão ladra para um pequeno fauno que arrasta a cabeça de um animal. Talvez para conferir mais tensão ao tema, mas o cão não se justifica no mesmo. Sem este elemento a composição até poderia perder força no corte abrupto das linhas de força, mas a colocação de um cão é também ela um exagero.

Ticiano
Baco e Ariadne
1520-1522
National Gallery, Londres


Prometo voltar a este tema que muito me interessa, assim que tiver menos trabalho.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
antes e depois, ou "Ai chega, chega, chega, chega ó minha agulha, afasta, afasta, afasta, afasta ó meu dedal, brejeira, não sejas trafulha, ó bela vem cozer o avental...":

Alessandro Botticelli
Annunciation
1489-1490
Galleria degli Uffizi, Florence, Italy


Mary Ellen Strom
"Sheila Gallagher and Marley Tomic-Beard" Two Channel Video Projection. (Video Still No. 1)
2006

sábado, agosto 18, 2007

- não vai mais vinho para essa mesa -

[truísmos em rebajas. 70%!]
- olá bom dia, posso ajudá-la?
- só estou a ver.
- se precisar de ajuda...
- olhe, já agora queria saber se só tem estes truísmos.
- não, ainda temos três lá dentro. foi o que sobrou da colecção.
- vou experimentá-los. podia trazer-me o XS?
- sim, mas só pode entrar com 5 truímos de cada vez.
- então deixo estes aqui e depois...
- depois peça os truísmos que eu levo. estou mesmo aqui.
...
- olhe, estes ficam-me bem. gostei logo do primeiro.
- "you can't expect people to be something they're not"? tem-se vendido muito bem. aqui estão os outros cinco. faça favor...
- obrigada.
...
- então, gostou de algum?
- destes cinco gostei do segundo, do terceiro e do quinto. mas olhe, vou levá-los a todos.
- estão em promoção!
- pois, e eu estou a precisar de truísmos.

- you can't expect people to be something they're not
- you can't fool others if you're fooling yourself
- you don't know what's what until you support yourself
- you have to hurt others to be extraordinary
- you must be intimate with a token few
- you must disagree with authority figures
- you must have one grand passion
- you must know where you stop and the world begins
- you can understand someone of your sex only
- you owe the world not the other way around

sexta-feira, agosto 17, 2007

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

não é um "antes e depois", mas é a arte de nadar:

- Ó menina Marilyn francamente!
- Ó senhor professor…
- De biquini? Quantas vezes tenho de vos dizer que para a piscina têm de trazer fato de banho. Não precisa de ser uma burca, mas é para tapar, não é para mostrar. Vocês vêm aqui para competir. Vá lá arranjar-se, vestir um fato de banho e chega de exercícios de aquecimento!
- Mas senhor professor, eu ainda não aqueci tudo!
- Se a menina aquecer um bocadinho mais, morremos todos electrocutados. Salte lá para dentro mudar de roupa! 40 bruços, 40 costas.
- Ó senhor pr...
- Ó senhor nada! Ai a menina...
- original soundtrack -


Ich bin die fesche Lola, der Liebling der Saison!
Ich hab' ein Pianola zu Haus' in mein' Salon
Ich bin die fesche Lola, mich liebt ein jeder Mann
doch an mein Pianola, da laß ich keinen ran!

Ich bin die fesche Lola, der Liebling der Saison!
Ich hab' ein Pianola zu Haus' in mein' Salon.
Und will mich wer begleiten da unten aus dem Saal,
dem hau' ich in die Seiten und tret' ihm aufs Pedal!

Lola, Lola – jeder weiß, wer ich bin
Sieht man nur mach mir hin,
Schon verwirrt sich der Sinn.
Männer, Männer - keinen küß ich hier
Und allein am Klavier,sing die Zeilen mit mir.
(...)

