segunda-feira, julho 31, 2006

- original soundtrack -


Take a bow, the night is over
This masquerade is getting older
Lights are low, the curtains are down
There's no one here
(There's no one here, there's no one in the crowd)

Say your lines but do you feel them
Do you mean what you say
When there's no one around (no one around)
Watching you, watching me
One lonely star
(One lonely star you don't know who you are)

I've always been in love with you
I guess you've always known it's true
You took my love for granted
Why oh why
The show is over say good-bye
say good-bye, say good-bye

Make them laugh, it comes so easy
When you get to the part
Where you're breaking my heart
Hide behind your smile
All the world loves a clown
(Just make 'em smile the whole world loves a clown)
Wish you well, I cannot stay
You deserve an award
For the role that you played
No more masquerade
You're one lonely star
(One lonely star you dont who you are)

All the world is a stage
And everyone has their part
How was I to know
Which way the story goes
How was I to know you'd break
You'd break, you'd break, you'd break
You'd break my heart



(Take a Bow, Madonna)

sábado, julho 29, 2006

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Jenny Holzer e mais truísmos:

Jenny Holzer
Jesse 2
2005

- people who go crazy are too sensitive
- people won't behave if they have nothing to lose
- physical culture is second best
- planning for the future is escapism
- playing it safe can cause a lot of damage in the long run
- politics is used for personal gain
- potential counts for nothing until it's realized
- private property created crime
- pursuing pleasure for the sake of pleasure will ruin you
- push yourself to the limit as often as possible

sexta-feira, julho 28, 2006

- original soundtrack -


It's time to play the music
It's time to light the lights
t's time to meet the Muppets on the Muppet Show tonight.

It's time to put on makeup
It's time to dress up right
It's time to raise the curtain on the Muppet Show tonight.

Why do we always come here
I guess we'll never know
It's like a kind of torture
To have to watch the show

And now let's get things started
Why don't you get things started
It's time to get things started
On the most sensational inspirational celebrational
Muppetational
This is what we call the Muppet Show!

(The Muppet Show)
- não vai mais vinho para essa mesa -

neurónio 56 - Podes parar com isso?
- Isso o quê?
neurónio 56 - Pára!
- O quê?!
neurónio 56 - De nos fazeres sentir assim!
- Assim como? Chiça, vocês são difíceis!
neurónio 56 - Sentimos que não estamos nos nossos dias.
- Não, eu é que não estou nos meus dias.
neurónio 56 - Mau... Então há aqui alguma ligação mal feita. Ó 7! 7!? Telefona para os outros departamentos a ver o que se passa. Tens alguma ideia do que seja?
- Sei que isto vem e raramente vai.
neurónio 56 - E com os amigos?
- É como se não estivesse lá. Não é demérito deles, é mesmo qualquer coisa cá dentro. Mas acho que não precisam de se preocupar, não é com vocês.
neurónio 56 - Ai isso é que é. Por causa disso andamos a "run on low memory".
- não vai mais vinho para essa mesa -

Essa aí. Essa mesma. Agora é só água sem gás e leitinho morno!
- ars longa, vita brevis -
Metamorfoses famosas:
[1] A de Actéon num veado.
O jovem Actéon estava a caçar com os seus cães num bosque quando viu a deusa Diana a tomar banho numa fonte. Ela, assustada e com medo que o rapaz fosse contar a alguém que tinha visto a deusa nua – afinal ea um mortal a ver uma deusa despida – atirou-lhe água que o transformou num veado. Actéon que não esperava aquela reacção, tentou fugir, mas como o seu corpo já se estava a transformar no de um veado, os cães do rapaz ficaram confundidos e atacaram-no como se ele fosse uma peça de caça comum.
Ticiano
A morte de Actéon
1559
National Gallery, Londres

