sábado, junho 17, 2006

- o carteiro -

Agora não, o tempo arrefeceu. Mas nestes dias de maior calor foi-me particularmente difícil adormecer. Ainda que tente relativizar esta espécie de baque que o meu coração sente sempre que desligo a luz à noite e que se assemelha ao aproximar de um exército inimigo em cavalgada apressada e impiedosa, não consigo deixar de me virar e revirar na cama, como se fosse o corpo e não o espírito que na realidade entra em sobressalto. Não é o exército que me assusta, não é a luz apagada, não é o corpo quente na cama, não é a iminência de uma insónia. É uma palavra que primeiro ocupava só a cabeça (1/4 de cérebro, digamos), mas que nestas noites mais quentes persegue-me o hipotálamo, outras zonas de nome indecifrável, a nuca, as omoplatas e ecoa ao ritmo do baque do coração. A palavra é "Porquê", devidamente acompanhada do ponto de interrogação que se não remata a indagação, pelo menos dá-lhe um contexto. É que mesmo não sendo uma pessoa curiosa (curiosa no sentido de bisbilhoteira), não lido bem com aquilo cujo acesso à compreensão me é negado. E receio bem que enquanto não encontrar resposta para esta questão, o exército não faça meia volta para regressar ao ponto de onde veio: o momento em que o interruptor faz clic. Há um respiro no ar, um último estertor que não me deixa dormir: é o meu.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Qual é o fantasma que nasce todas as noites, apenas para morrer quando chega a manhã?

18/6/06 3:32 da manhã  
Blogger Belogue said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

18/6/06 11:34 da manhã  
Blogger Belogue said...

A esperança.

18/6/06 2:14 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O que é vermelho e quente como a chama, mas não é chama?

18/6/06 4:00 da tarde  
Blogger Belogue said...

O sangue. Not in the mood for games.

18/6/06 4:05 da tarde  

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