(Ich bin die fesche Lola, Marlene Dietrich)
- não vai mais vinho para essa mesa -

poderá um blogger (moi) postar e depois chegar a este momento de conversação e não ter nada a dizer? pior; fazer do post uma pergunta o que claro, pede uma resposta?
bem, posso sempre dizer que hoje o dia é mais animado, não é AM? (outra interrogação,mas que vem a ser isto? Outra, chiça!!!), que a música continua a ser a do baú e que não faço ideia do que quer dizer "fesche Lola", embora me lembre que a personagem feminina de "O Livro Negro" cantava esta música numa festa de oficiais nazis.
- o carteiro -

Van Gogh
Fifteen Sunflowers in a Vase

1888
National Gallery, London

Quando a minha idade era outra que não esta, a escola era longe, a casa era abaixo da linha de comboio e vê-los passar não era passatempo. Meter-me debaixo deles não era ideia, era pesadelo. A escola tinha muita gente que se foi conhecendo que trocava cromos de caderneta, que ganhava e perdia berlindes (uma vergonha perder a Vaca Leiteira, o berlinde grande e branco), o pião uma incógnita, a corda um vício e o elástico, uma forma dos rapazes nos verem as a roupa interior porque toda as raparigas usavam saia e o jogo obrigava duas a colocar o elástico atado à volta das pernas abertas. E jogo lá ía: “mete, mete, tira, tira, mete, vai ao meio e sai pra fora. E mete (duas palmas) e tira (duas palmas), mete vai ao meio e sai pra fora”. E menina que saísse sem tocar no elástico era menina vencedora. Não havia prémios, havia amizades convenientes. Quase todas acabavam com a passagem para outra escola e as intrigas habituais: os primeiros desamores. Como a amostra era pequena, o “acasalamento” dentro da amostra era mais que provável e fazia os seus estragos.

Na escola gostava de tudo, não gostava de mim nem dos que tinham mau hálito. Não me sentia eu e as diferenças sociais eram muito notórias. Em casa não havia pão fresco todos os dias, nem manteiga para barrá-lo (era margarina), não havia refrigerantes, nem chocolates (no Natal, duas bengalas e dois guarda-chuvas pendurados na árvore para cada um), não havia aparelhagem, não havia mais meninas na rua. Brincava sozinha com as bonecas que vinham de natais muito passados, servindo chá a cada uma, em chávenas improvisadas com vasos e por vezes, arriscava a pele com um pires da cozinha. Não falava com elas, não falava com ninguém e não me importava. Todos os dias dava “uma de mão” de água à parede caiada de branco, só para vê-la mais branca. E nas portas também para avivar a cor-de-vinho. Vinho era palavra non grata em casa embora ainda não soubesse o que queria dizer “non grata”, mas fica sempre bem o estrangeirismo. Quando não havia nada que fazer os rapazes da rua vinham buscar-me a casa para ir para o sótão dos três irmãos e “fazer o amor”. Cada um na sua vez deitavam-se por cima de mim à espera de sentir alguma coisa, mas não soube que alguma vez tivessem sentido. Voltaram lá. Fugi.

Aos fins de semana descansava-se e com sorte via-se a matança do porco. Colocava a cadeira na fila da frente de uma sala vazia, os homens à volta dele, as mulheres lá dentro a beber vinho, o porco a chorar, o cheiro nauseabundo de carne e pêlo queimado (chamuscavam o pobre com agulhas de pinheiro), e quando os outros homens estavam afastados, o responsável espetava-lhe a faca. E o sangue jorrava para uma bacia até se esgotar. Uma mulher corria para apanhá-la e misturar o sangue com vinagre. E depois era ver cortá-lo: horas e horas na matemática da fome até ao fim da noite. Quando a operação ao ar livre expirava e os mosquitos começavam a fazer o trabalho sujo, pegava na cadeira e levava-a de volta para dentro. Um fio de sangue escorria a poucos centímetros da perna da cadeira.
- ars longa vita brevis -
hipócrates

antes de depois ou "hoje não há "ou" porque o Pasolini era excelente. O Fiorentino não lhe fica atrás. Bem melhor que o Ritcher que tem nome de chocolate":