[2] A de Dafne em loureiro.
Apolo tinha desdenhado a perícia no arco de Cupido e este, muito ofendido resolveu vingar-se. Para isso resolveu atingir Apolo com setas douradas que despertavam o amor e com setas de chumbo, que despertavam o ódio, Dafne. Quando após isto Apolo viu Dafne correu para ela e perseguiu-a, enquanto a deusa procurava fugir. Só que ao fugir, chegou a um rio que não podia atravessar e num momento de desespero pediu a Zeus que a ajudasse. No momento em que Apolo a agarra, a deusa transforma-se em loureiro. Apolo estava de tal forma apiaxonado e ficou tão perturbado que elegeu o loureiro como sua árvore. Lembremo-nos que os jogos píticos eram presididos por Apolo que passou a coroar os vencedores com uma coroa de louros.
Bernini
Apollo
1622-1625
Galeria Borghese, Roma


Giovanni Battista Tiepolo
Apolo importunando Dafne
1755-1760
National Gallery of Art, Washington
[3] A de Zeus em chuva de ouro.
Dánae era a filha de um rei encarerada numa torre. Não me perguntem como, mas mesmo encerrada lá, conseguiu atrair a atenção de Zeus. O deus estava tão interessado na mortal que para se encontrar com ela transformou-se em chuva de ouro e penetrou numa abertura do telhado da prisão. Foi desta forma que Zeus engravidou Dánae de Perseu, o nosso heróis favorito. Este tema é muito caro aos pintores de todas as épocas, de Ticiano a Klimt.
Ticiano
Dánae com a criada
1553-1554
Museu do Prado, Madrid


António Correggio
Dánae
1531-1532
Galeria Borghese, Roma




Gustav Klimt
Danae
1907-1908
[4] A de Zeus em touro branco.
Este Zeus eram um brincalhão… Depois de er engravidado Dánae, viu Europa a banhar-se à beira-mar com as suas amigas. Ficou de tal forma atraído por Europa, que para se aproximar dela transformou-se num touro branco e misturou-se com o resto do gado que por lá andava. Europa reparou no animal, aproximou-se dele, afagou-o e enquanto isso Zeus, sob a forma de touro lambia-lhe as mãos. Estavam os dois assim a brincar quando Europa subiu para o dorso do animal. Quando o touro viu Europa no seu dorso, voou dali para fora (Por isso a Europa anda tão “ao deus dará”). Levou-a para a ilha de Creta e fez-lhe três filhos. Um deles foi Minos cuja esposa, pasifae também copulou com um touro branco. Este pelo menos era verdadeiro.
Ticiano
O rapto de Europa
1559-1562
Museu Isabella Stewart Gardner, Massachussetts

quinta-feira, julho 27, 2006

- original soundtrack -


Another bride
Another june
Another sunny
Honeymoon
Another season
Another reason
For Makin' Whoopee.

A lot of shoes
A lot of rice
The groom is nervous
He answers twice
It's really killin
'That he's so willin
'to make whoopee!

Picture a little love-nest,
Down where the roses cling,
Picture the same sweet lovenest,
Think what a year can bring.

He's washing dishes
And baby clothes
He's so ambitious
He even sews
But don't forget, folks
That's what you get, folks,
for Makin' Whoopee!

Another year
Or maybe less
What's this I hear?
Well, can't you guess?
She feels neglected
And he's suspected
Of Makin' Whoopee!

She sits alone
'Most every night
He doesn't 'phone her
He doesn't write
He says he's "busy"
But she says "is he?"
He's Makin' Whoopee!

He doesn't make much money
Only a five-thousand per
Some judge, who thinks he's funny
Told him he got to pay six to her
He says: "Now judge, suppose I fail.
"The judge says: "Budge, right into jail!
You'd better keep her,
I think it's cheaper
Than Makin' Whoopee!!"

