sexta-feira, fevereiro 23, 2007

- mãe, a maçã tem bicho -

director escondido com o rabo de fora:

Apesar do que muitos de nós pensam, o país não está assim tão mal, ou pelo menos equipara-se ao praticado no resto do Mundo. Atente pois no seguinte conto, que se não fosse o sotaque inglês diríamos poder ter sido passado em Portugal. Glen Lowry, ex-director do Art Gallery of Ontário no Canada foi escolhido há cerca de 8 anos para director do MoMA. Durante 8 anos (de 1995 a 2003), o MoMA pagou a Lowry o seu salário como director e o fundo “New York Fine Arts Support Trust” acrescentou-lhe mais uns milhares de dólares (link). Milhares? Milhões! Durante 8 anos foram 5,5 milhões de dólares. Até aqui nada de estranho, uma vez que é comum os representantes de cargos de relevo terem determinadas compensações: Lowry estava longe de casa e não tinha habitação em Nova Iorque. O problema é que este tipo de decisão aplicado à pessoa errada pode resultar na descredibilização da instituição.
O fundo tinha como objectivo servir de apoio a “charitable and fine arts organizations in the New York City metropolitan área.” É uma instituição sem fins lucrativos, formada por membros ligados ao museu (Rockefeller e Agnes Gund) que canalizavam verbas destinadas a esse fundo para o pagamento extraordinário ao director. Chegou mesmo a proceder-se à venda de um quadro de Bonnard de cujo valor resultante foi também direccionado para Glen Lowry. Levantam-se aqui várias questões:
1) que equidade pode um director de um museu ter ao aceitar pagamentos – benefícios, despesas de custo, vá lá – de investidores do museu e do fundo quando no futuro for programar uma exposição. Irá ele escolher as peças, os autores e os temas consoante a política museológica, ou segundo os interesses que essas mesmas pessoas detêm sobre determinadas peças - pois para além de investidores no museu são igualmente coleccionadores - e cuja exibição poderá valorizar e potenciar a importância?
2) Como é que um director de um museu poderá continuar a dar a cara pelo mesmo, quando é do conhecimento geral que numa das últimas exposições do MoMA dedicada a uma retrospectiva da obra de Armando Reveron , se sabe que este não está na lista dos artistas Latino-Americanos mais cotados. A escolha de Reveron para realizar a exposição não deverá ter sido causada pela presença entre os investidores do MoMA de Patricia Phelps de Cisneros, uma das maiores coleccionadoras de Armando Reveron?

3) Como é que um director de um museu, principalmente um museu como o MOMA poderá continuar a dar a cara pelo mesmo quando se nota uma diminuição no número de visitantes decorrente de um conjunto de más politicas: aumento de preço do bilhete de entrada para 20 dólares, parceria com a Pixar… (O Getty está a revelar-se um caso sério de apropriação indevida de capitais, e mesmo não sendo esse o caso do MoMA, a verdade é que uma investigação pediu ao museu todos os dados que pudessem não ter ainda sido revelados e que fossem de interesse na resolução do problema.)

4) Qual a seriedade de um museu cujos membros criam um fundo com um mecanismo próprio de funcionamento, alheio ao próprio Lowry e ao domínio público, onde pelo menos devia pertencer. Como justificar que estes pagamentos não tenham sido declarados nos impostos?

5) Qual a veracidade da versão contada pelo MoMA de que os 5,5 milhões de dólares são na realidade 5,3 milhões, que desses apenas 2,4 milhões foram para Glen Lowry, 760,000 foram para o museu, para financiamento do mesmo, 150,000 destinaram-se a um curador do MoMA e o restante serviu para pagar o apartamento de Lowry em Nova Iorque?

6) Porque razão a investigação do destino dado aos dinheiros visou apenas o período de 1999 a 2003, quando era sabido que os pagamentos se faziam desde 1995?
Podia ser em Portugal. Mas com nomes estrangeiros, até nos parece argumento original oscarizado e aplaudido de pé. E dá outra arrumação à coisa.