quinta-feira, julho 13, 2006

- o carteiro -
Contra indicado para telemóveis

Há duas coisas que podem avariar um telemóvel: a comida e a bebida, de resto, como podem avariar uma pessoa. Quando a minha idade era outra que não esta, o médico cismou, porque cismou que eu havia de comer várias vezes ao dia, ideia que não me agradava nem estava nos meus planos. Como essas teorias médicas eram conhecidas de muitos que me eram próximos e apoiadas - algo que me parecia escandaloso -, esse acto de comer transformou-me num animal de montra, de feira de circo, que calava os pedidos de "mais qualquer coisa, vá lá" com o grande sacrifício da deglutição. Quando não havia ninguém por perto, a comida era colocada no mesmo sítio, mastigava-se em seco, e no caso das bolachas, deitadas no saco, misturadas com o porta-moedas, com o caderno de apontamentos, com o livro, com a garrafa de água. E por lá andavam, até um dia em que não estivesse ninguém por perto e fosse possível deitar o pó das bolachas fora. Entretanto, tal como o homem que "é pó e ao pó há-de tornar", as bolachas em migalhas já tinham entrado dentro do livro, dentro do porta-moedas e não sei porquê, dentro do telemóvel. Havia uma atracção entre ambos e nunca me livrava de ter de recorrer sem cábula à imaginação para justificar a presença de tais partículas dentro da maquineta. O tempo foi passando, a maquineta avariou-se, e cansei-me de ser animal de montra, optando por realmente comer para não ter de apresentar justificações a ninguém. Não foi bonito. O telemóvel avariou-se e cá por dentro alguma coisa também saiu do lugar que é como quem diz, cresceu para os lados.

Seguiu-se outro telemóvel que mostrou não estar à altura desse grande elemento que é a água. É que devido a um quase literal "quem anda à chuva, molha-se", o saco lacrimal passou a expelir com mais frequência que o habitual e quase sempre ao telemóvel. A maquineta que fala, teria muito para contar se quem a fez, quem as fez, não tivesse previsto situações incómodas como esta. Assim, não falando a maquineta, não se saberá a razão de tal dilúvio, mas a verdade é que mais uma vez, foi administrado ao telemóvel uma dose generosa de água que fez com que o tipo não se aguentasse na mão sem se desligar sozinho. Como se tivesse vontade própria. Agora, como um velho senil, com os seus fluidos putrefactos, prefere ficar na secretária, na mesinha de cabeceira - em superfícies planas, se faz favor -, do que andar a passear na mão ou no saco, e desliga quando lhe apetece.

Ámen.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

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Anonymous Anónimo said...

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