(Makin' Whoopee, Michelle Pfeiffer no filme The Fabulous Baker Boys. Muito melhor que Kim Basinger em The Marrying Man)
- o carteiro -

O Rivoli pede para entregar uma missiva a estes dois senhores. É que a "Revista é Liiiiiinda", mas:

Cada um na sua onda, cada um na sua prancha
Eu não vou mais no teu barco
Tu não vem na minha lancha
Cada um no seu cada um
Deixa o cada um dos outros
(...)
Eu não vou na tua praia, pra você não vir na minha
Aqui não é lugar para peixe pequeno
E meu tubarão come a sua sardinha
(...)
Meu caminho eu mesmo faço com os passos que aprendi
Dependendo do seu traço vou somar ou dividir
O que é meu de direito, ninguém vai levar nenhum
Nosso lema é um por todos e todos pra cada um
(...)

(Cada um no seu cada um, Zeca Pagodinho)
- não vai mais vinho para essa mesa -

neurónio 2 - Comentários meus senhores.
neurónio 85 - Nenhum. É um "antes e depois".
neurónio 65 - Eu agora não posso comentar. Tenho de ir mudar a reserva de joalharia.
neurónio 43 - Eu também.
neurónio 76 - Eu também.
neurónio 77 - Eu também.
neurónio 2 - Bonito! Muito bonito, sim senhor. Toda a gente "se corta".

Vladimir Tatlin
Monument to the third International
1919
Moderna Muséet, Estocolmo
(este original foi destruído em 1920)


Chanel
Colecção Alta-Costura Primavera-Verão
2006

quarta-feira, julho 26, 2006

- original soundtrack -


You only see what your eyes want to see
How can life be what you want it to be?
You're frozen, when your heart's not open

You're so consumed with how much you get
You waste your time with hate and regret
You're broken, when your heart's not open

Mmm-mm-mm... If I could melt your heart
Mmm-mm-mm... We'd never be apart
Mmm-mm-mm... Give yourself to me
Mmm-mm-mm... You hold the key

Now there's no point in placing the blame
And you should know I suffer the same
If I lose you, my heart will be broken

Love is a bird, she needs to fly
Let all the hurt inside of you die
You're frozen, when your heart's not open

Mmm-mm-mm... If I could melt your heart
Mmm-mm-mm... We'd never be apart
Mmm-mm-mm... Give yourself to me
Mmm-mm-mm... You hold the key

(Frozen, Madonna)
- o carteiro -

guerras na sacristia:

Igrejas de S. Simeão em Qal’at Simaen na Síria em cerca de 470, dedicada a Simeão, o estilita.
Igreja de Santa Maria situada no Monte Garizim, Palestina. Este local é também chamado de "Umbigo da Terra".


Templo de Vénus em Baalbek. Baalbek é uma cidade do Líbano, ocupada primeiro pelos Fenícios e depois pelos gregos.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Máscaras:

Giandomenico Tiepolo
The Minuet
1754
Musee du Louvre, Paris


James Ensor
A morte e as máscaras
1927
Colecção Particular


Susan Hiller
Um divertimento
1990
Tate Gallery, Londres

terça-feira, julho 25, 2006

BACK THE FUCK OFF.

sorry, bad day.

segunda-feira, julho 24, 2006

- original soundtrack -















(4'33, John Cage)
- ars longa, vita brevis -

quando a arquitectura esmaga as pessoas:

Emmanuel de Witte
Interior da Owdekerk de Amesterdão
1655
Colecção particular


Karl Friedrich Schinkel
Cathedral overlooking a city
1813
Nueu Pinakothek, Munique


Hubert Robert
The Discovery of Laocön
1773
Virginia Museum of Fine Arts, Richmond


Canaletto
View of Piazza San Marco, Venice
1723
Museo Thyssen-Bornemisza
- mãe, a maçã tem bicho -


Caravaggio
Supper at Emmaus (pormenor)
1600-1601
National Gallery, Londres

"Dêmuma izsmola sefáchavô, obrigado" ou “na cidade com o meu carro”, ou “cinco minutos é muita coisa” ou “com que mão?”