Rosso Fiorentino
Descent from the Cross
1521
Cathedral, Volterra


Pasolini
La Ricotta (cena de um filme a quatro de seu nome RoGoPaG - Rossellini, Godard, Pasolini, Gregoretti)
1963

quinta-feira, agosto 16, 2007

- o carteiro -

Há uma frase, supostamente sábia, que diz o seguinte: "o que for teu à tua mão vem ter". não me parece inteligente é só isso, porque todos sabemos que nada nos vem ter à mão, que não há sorte mais eficaz que uma boa liça. Admito porém a existência de situações em que a incompreensão dos factos faz dessa frase o bode expiatório (e explicatório). À semelhança daquela outra que diz: "foi assim que o Senhor quis" e que debitamos sem atenção face à morte, mesmo que esta nos pareça óbvia; a idade, os achaques, a doença prolongada e sem cura. Ou então "o que não tem remédio, remediado está". Esta já me agrada embora se prolongue na boca aquele travo acre a "contentamento", ou "o que não mata, engorda" (que mate antes!, digo eu, mas isto já é outra repartição do cérebro a falar. Manias!) Na verdade todas servem para nos desculpabilizarmos, deixando a uma entidade divina a responsabilidade pela nossa incompreensão, burrice ou incapacidade para tirar ilações mais próximas da verdade e afastadas da nossa ficção.
- não vai mais vinho para essa mesa -

- estou sim?
- sim?
- podia falar com xxxx?
- ela não está.
- então com quem estou a falar?
- com o homem-rã.
- mas este não é o número dela? homem-rã? o que está a fazer desse lado?
- problemas domésticos, sabe como é...
- original soundtrack -



Wild thing...you make my heart sing...
You make everything
Groovy
I said wild thing...

Wild thing, I think I love you
But I wanna know for sure
Come on, hold me tight
I love you

Wild thing... you make my heart sing...
You make everything
Groovy
I said wild thing...

Wild thing, I think you move me
But I wanna know for sure
So come on, hold me tight
You move me

(Wild Thing, The Troggs)
- não vai mais vinho para essa mesa -

- só vais comer isso?
- só.
- nem carne, nem peixe…
- não. hoje é o meu dia verde, o meu Green day
- se continuares assim, terás em breve e apenas dias Nirvana.
- o carteiro -

Dia da Assunção da Virgem e não Dia da Ascensão da Virgem

Maria, mãe de Cristo que teve o privilégio segundo a Igreja Católica, se receber no seu seio o Salvador, teve de Cristo a “compensação”. O seu Filho fê-la subir aos céus. A diferença entre Assunção e Ascensão é etimológica mas também se pode ver aqui:

Maria sobe aos céus após a sua morte (episódio que não tem retrato bíblico, podendo ter a sua origem nos textos apócrifos. De qualquer forma, perante os fiéis, esta era uma questão que a Igreja tinha de solucionar e que estudou no Concílio da Calcedónia em 451 D.C. Santo Agostinho dizia: "Antes de conceber o Senhor no corpo, Maria já O tinha concebido na alma".) ajudada por anjos, enquanto Cristo chega ao Reino dos Céus sozinho. Ele nunca deixou de pertencer a esse reino, por isso não necessita de intermediários, sobe sozinho, assim como se fez carne quando o Pai mandou. Mas sendo a Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo num só) um dos dogmas da Igreja Católica, não será difícil explicar e perceber que se um é outro, quando um desce à Terra é como se o outro descesse à Terra.

Garofalo
L'Ascension du Christ
1510-1520
Rome, Galleria Nazionale d'Arte Antica



Pietro Perugino
Assumption of the Virginc

1506
SS. Annunziate, Florence

A questão etimológica também é importante e talvez explique de forma mais idónea o porquê de todos termos gozado o feriado do Dia da Assunção de Maria e não o Dia da Ascensão de Maria. “Assunção” vem do termo “assumir” e Deus assumiu, aceitou Maria "Sentada à direita de seu Filho querido" (3 Reis, 2-19), "revestida do sol" (Apoc. 12, 1) e com a mesma glória do Filho ("como a glória do Filho único de Deus" (Jo. 1, 14)), no céu. Como o céu fica em cima das nossas cabeças, até agora, achamos que Maria “ascendeu”. Mas “ascensão” ou “ascender” é o oposto de descer, e só sobe quem antes desceu. Por isso, Cristo que desceu dos Céus ascendeu após a sua morte.
Quanto a esta condição de Maria, este privilégio, é também um dogma da Igreja Católica. Mas segundo aquilo que diz Santo Agostinho, Maria foi a morada terrena de Cristo, primeiro antes Dele nascer, depois, a única a saber que Ele não era dela, não lhe pertencia, mas pertencia ao mundo. Por isso, não se lhe podia negar a união ao seu filho após a própria morte (diz-se que aos 72 anos, mais ou menos). Já vi quem pedisse o mesmo por muito menos!
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "quem não gostar de Gerhard Ritcher (nem Max Beckmann, nem Paul Delvaux, nem El Greco) ponha o dedo no ar":
Marcel Duchamp
Nu a descer uma escada, nº2
1912
Philadelphia Museum of Art


