quinta-feira, junho 29, 2006

- ars longa, vita brevis -
hipócrates

Movido pelos ideais de Proudhon e já na saída do Romantismo, Courbet, juntamente com Daumier e Millet, trouxe-nos o Realismo. Por esta altura, o incólume Renascimento tinha sido posto em causa pela famosa Jangada da Medusa que quebrou todas as regras clássicas da pintura: pela primeira vez pintou-se a tragédia humana. O que estes pintores vieram fazer, foi dar continuidade - e acentuar a parte que mais lhes tocava - à evidência dessa tragédia nos seus aspectos quotidianos. Os cenários deixam assim de ser idílicos e às vezes dantescos, mas sempre idealizados, para dar lugar ao cenário do dia-a-dia: os campos a serem cultivados, as carruagens de comboios cheias, as casas de camponeses, as mesas pobres, as refeições espartanas. Os retratados não são deuses nem os mais altos representantes das nações - distinção esta que muitas vezes não era clara - e é elevado à categoria de herói o homem comum: o camponês, a engomadeira, a mulher que embala a criança, o homem que segura no arado, o próprio pintor. O Idealismo dá lugar ao Realismo num aspecto curioso: há lugar para o pormenor. Não se trata do pormenor da iconografia que pedia um olhar treinado para relacionar o objecto, a representação com o representado ou com a mensagem. Agora é tudo muito claro, porque se trata de um universo acessível a todos: as batatas no prato, a mulher nua no atelier do pintor, a criança que olha curiosa, o cão que saltita e o decréscimo de receio em retratar temas mais periclitantes.
O que não se esperava é que Courbet pintasse isto. O quadro é de tamanho médio, mas o assunto é de suma importância e a designação, mais escandalosa ainda. É que antes, a origem da vida era o dedo esticado de Deus para Adão. Agora…


Gustave Courbet
The origin of the world
1868
Musée d' Orsay, Paris