- Ó jovem, não me podes arranjar uma moeda para eu apanhar o comboio para Vilar de Mouros, qualquer coisa, uma moeda mesmo que seja pequena. Grão a grão enche a galinha o papo. É por uma boa causa, não achas?
Responde a senhora que está ao meu lado:
- Não tenho dinheiro trocado.
Chega a minha vez e vem o rapaz com cara de quem andou fortemente metido em substâncias ilícitas com a mesma ladainha:
- Ó jovem, não me podes arranjar uma moeda para eu apanhar o comboio para Vilar de Mouros…
- Não. – sem tirar os olhos da Visão.
- … qualquer coisa, uma moeda mesmo que seja pequena…
- Não. – sem tirar os olhos da Visão.
- …Grão a grão enche a galinha o papo. É por uma boa causa, não achas?
- Não. – sem tirar os olhos da Visão, mas já sem atenção ao que estava a ler. “Por uma boa causa”, ponho-me a pensar antes do rapaz soltar a última tirada. Convém acrescentar que o jovem ficava sempre com a última palavra nestes pedidos tão humildes. Antes de mim tinha dito à senhora ao meu lado: "Não tens trocado! Tu sabes muito”.
- Mas olha que te despia toda, - diz-me antes de ir ter com outra freguesa.


É que eu estava à espera de tudo menos daquilo. Bem sei que o decotedo vestido era um bocadinho edge para aquilo que me é habitual, mas não era para tanto. E depois pus-me a pensar:
“Jovem, despia-me toda para arranjar dinheiro para a sua viagem? Olhe que não ía longe. Se a definição de decote é “espaço entre os seios”, deixe-me dizer-lhe que então sim, tinha à sua frente um grande decote, uma vez que espaço é o que há aqui para dar e vender, com se costuma dizer. Eu quase podia alugar esse espaço para lojas ou escritórios, ou fazer nele uma Plaza Mayor. Outra coisinha; tendo em conta que uma das mãos estava ocupada a segurar a moedas da sua colheita, com que mão é que me ía desapertar o vestido? E a ideia era levar-me consigo para Vilar de Mouros para ir angariando fundos para os seus alfinetes, ou aquilo foi uma coisa de momento pensando que se me tirasse a roupa estava a castigar-me por não lhe ter dado uma moeda. E depois jovem, há a notícia da Visão que diz que a modernização da linha de comboios do Norte que começou em 1996; ou seja, há dez anos, já custou mil milhões de euros e pior que isso, no fim de contas a viagem só ficou encurtada cinco minutos. Por isso, rapaz dos festivais, se for a pé poupa, poupa-me o trabalho corporal de angariar fundos para sua causa – que não é a minha – e ainda chega lá mais cedo do que se fosse de comboio. Eu se fosse a si começava a ir.

sábado, julho 22, 2006

- ars longa, vita brevis -

- occasionally principles are more valuable than people
- offer very little information about yourself
- often you should act like you are sexless
- old friends are better left in the past
- opacity is an irresistible challenge
- pain can be a very positive thing
- people are boring unless they are extremists
- people are nuts if they think they are important
- people are responsible for what they do unless they are insane
- people who don't work with their hands are parasites
- consultório sentimental -

"Anônimo disse...
Beluga,para quando um poste sobre a capa do album Tonight's the Nigth do Neil Young?
20/7/06 8:00 PM"


Caro anónimo:
Não sei se queria um post sobre a capa ou sobre a letra, mas sobre a capa podemos dizer que:
- é a preto...
- e a branco...
- tem escrito no canto superior direito: "Neil Young" e "Tonight's the night"...
- a imagem deve ter sido trabalhada no photoshop...
- fizeram um discard color information...
- depois alteraram os valores de brightness e contrast...
- se calhar quando o disco saiu ainda não havia photoshop.

quinta-feira, julho 20, 2006

Frase lapidar da reunião: "Minha querida, vai ter que ser você a tratar de tudo."
Pergunta que urge fazer: "Posso respirar nos intervalos?"