Gerhard Richter
Ema – Nu numa escadas
1966
Museum Ludwig
- não vai mais vinho para essa mesa -

mas o que eu digo... tu percebes? é que me sinto idiota por tentar explicá-lo e mesmo sabendo que querer não implica ser querido, não percebo esta ligação. bem, se calhar it's all my imagination.

quarta-feira, agosto 15, 2007

- original soundtrack -

dedicada ao AM que anda um bocadinho "pelos cantos":

Oow
Friends say it's fine, friends say it's good
Ev'rybody says it's just like rock'n'roll
I move like a cat, charge like a ram
Sting like a bee, babe I wanna be your man
Well it's plain to see you were meant for me, yeah
I'm your boy, your 20th century toy

Friends say it's fine, my friends say it's good
Ev'rybody says it's just like rock'n'roll
Fly like a plane, drive like a car
Ball like a hen, babe I wanna be your man - oh
Well it's plain to see you were meant for me, yeah
I'm your toy, your 20th century boy

20th century toy, I wanna be your boy
20th century toy, I wanna be your boy
20th century toy, I wanna be your boy
20th century toy, I wanna be your boy
(...)

(20th Century Toy, T-Rex)
- o carteiro -

[posso snifá-la?]
Segundo o NY Times, o perfume de Tom Ford (Gucci) de seu nome Tuscan Leather cheira a cocaína. Tudo porque a estilista disse que queria fazer um perfume que cheirasse a virilha masculina. Ora não sei porquê, espalhou-se a ideia de que o perfume cheirava a cocaína e parece que de facto, os clientes conhecedores de drogas, concordam com o boato. Tuscan Leather cheira mesmo a cocaína, embora, atenção, não seja para snifar em carreirinhas de líquido. No pulso de alguém, tudo bem e até fica mais barato que a verdadeira, mas não é cocaína. É uma pena!
[posso rir-me de si?(1)]
Em entrevista ao programa America News Today de Neil Cavuto, Bush responde assim à pergunta que lhe é colocada aos 01:07. ("people losing jobs"?????)
[posso rir-me de si?(2)]
Na mesma entrevista e aos 00:53 o Presidente americano responde assim. ("prioritization means real prioritization"????)
[se calhar foi por isso que o Karl saiu]
De todas as gaffes de Bush, nenhuma delas é pior do que aquelas que contituem uma categoria de gaffes relativas a graus de intimidade com pessoas. Pois não é que no momento de despedida, entre palmadinhas nas costas e um abracinho mais prolongado, Bush disse que Karl Rove era "my own personal Capitol Rotunda". Ora aqui fica uma imagem de karl Rove, em perspectiva.


[a vingança serve-se fria]
Os republicanos já têm um programa para combater o humor contra o presidente (dizem eles) do The Daily Show de John Stewart. Passa na Fox e chama-se ''The 1/2 Hour News Hour". Fica aqui um cheirinho. (não snifem)

[pensando bem, é melhor aquecê-la]
E foi o que fizeram os responsáveis da Fox. Cancelaram o programa e a crítica foi unânime: o programa não tinha piada. É que John Stewart, Jay Leno é outros não parodiam apenas o presidente e os republicanos, mas qualquer assunto que esteja na ordem do dia. E isso é que tem piada.
- não vai mais vinho para essa mesa -

..."não dar o corpo pela alma."
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou, "continuando a manter o nível de qualidade do blog baixo e isto enquanto não temos tempo para melhor, aqui fica mais uma fotografia da série Sopranos, feita por Annie Leibovitz, tendo como inspiração a Última Ceia":


Leonardo da Vinci
The Last Supper
1498
Convent of Santa Maria delle Grazie, Milan


