quarta-feira, março 22, 2006

- o carteiro -
Na sombra de um grande homem, está sempre um grande celerado
As cortes, mais do que locais ou conjuntos de pessoas foram formas de vida. Não obstante o facto desta ser uma expressão repetida vezes sem conta, é totalmente verdadeira e aplicada no caso que aqui referimos. As cortes não eram locais porque, entre outras razões, eram itinerantes; seguiam o príncipe para onde quer que este fosse. Também não eram pessoas porque, apesar de não existir corte sem pessoas, não eram elas apenas que faziam a corte. As cortes foram a forma encontrada pelo príncipe (príncipe enquanto ser mais elevado na hierarquia humana), para estetizar uma vivência que anteriormente era considerada bárbara. A partir do momento em que a vida do príncipe se torna o centro, substitui-se o ideal guerreiro pelo ideal cavalheiresco e a corte passa a ser o ponto de encontro de seres das mais diferentes proveniências, mas nos quais se encontrava o poder para assistir ao monarca. Há uma hierarquia nas cortes, hierarquia essa natural, mas que depois se ramifica: os preferidos eram os que estavam mais próximos do príncipe, mas entre os preferidos havia uns mais que outros. E era tão fácil ser-se preferido como preterido.
Uma palavra fora do contexto, que caísse menos bem e era o suficiente para rolarem cabeças. Porém, como em “terra de cegos quem tem olho é rei”, é natural que entre a crème de la crème das sociedades de cada corte, entre os melhores filósofos, entre os escritores mais espirituosos, entre os preferidos e as preferidas mais bonitos estivesse sempre alguém que, ostentando apenas um astrolábio e uma edição prínceps de qualquer tratado de alquimia ou astrologia, conseguisse a atenção imediata, cega e até fatal do príncipe. Existem três casos (muitos mais existirão) em que isso de facto aconteceu:
1. Catarina de Médicis, cuja família governou Florença e o Mundo através de uma oligarquia fez-se rodear das mais estranhas personagens. Fosse por um casamento infeliz em que o marido ostentava e era dominado pela amante Diana de Poitiers, fosse pela pressão protestante em França, a verdade é que a monarca cedo se apercebeu da importância de estar rodeada de pessoas com conhecimentos vastos e multidisciplinares, embora muitas vezes essas pessoas não fossem da sua condição social e a sua proveniência fossem dados desconhecidos. Assim, Catarina de Médicis socorreu-se muitas vezes de Michel de Nostradamus cujas profecias ainda inspiravam muito burburinho. Nostradamus era de origem judaica, versado em ciências ocultas (o que estava mais em voga era a astrologia e a alquimia) e dedicado a doentes vítimas da peste negra e a rainhas com curiosidades astrológicas (fazia o horóscopo para a rainha Catarian de Médicis) para além disso revestiu os seus escritos com sintaxe difícil, anagramas e com uma acessibilidade muito limitada. Catarina chegou mesmo a deslocar-se da corte para se encontrar com o vidente.

Michel de Nostradamus e Catarina de Médicis

2. Rudolfo II (de quem já falamos aqui a propósito dos seus gabinetes de curiosidades ou kunstkammer), dado ao sentimento, saturnino e depressivo, também se fez rodear dos seres mais curiosos do seu tempo. Os casamentos sucessivos entre pessoas da mesma família e já com séculos de tradição originavam quase sempre malformações e distúrbios fisionómicos que no caso de Rudolfo II resultou no prognatismo mandibular (maxialr inferior muito pronunciado). Entre os escolhidos para privarem com o monarca estavam Spranger, um pintor que se tornou muito próximo de Rudolfo II e que conseguiu que artesãos fossem afastados do restricto grupo dos favoritos.

Spranger e Rudolfo II

3. A filha do czar Nicolau II, a czarina Anastácia aconselhava-se com ele e o irmão, Alexei, o filho mais velho do czar que era hemofílico, era seu paciente. Ele era Rasputin. Ainda que eu acredite que devido ao carácter frívolo de Nicolau II da Rússia e ao seu snobismo, o czar não se misturasse com pessoas de condição se não inferior, pelo menos, estranha, a verdade é que foi influenciado por este místico-médico-asceta russo que segundo aquilo que se diz, conseguiu influenciar a corte russa graças à sua enorme potência sexual; potência essa que media 27 cm e que actualmente está em exposição no Museu Erótico Russo A verdade é que segundo a lenda, Rasputin terá curado Alexei e isso teria sido o ponto de partida para uma admiração cega para a nobreza russa.

Rasputin e Nicolau II

4. Margarida da Áustria privou com Henrinch Cornelius Agripa, o mago, médico e advogado, astrólogo e curandeiro que conseguia tudo através da alquimia e do estudo da cabala. Agripa fazia-se acompanhar de um cão negro onde se dizia estar aprisionado o diabo.

Cornelius Agripa e Margarida da Áustria

1 Comments:

Blogger [A] said...

o rasputin tal como no Corto...rs

1/4/06 10:42 da tarde  

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