sexta-feira, julho 14, 2006

- original soundtrack -


Ouve, meu amigo
põe a máquina a gravar
queria só explicar aqui
que eu sou como o pano-cru
como pano-cru eu ainda estou por acabar
e como o linho vem da terra
assim viemos eu e tu
e como tu eu faço e amo
e luto e dou
e como tu eu estou
entre aquilo que já fiz
e aquilo que eu fizer
eu sou de pano-cru

(Pano-cru, Sérgio Godinho)
- o carteiro -

Peço desculpa por não responder aos comentário que fazem no Belogue nem na Formiga, mas não tenho muito tempo para isso. Mas vou tentar.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Maminhas e coisas que tal
Neurónio 56 - Isto devia ser um "não vai mais vinho para essa mesa".
- Não, acho que está bem assim.
Neurónio 56 - Maminhas outra vez?
- Não são só maminhas. São as maminhas de Santa Ágata.
Neurónio 56 - E...
- Na primeira e na terceira imagem temos imagens do martírio. Nas outras podemos ver as maminhas da santa num prato, representação muito comum. Santa Luzia também era representada com os seus atributos num prato.
Neurónio 56 - E quais eram os atributos?
- Os olhos.
Neurónio 56 - Ughhhh!!!
- E outra coisa. Zurbaran fartou-se de pintar santas com a mesma matriz com que pintou santa Ágata. E ainda outra coisa. Felizmente estas Ágatas não cantam: "Podes ficar com a jóias o carro e a casa, mas não fiques com ele..."
Neurónio 56 - Neste caso seria: "podes ficar com as jóias o carro e a casa, mas não fiques com elas".
- Com elas?
Neurónio 56 - Com as maminhas.

Giambattista Tiepolo
The Martyrdon of Saint Agatha
1755
Gemaeldegalerie, Staatliche Museen Preussischer
Kulturbesitz, Berlin


Sebastiano
A lady as Saint Agatha
1540
National Gallery, Londres


Mariano Rossi
O Martírio de Santa Ágata
1760-1800
Museu do Louvres, Paris


Giovanni Cariani
Portrait of a young woman as sanit Agatha
1516
National Galleries of Scotland


Francisco Zurbaran
Saint Agatha
1630-1633
Musée Fabre, Montepelier

quinta-feira, julho 13, 2006

- original soundtrack -


Dial up my number now
Weaving it through the wire

Switch me on
Turn me up
Don't want it Baudelaire
Just glitter lust
Switch me on
Turn me up
I want to touch you
You're just made for love

I need la la la la la la
I need ooh la la la la
I need la la la la la la
I need ooh la la la la...

(Ooh La La, Goldfrapp)
- o carteiro -
Contra indicado para telemóveis

Há duas coisas que podem avariar um telemóvel: a comida e a bebida, de resto, como podem avariar uma pessoa. Quando a minha idade era outra que não esta, o médico cismou, porque cismou que eu havia de comer várias vezes ao dia, ideia que não me agradava nem estava nos meus planos. Como essas teorias médicas eram conhecidas de muitos que me eram próximos e apoiadas - algo que me parecia escandaloso -, esse acto de comer transformou-me num animal de montra, de feira de circo, que calava os pedidos de "mais qualquer coisa, vá lá" com o grande sacrifício da deglutição. Quando não havia ninguém por perto, a comida era colocada no mesmo sítio, mastigava-se em seco, e no caso das bolachas, deitadas no saco, misturadas com o porta-moedas, com o caderno de apontamentos, com o livro, com a garrafa de água. E por lá andavam, até um dia em que não estivesse ninguém por perto e fosse possível deitar o pó das bolachas fora. Entretanto, tal como o homem que "é pó e ao pó há-de tornar", as bolachas em migalhas já tinham entrado dentro do livro, dentro do porta-moedas e não sei porquê, dentro do telemóvel. Havia uma atracção entre ambos e nunca me livrava de ter de recorrer sem cábula à imaginação para justificar a presença de tais partículas dentro da maquineta. O tempo foi passando, a maquineta avariou-se, e cansei-me de ser animal de montra, optando por realmente comer para não ter de apresentar justificações a ninguém. Não foi bonito. O telemóvel avariou-se e cá por dentro alguma coisa também saiu do lugar que é como quem diz, cresceu para os lados.