Annie Leibovitz

Sopranos

2006

terça-feira, agosto 14, 2007

é um favor que me fazes
- não vai mais vinho para essa mesa -

Gostei dos Angels in America, dos Sopranos, do Dr. House, dos Sete Palmos de Terra, das Donas de Casa Desesperadas, do Sexo e a Cidade, mas a série de que gostei mais foi esta.
- original soudtrack -

porque está calor (?) e é Verão e anda por aí muita gente a falar com sotaque, um trava-línguas para hoje:

Hiroshima Nagasaki
Nagasaki Hiroshima
arigato Vanunu
ko n nichiwa Mossadegh
arigato Mordechai
ko n nichiwa Mohammad
Hiroshima Nagasaki

Hiroshima Nagasaki
ko n nichiwa arigato
Nagasaki Hiroshima
Nagasaki Hiroshima
arigato Vanunu
ko n nichiwa Mordechai
ko n nichiwa Mohammad
Hiroshima Nagasaki
ko n nichiwa arigato

(Foreign Accents, Robert Wyatt)
- não vai mais vinho para essa mesa -
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes e depois ou "vejo semelhanças entre os dois, mas não são logo perceptíveis. Talvez nos corpos que jazem no solo. Há mais fotos de Annie Leibovitz em que coloca o elenco dos Sopranos em cenas do Novo Testamento. Uma Última Ceia e outra que ainda não descobri":

Eugene Delacroix
The Barque of Dante
1822
Musée du Louvre, Paris


Annie Leibovitz
Sopranos
2006
- o carteiro -

a pedido de várias famílias e amigos, aqui fica a "epifania". And the winner was...:
"Esta é uma experiência limite; não faça isto em casa. Pegue nas malas (maletas, mochilas e afins) e faça-o mesmo fora de casa. Esqueça os cigarros e os centros comerciais, esqueça o carro durante a semana de trabalho e aproveite cada cêntimo para iniciar como Ulisses uma Odisseia. Desta vez leve Penélope consigo e se tiver um Telémaco, leve a criança também. Não confie a casa aos seus servos, perdão, à senhora da limpeza e deixe o cão na vizinha, se esta não estiver a iniciar a mesma jornada que você, o que até nem seria de estranhar.

Fique pois sabendo que o perímetro da Terra são 40054,6878Km. Se por hora andar 5Km e por dia andar – vá lá, digamos por alto para não se cansar -, 8 horas, são 40km. Já sei, pensa que ao fim de 1001 dias está de volta a casa, mas não. Desconte os barcos para atravessar oceanos. A vantagem da sua Volta ao Mundo em 1001 dias, menos os do barco, irá meter inveja ao próprio Phileas Fogg que teve de enfrentar a modorra dos wagon-lits do comboio, relegando para Passepartout o sightseeing; ou seja, o mais divertido. Não se limite a andar em linha recta; se inventaram as outras foi para isso.

Atravesse o nosso Portugal em direcção ao norte de Espanha, passe pelos Pirinéus, Bordéus, chegue perto de Estugarda na Alemanha, vá até à República Checa mas passe ao lado de Praga, Polónia perto de Varsóvia, Bielorrússia perto de Minsk, na Rússia passe perto de Moscovo e desça para Saratov, para passar o Cazaquistão e entrar no Uzebequistão até Urganc. Dirija-se para o Turquemenistão, chegue ao Afeganistão perto de Cabul, no Paquistão perto de Lahore, entre na Índia e passe pelo Katmandu, entre no Bangladesh perto de Dacca, passe o Butão e corra rapidamente por Miannar. Entre na Tailândia, passe o Laos e chegue ao Vietname (Nha Trang), apanhe o barco até o Burnei, atravesse o Borneu até Balikpapan e tome o barco de novo contornando as ilhas rendilhadas no mar até chegar a Derby. Passe perto de Alice Springs, Charleville e Glenn Innes. Está a sair da Austrália. Aprecie o mar à sua frente, mas siga de avião até ao Alasca. Entre em Anchorage e passe o Canadá da seguinte forma: ali perto de Skagway e Prince George. Já nos Estados Unidos não se esqueça de Helena (não a de Tróia, por quem Ulisses também lutou), mas a outra, Santa Fé e entre na México ali perto de Monterrey e até Tuxtla Gutierrez, nem que para isso tenha de molhar os pés no Golfo do México. Passe o Belize em beleza, bem como as Honduras, Nicarágua e Costa Rica. Faça uma visita ao “Alfaiate do Panamá”, caso necessite de nova indumentária para atravessar a Colômbia ali perto de Medellin. Entre no Peru perto de Leticia e saia do Brasil perto de Rio Branco. Na Bolívia não se esqueça de um bocadinho de Sucre, na Argentina, e como é a descer, vá de Salta a Santiago del Estero, Cordoba e ligeirinho até cá abaixo, até Río Gallegos. Não apresse o miúdo. Escolha o barco e num segundo meta-se na África do Sul, mais concretamente na Cidade do Cabo. E para o fim fica o pior; sempre a subir: Namíbia perto de Grootfontein, Angola pelo Huambo, no Congo perto de Kinshasa e nos Camarões perto de Ngaoundéré. Na Nigéria diga Olá a Yola e diga adeus ao Niger quando entrar na Argélia em Bechar. Entre em Marrocos e nem pense que “we’ll always have paris”, porque o destino é Tânger. De barco chegue ao seu país. Pela mão de um amigo chegue a casa.

