sexta-feira, julho 07, 2006

- não vai mais vinho para essa mesa -
"Raio de coisas de que te lembras.", "Hoje acordei um bocadinho triste. Não me aborreçam.", "Pronto, vai lá à tua vida."
Uns meses antes do casamento dos duques de Mântua, Mantegna, o pintor dessa corte residual recebeu nos seus aposentos o emissário do duque. A missiva de que este era portador continha os seguintes dizeres. “Sua muito alteza real – tão real que a sua realeza não cabe neste manuscrito – manda avisar o mui ilustre mestre de arte desta nobre corte, que requer para a nubente um trabalho no quarto em que ambos vão consumar o acto matrimonial. A divisão terá por nome Camera degli Sposi, designação inventada pela real e criativa cabeça de nossa senhoria, e deverá ser pintada pelo mestre segundo a sua vontade, ficando porém a aceitação ou rejeição do trabalho dependente do bom gosto do nosso quase soberano”. Mantegna pintou isto na Camera degli Sposi.

Andrea Mantegna
Roundel with putti and ladies looking down
1465-1474
Palazzo Ducale, Camera degli Sposi, Mântua
No dia da consumação do casamento, os noivos entram tímidos no aposento real.
- Então minha noiva gosta do presente que providenciei para si.
- Sim meu senhor gosto muito. Aquele é o leito real?
- Sim.
- Então façamos como nos ensinaram os nosso mestres. Que cada um se dispa, que a mulher entre primeiro no leito e que o marido lhe siga os passos. Ela não deverá mostrar-se nua perante ele nem manifestar prazer. Quando estiver preparada senhor, chamo por vós com um assobio.

- FIUUUUUU!!!
- Fosteis rápida senhora. Estais apressada ou os meus encantos dão-vos cuidados?
- Nada disso senhor. O que se passa é que quando me deitei no leito em que pensáveis consumar o acto, olhei para o tecto e vi que em vez de um quarto, este aposento é um poço. E vejo que todos nos olham.
- Não é um poço senhora, é uma pintura.
- Com todo o respeito senhor, mas uma pintura é uma coisa que fica dentro de uma moldura.
- Então minha bela, não conheceis vós a técnica do fresco que permite pintar na parede.
- Conheço, mas tão certa com estar aqui estou certa de que isto é um poço. Não percebo a arquitectura de vossa casa, mas reconheço um poço. E deixai-me dizer-vos senhor que muito me desagrada passar a minha primeira noite num poço. Ainda por cima com pessoas a olhar. Ou mandais fechar isto, ou quem se fecha em copas sou eu.
- Mas senhora, são pinturas. Vede as criancinhas e o negro a olhar, é tudo ilusão de óptica. Foi o meu artista de corte, Mantegna que pintou.
- Pois então coloque-se aqui esse senhor artista para ver se ele gosta desta sensação.
- Como dizeis senhora, és só uma sensação. Vinde agora para cá que tenho apetites em vos ter.
- Pois eu tenho apetites de ver a cabeça destes servos que me miram numa bandeja, juntamente com a do vosso Mantegna. E mesmo correndo o risco de vos ser desagradável senhor, não cederei aos prazeres da carne enquanto não mandardes a ralé embora.
- Senhora, estou a arder. Haverá possibilidade de convencer-vos que são pinturas?
- Senhor, como podeis estar a arder com crianças a olhar para nós? E nuas!! Será isto para atiçar o meu desejo? Devo dizer-vos que não resulta.
- Senhora vinde para aqui para o meu lado.
- Nunca senhor! Levo o lençol que já não me encontro em posição para voltar a vestir-me. E dizei ao vosso Mantegna que amanhã terei uma conversa com ele e depois de amanhã, a sua linda cabecinha para a história, juntamente com a de Golias e de Holofernes.

3 Comments:

Blogger [A] said...

ahahahah...gostei muito!

11/7/06 11:36 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Here are some links that I believe will be interested

9/8/06 2:31 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Greets to the webmaster of this wonderful site! Keep up the good work. Thanks.
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16/8/06 4:48 da manhã  

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