Seguiu-se outro telemóvel que mostrou não estar à altura desse grande elemento que é a água. É que devido a um quase literal "quem anda à chuva, molha-se", o saco lacrimal passou a expelir com mais frequência que o habitual e quase sempre ao telemóvel. A maquineta que fala, teria muito para contar se quem a fez, quem as fez, não tivesse previsto situações incómodas como esta. Assim, não falando a maquineta, não se saberá a razão de tal dilúvio, mas a verdade é que mais uma vez, foi administrado ao telemóvel uma dose generosa de água que fez com que o tipo não se aguentasse na mão sem se desligar sozinho. Como se tivesse vontade própria. Agora, como um velho senil, com os seus fluidos putrefactos, prefere ficar na secretária, na mesinha de cabeceira - em superfícies planas, se faz favor -, do que andar a passear na mão ou no saco, e desliga quando lhe apetece.

Ámen.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates
Antes e depois:
ou
"Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo." (Mateus 26:26)

Leonardo da Vinci
The Last Supper
1498
Convent of Santa Maria delle Grazie, Milão


Damien Hirst
The Last Supper (Steak and Kidney)
1999
Tate Modern, Londres
- as palavras dos outros -

Egon Schiele
The Holy Family
1913

(...)
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
(...)

(O guardador de rebanhos, Num meio-dia de fim de Primavera, Alberto Caeiro)

quarta-feira, julho 12, 2006

terça-feira, julho 11, 2006

repita muitas vezes até se convencer: "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa", "não me interessa"
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

antes de depois, ou "digam lá que não repararam que é a mesma criança":

Pinturicchio
Portrait of a boy
1481-1483
Gelmäldegalerie, Dresden


Joseph Cornell
Retrato da Série "Médici Slot Machine"
1942
Colecção Particular

segunda-feira, julho 10, 2006

- original soundtrack -


This is why I always wonder
I'm a pond full of regrets
I always try to not remember rather than forget

This is why I always whisper
When vagabonds are passing by
I tend to keep myself away from their goodbyes

Tide will rise and fall along the bay
and I'm not going anywhere
I'm not going anywhere
People come and go and walk away
but I'm not going anywhere
I'm not going anywhere

This is why I always whisper
I'm a river with a spell
I like to hear but not to listen,
I like to say but not to tell

This is why I always wonder
There's nothing new under the sun
I won't go anywhere so give my love to everyone

Tide will rise and fall along the bay
and I'm not going anywhere
I'm not going anywhere
People come and go and walk away
but I'm not going anywhere
I'm not going anywhere

(Not Going Anywhere*, Keren Ann)