Os Pólos, com muita pena sua e nossa, terão de ficar para outra vez. É que as suas pernas musculadas, as da sua mulher bem modeladas e as do seu Telémaco já formadas, não aguentam mais e é necessário contar aos amigos todas as aventuras: o cansaço, o sol, a chuva, as intempéries em geral, os autóctones, as comidas estranhas, as tradições, as rejeições, a solidão, a galhofa, a saudade, o despreendimento, a espiritualidade, a vida prática, as doenças, as curas, os sapatos rotos, os outros sem sapatos, os prédios altos, as planícies, a savana, o pantanal, os animais, as pessoas, os “não”, os “sim”, os que vão de carro, os que nunca foram, a introspecção, a partilha, as fotografias, a insubstituível memória visual, a recordação, a vivência. E um dia a menos, pois quando se viaja para Oriente, ganha-se tempo."

segunda-feira, agosto 13, 2007

Olá blogosfera (fera, era ra...), está alguém aí? (guém aí? ém aí?, aí?, i?, i?...). Está toda a gente de férias? (e férias?, érias?, rias?, ias?...). Uma vergonha (ergonha, gonha, nha...), ninguém produz! (roduz!, duz!, uz!, uz!...)
- original soundtrack -



Some people call me the space cowboy yeah
Some call me the gangster of love
Some people call me Maurice
Cause' I speak of the pompetous of love

People talk about me baby
Say I'm doin' you wrong, doin' you wrong
But don't you worry baby don't worry
Cause' I'm right here at home

Cause' I'm a picker
I'm a grinner
I'm a lover
and I'm a sinner
playin' my music in the sun
I'm a joker
I'm a smoker
I'm a mid-night toker
I get my lovin' on the run
Ooh, ooh, ooh, ooh

(The Joker, The Steve Miller Band)
- não vai mais vinho para essa mesa -

- Estou sim?
- Sim?
- Boa tarde, fala do XXXX?
- É sim.
- Eu gostaria de saber se ainda têm bilhetes para o Nabucco de Verdi.
- Para o Nenuco? Espere aí que eu vou perguntar…
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

A respeito das nossas crenças religiosas -
Juliano, esse asno, disse: "Li compreendi,
e condenei.". Como se a nós aniquiliasse.
ele, tão ridículo, com aquele, "compreendi".

Pois tais prosápias para nós não contam,
cristãos que somos. Leste, e não compreendeste.
Se compreendesses, não condenavas", respondemos logo.

(Não compreendeste, Constantino Cavafy, 1928)
- o carteiro -
Caro AM (não me parece ser para já o abandono deste formalismo. Para hoje fica assim, um dia tarde será qualquer coisa como “bacano yoh”):

