quinta-feira, outubro 12, 2006

- mãe, a maçã tem bicho -


Caravaggio
Supper at Emmaus

O Conselho de Segurança da ONU é formado por 15 membros: 5 permanentes (Rússia, E.U.A., Inglaterra, França e China) e 10 não permanentes. A ONU é formada por 192 representações de países, número do qual dois terços são considerados Países em Vias de Desenvolvimento (os chamados PVD). Para poder vetar uma resolução, não basta o veto destes 5 membros permanentes, mas sim de 9 vetos. Esses 4 em falta são retirados dos 10 países do Conselho de Segurança que estão como não permanentes, rodando entre os 192 (menos 5 dos permanentes), de 2 em 2 anos. Ora, para não legitimar um veto dos 5, basta que 7 dos não permanentes unam esforços e assim, como 10 menos 4 dá 6, logo de 7 sobram 3, e 3 mais 5 não dá 9. (Confuso, mas dá para compreender).
Muitos observadores dizem que o mundo pós-Guerra Fria tende para uma multipolarização, em contraponto ao mundo bipolar que se viu na Guerra Fria (de um lado a ONU, do outro o Pacto de Varsóvia). Se sim, se de facto o mundo tende para uma multipolarização, uma organização como a NATO fica de fora do jogo, uma vez que baseia a sua acção numa aliança atlântica. Hoje observamos que o palco dos acontecimentos não é o Atlântico, mas teve a sua deslocação para o Oriente. Neste mesmo cenário, a ONU poderia ser mais eficaz, mas sabemos da grave crise que atravessa. Apesar de ser uma organização cujo fim não é curativo, mas preventivo (o envio de tropas para os diferentes campos de batalha - Afeganistão, Iraque, Kosovo - é uma consequência de um diálogo que não deu frutos), a ONU tem as suas organizações que "dão a cana e ensinam a pescar". Mas qual o futuro que a espera quando um membro permanente como os E.U.A não espera nem necessita de um aval para avançar?
Faz-me lembrar a história do "nem coiso nem sai de cima". Na realidade os E.U.A não necessitam da legitimação conferida pela ONU para prosseguirem com os seus planos, mas se perguntassemos à América se gostaria de abandonar o seu lugar de membro permanente do Conselho de Segurança para dar lugar a outro, duvidamos que a resposta fosse: "oh, claro. Tudo bem, já estamos de saída".
A ONU ainda continua a ser a organização mais completa, com as suas falhas, claro. Uma delas é centrar-se numa Europa em decadência. Vejamos que a ONU ainda não conseguiu integrar a Alemanha como membro permamente, em parte devido aos acontecimentos que estiveram na origem e deram seguimento à 2ª Guerra Mundial. Parece querer perdoar mais facilmente ao Japão, que ameniza nos seus manuais escolares a mesma guerra. Quem não tem intenção de conceder ao Japão assento no Conselho de Segurança é a China que se vê ameaçada, pois é a única nação asiática ali presente e a que se encontra em melhor posição para dialogar com os 10 membros não permanentes a fim de conseguir os 4 votos desejados para vetar.
Se o mundo tende para ser multipolar, não parecerá que a ONU neste cenário seja, uma força hegemónica, em vez de multicultural?