*não, não, fico já aqui.
- não vai mais vinho para essa mesa -
(continuação)
Neurónio 34 - Tivemos esta ideia, não sabemos se ajuda, mas cá vai: na peça Rhinocéros do Ionesco, introduz-se o animal rinocerante como bode expiatório para um mal que estava nas pessoas. Quando elas se transformam em rinoceronte, a espécie é só um pretexto, mas há a introdução de um animal como personagem principal. No quadro do Delacroix “A morte de Sardanapalo” introduz-se pela primeira vez um animal exótico, o elefante.
Neurónio 95 - Estávamos em pleno romantismo, já de olho no orientalismo.
Neurónio 34 - Uma coisa não substituiu a outra.
Neurónio 95 - E não é a primeira vez que no teatro os animais assumem o papel principal. Lembremo-nos das fábulas.
- Digam-me lá onde querem chegar porque eu estou a sentir, na forma como os dedos me fogem no teclado, que vocês estão a perder o fio à meada.
Neurónio 95 - Adolf Loos escreveu “Ornamento e Crime”.
Neurónio 34 - E o Peter Behrens…
Neurónio 95 - Aquele da conferência…
Neurónio 34 - Aquele da conferência disse “Ornamento é Crime”. Mais tarde Mies van der Rohe disse, dentro do mesmo espírito: “Less is more” e pegando outra vez na frase de Loos, quem é que te garante que ele não a foi buscar a Proudhon que disse “Propriedade é Crime”.
- Pode ser apenas uma coincidência de tradução. De qualquer forma, bom trabalho.
Neurónio 34 - E agora, ainda sentes o hiato?
- Sim, o hiato é permanente. Enquanto não resolver a insatisfação, não resolvo o hiato.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates


Leonardo da Vinci
Self-portrait
1512
Biblioteca Reale, Turim

O futebol é "cosa mentale". Desculpem, "A pintura é cosa mentale", assim é que é.
- não vai mais vinho para essa mesa -
Neurónio 34 - Já a trabalhar?
- Tem de ser.
Neurónio 34 - Tem mesmo ou estamos a escamotear alguma coisa?
- Escamotear parece-me demais.
Neurónio 34 - Mas não estás aqui só por causa do trabalho, pois não?
- Também.
Neurónio 34 - Não tens medo? Não está aqui ninguém, está tudo silencioso, não se ouve um respiro.
- Assim é que eu gosto.
Neurónio 34 - Sabes, um dia isso ainda te vai fazer mal.
- Também acho. Às vezes penso que tanto silêncio e qualquer dia vou querer abrir a boca para falar e não vou ser capaz.
Neurónio 34 - Então porque é que não esperas que venha mais gente.
- Porque quero manter a cabeça ocupada. Quero manter-vos ocupados.
Neurónio 34 - Nós estamos ocupados em estar preocupados contigo.
- Então porquê? Eu cá me arranjo, tenho os meus meios…
Neurónio 34 - Mas o que é que se passa?
- Je ne sais pas. Ou melhor, sei, mas nem sequer é uma algo suficientemente consistente, racional, para vos ser explicado.
Neurónio 34 - Achas que não temos capacidade para perceber?
- Não sei. Às vezes acho que vocês são muito melhor do que a avaliação que faço do nosso desempenho juntos e outras…
Neurónio 34 - E outras achas que quê?
- Bem, eu sei que ninguém é sempre bom, que não há pessoas brilhantes, que na maior parte das vezes, até nos blogs, ninguém tem sempre um conhecimento tão abrangente e tão incisivo quanto quer fazer crer. Quantos blogs não são citação ou referências às referências dos amigos, quantos blogs não são a procura constante do Edit Me que a meu ver é um exercício narcísico. Tenho a certeza que muitas vezes essas pessoas não têm opinião sobre determinados assuntos.
Neurónio 34 - Então…
- É uma insatisfação permanente. Não é sazonal, não me venham com histórias de queda de cabelo e fases da lua. É permanente.
Neurónio 34 - E o que é que a gente pode fazer para ajudar.
- Continuem aí. É que o problema não é vosso. Há um hiato entre aquilo que vocês são e aquilo que eu sou capaz de fazer convosco.
Neurónio 34 - Já sabes que connosco estás à vontade.
- Obrigado, mas isso não serve de consolo a ninguém.
Neurónio 34 - Não és bem do tipo que procura consolo.
- Pois não. Sou mais do tipo que não faz a mínima ideia do que tem de fazer para não se sentir assim.

sexta-feira, julho 07, 2006

- original soundtrack -


(Meredith Monk*)

