quinta-feira, abril 13, 2006

- mãe, a maçã tem bicho -
Caravaggio
Supper at Emmaus
1600-1601
National Gallery, Londres

Entrevista de Isabel Pires de Lima ao Jornal de Letras
[Então está bem...]
P- Afinal, em que consiste o acordo do Ministério da Cultura com a Fundação Berardo?
R- O acordo resulta da vontade política, expressa com muita veemência pelo Estado e pelo MC, de fixar a colecção Berardo de Arte Moderna e Contemporânea. Pareceu-nos da maior importância fazê-lo, porque estamos a falar de uma colecção constituída por 862 peças, com muitos autores importantíssimos, como Pollock, Picasso, Miró, Andy Warhol, um núcleo surrealista e outro de arte pop muito fortes, a que o público português não tinha acesso noutras colecções públicas. Era um dossier que se arrastava há muito, tendo-se chegado agora a um acordo de empréstimo em que o comendador Berardo, a partir de uma Fundação que vai gerir o Museu, empresta ao Estado português, por um período de dez anos, as obras que compõem esta colecção. Vamos agora proceder à sua avaliação, suportada financeiramente pelas duas partes, finda a qual, o coleccionador terá um mês para aceitar o seu resultado. O acordo prevê ainda que o Estado português tenha direito de opção de compra durante esses 10 anos, a partir de Janeiro de 2007. Para além disto, o Museu será gerido pela Fundação de Arte Moderna e Contemporânea Fundação Berardo (cujo presidente será o comendador), sendo o conselho de administração constituído por cinco elementos, dois indicados por ele, dois pelo Estado e um quinto por comum acordo. Por último, haverá um fundo para aquisição de obras de arte, já a funcionar este ano, contribuindo cada uma das partes com 500 mil euros.
[Não crê? Ou sim ou não. Para depois do almoço fica aqui a opinião de António Mega Ferreira sobre isto]
P- Um dos aspectos mais controversos deste acordo é o facto do Museu vir a ocupar todo o Centro de Exposições (módulo 3) do CCB. Corremos o risco de ver muito limitada a programação deste equipamento?
R- Não creio. A gestão funcional deste espaço continuará a pertencer unicamente ao CCB, o que está plasmado num protocolo a ser assinado entre a Fundação Centro Cultural de Belém e a Fundação Berardo. Esta conivência abre, em meu entender, muitas possibilidades. Aliás, o CCB há vários anos que convive com a colecção Berardo e o próprio Estado há muito que investia nela, quer exibindo obras, quer fazendo a sua conservação e guarda nas reservas, o que está longe de ser barato.
[Nota-se...]
P- Já anunciou a abertura em Lisboa de um pólo do Hermitage. Como vai ser?
R- Assumo ser uma das minhas apostas, que se integra numa das linhas programáticas deste governo para o MC. Queremos apostar na componente museológica, como elemento fundamental da qualificação cultural dos portugueses, e isso passa também pela criação de novos públicos para os museus. (...)

[Isso é um recado?]

P- Estes novos museus não vão "colidir" com museus já existentes? O Museu Berardo será de Arte Moderna e Contemporânea, mas já temos o Museu de Arte Contemporânea do Chiado...
R- O Museu do Chiado é basicamente um museu de arte moderna e contemporânea portuguesa, que, por vezes, tem exposições de autores de outras nacionalidades e poderá continuar a tê-las, se assim o entender. Não vejo nenhum perigo de sobreposição, pelo contrário, penso que haverá vantagens mútuas. Talvez o Museu do Chiado passe a recentrar-se mais naquela sua vocação primeira.