As segundas-feiras são definitivamente propícias às respostas, por isso cá vai a resposta a este pedido, embora chegue atrasada. Um médico disse-me que todos os génios são atormentados. Eu respondi-lhe que aquilo era treta cinematográfica (ele é também crítico de cinema) e que havia alguns génios que tinham tido uma vida plácida, calma, alguns com reconhecimento em vida, mortes simples e algumas até no fausto, se é que isso interessa para quem morre. Ele pediu desculpa, que nunca tinha dito aquilo a um paciente, mas disse-me para eu ir àquele sítio que começa pela letra “m”. Ambos sabíamos que não era verdade, mas se fosse, Toulouse-Lautrec seria um bom exemplo dessa vida em desgraça. Nasceu no seio de uma família rica, aristocrática, mas marcada pela endogamia (casar e procriar entre família). Os país eram primos em primeiro grau, havia mais casos na família de casamento entre primos que tinham resultado em filhos com poucas capacidades físicas ou mentais e mesmo em mortes. Com Lautrec, cedo se percebeu que havia um problema de crescimento e que se acentuou quando o pintor partiu os fémures (um num ano e outro no ano seguinte). Os pais perceberam também que não tinham sido feitos um para o outro: a mãe prosseguiu com a sua vida pautada por uma religiosidade exacerbada e o pai, um excêntrico que amava a natureza, continuou as suas viagens e caçadas. Dos escritos do pai ao filho destaca-se uma dedicatória em que lhe diz que não há bem mais precioso que a luz do dia e a liberdade e que ele nunca estará sozinho quando estiver no meio de cavalos e falcões. Em jeito de resposta, não sei se antes se depois da dedicatória, Toulouse-Lautrec disse: “se as minhas pernas tivessem sido um pouco mais compridas, eu não teria pintado”. A partir dos treze anos não ultrapassou a altura de 1 metro e meio e com movia-se com dificuldade. Para além disso o seu rosto tornou-se estranho, com o nariz e os lábios muito pronunciados. Ele sabia que não ía levar a vida ambicionada pelo pai, o que também o entristecia (embora fizesse piadas com o seu aspecto) e que a pintura e o desenho começavam a ser um escape, uma inevitabilidade e uma vingança perante a doença.

Este longo parágrafo em que parece que estive a debitar conhecimento serve apenas para dizer que o ponto de visto do mundo para Toulouse-Lautrec era diferente da maioria dos seus coetâneos. Temo mesmo parecer demasiado assertiva nesta afirmação, mas acho que Toulouse-Lautrec procurou gozar a vida ao máximo e num curto espaço de tempo, tendo para isso mergulhado na boémia dos cabarets, das prostitutas, da bebida, e de uma vida que em nada estava relacionada com as caçadas, o ar livre, os cavalos e os falcões. De facto, depois de um período a pintar cavalos, a temática de Lautrec mudou: passou para temas da vida quotidiana, próximos dos temas dos impressionistas, mas foi influenciado pelo Cloissonismo (o nome vem de cloissonné que era uma técnica artística de separar as cores por uma linha de metal). Talvez isso não seja notório de imediato, mas ele também se socorreu do japonesismo, abusou das diagonais na composição (o que pode explicar as “truncadas lautrequianas”), também fez uso das figuras recortadas como se fossem colagens e dos arabescos em elementos decorativos. O uso das diagonais permite movimento ás composições, mas se esse movimento for ainda enfatizado com temas como os bailes ou as arenas de circo, ficamos com justificação para colocar os elementos de um quadro nas margens do mesmo com vista a transmitir esse tal movimento que só uma máquina fotográfica ou a memória podem captar. Os impressionistas já tinham descoberto isso, mas a sua base não foi a oposição ou a diversão; foi o estudo. A base de Lautrec foi a diversão, a observação de um mundo que ele não podia acompanhar fisicamente. Podia ficar sentado na mesa a ver dançar, mas não podia dançar. Ele captava os momentos que ninguém até aí se lembrou de captar: aquela altura em que num rodopio o baile entra num ritmo alucinante e em que por breves instantes explode. Abre-se uma clareira por breves segundos para se fechar outra vez. Compare-se este baile de Lautrec com este de Renoir. Não muitos anos os separam, mas a visão de Renoir é centrada na exploração técnica e não na temática. Lauterc por seu turno aplica várias técnicas sem ser por isso considerado um génio ou categorizado num estilo (que é meio caminho para ser considerado um “bom artista”), mas explora os momentos da vida com a intensidade com que não poderá vivê-los.

Toulouse-Lautrec
A Dança no Moulin Rouge
1890
Philadelphia Museum of Art


Renoir
Le Moulin de la Galette

1876
Musee d'Orsay, Paris