*Ah pois é, Ah-Pois-É!
- short stories -

Nadou tanto, mas tanto, que quando acabou doíam-lhe partes do corpo que não sabia que tinha.
- não vai mais vinho para essa mesa -
"Raio de coisas de que te lembras.", "Hoje acordei um bocadinho triste. Não me aborreçam.", "Pronto, vai lá à tua vida."
Uns meses antes do casamento dos duques de Mântua, Mantegna, o pintor dessa corte residual recebeu nos seus aposentos o emissário do duque. A missiva de que este era portador continha os seguintes dizeres. “Sua muito alteza real – tão real que a sua realeza não cabe neste manuscrito – manda avisar o mui ilustre mestre de arte desta nobre corte, que requer para a nubente um trabalho no quarto em que ambos vão consumar o acto matrimonial. A divisão terá por nome Camera degli Sposi, designação inventada pela real e criativa cabeça de nossa senhoria, e deverá ser pintada pelo mestre segundo a sua vontade, ficando porém a aceitação ou rejeição do trabalho dependente do bom gosto do nosso quase soberano”. Mantegna pintou isto na Camera degli Sposi.

Andrea Mantegna
Roundel with putti and ladies looking down
1465-1474
Palazzo Ducale, Camera degli Sposi, Mântua
No dia da consumação do casamento, os noivos entram tímidos no aposento real.
- Então minha noiva gosta do presente que providenciei para si.
- Sim meu senhor gosto muito. Aquele é o leito real?
- Sim.
- Então façamos como nos ensinaram os nosso mestres. Que cada um se dispa, que a mulher entre primeiro no leito e que o marido lhe siga os passos. Ela não deverá mostrar-se nua perante ele nem manifestar prazer. Quando estiver preparada senhor, chamo por vós com um assobio.

- FIUUUUUU!!!
- Fosteis rápida senhora. Estais apressada ou os meus encantos dão-vos cuidados?
- Nada disso senhor. O que se passa é que quando me deitei no leito em que pensáveis consumar o acto, olhei para o tecto e vi que em vez de um quarto, este aposento é um poço. E vejo que todos nos olham.
- Não é um poço senhora, é uma pintura.
- Com todo o respeito senhor, mas uma pintura é uma coisa que fica dentro de uma moldura.
- Então minha bela, não conheceis vós a técnica do fresco que permite pintar na parede.
- Conheço, mas tão certa com estar aqui estou certa de que isto é um poço. Não percebo a arquitectura de vossa casa, mas reconheço um poço. E deixai-me dizer-vos senhor que muito me desagrada passar a minha primeira noite num poço. Ainda por cima com pessoas a olhar. Ou mandais fechar isto, ou quem se fecha em copas sou eu.
- Mas senhora, são pinturas. Vede as criancinhas e o negro a olhar, é tudo ilusão de óptica. Foi o meu artista de corte, Mantegna que pintou.
- Pois então coloque-se aqui esse senhor artista para ver se ele gosta desta sensação.
- Como dizeis senhora, és só uma sensação. Vinde agora para cá que tenho apetites em vos ter.
- Pois eu tenho apetites de ver a cabeça destes servos que me miram numa bandeja, juntamente com a do vosso Mantegna. E mesmo correndo o risco de vos ser desagradável senhor, não cederei aos prazeres da carne enquanto não mandardes a ralé embora.
- Senhora, estou a arder. Haverá possibilidade de convencer-vos que são pinturas?
- Senhor, como podeis estar a arder com crianças a olhar para nós? E nuas!! Será isto para atiçar o meu desejo? Devo dizer-vos que não resulta.
- Senhora vinde para aqui para o meu lado.
- Nunca senhor! Levo o lençol que já não me encontro em posição para voltar a vestir-me. E dizei ao vosso Mantegna que amanhã terei uma conversa com ele e depois de amanhã, a sua linda cabecinha para a história, juntamente com a de Golias e de Holofernes.
- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Porque há Action painting e Action painting:

Jackson Pollock


Mark Tansey
Action Painting II
1984
Montreal Museum of Fine Arts