segunda-feira, dezembro 26, 2005

COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO

(...) "O galo é o dono dos ovos

a galinha, da cozinha

ou se porta direitinha

ou apanha com a asa..."


Caravaggio
The incredulity of Saint Thomas
1601-1602
Neues Palais, Potsdam


A capa do Jornal Expresso desta semana dá destaque ao acordo conseguido entre o Primeiro Ministro José Sócrates e Joe Berardo no que diz respeito à fixação da colecção Berardo no CCB. A conversa decorreu juntamente com Isabel Pires de Lima na quarta feira. Embora tenha dado o seu aval na quarta, na segunda feira em entrevista ao suplemento Actual do mesmo jornal, mostrou-se intrasigente, dizendo mesmo (é a frase da reportagem): "não aceito ultimatos". Isto quer dizer que até quarta feira Isabel Pires de Lima estava a estudar a situação, não queria ser pressionada, mas na quarta, perante o "patrão", cedeu.
Só mesmo a "asa do galo" pode fazer mudar a relutância das entidades face à forma como a colecção Berardo vai ser gerida: uma gestão familiar (pelos filhos) com dinheiro dos contribuintes portugueses. Se não mudar a bem, muda a mal. Fraústo da Silva também se mostrava contra a passagem da colecção de Joe Berardo para o CCB. No fundo, até à intervenção de José Sócrates (quanto a mim despropositada pois cabia ao Ministério e não ao Primeiro Ministro dar a última palavra em negociações que estavam a ser levadas a cabo, infantilizando e desdemocratizando assim a questão) havia uma série de passos dados no sentido da conjugação de interesses. Sabem, como fazem as pesoas normais...
Com a asa de Sócrates a bater com força no cachaço da Ministra e a afagar a cabeça de Joe Berardo, coloca-se na minha cabeça uma questão. Até que ponto pode o Primeiro Ministro intervir nestes assuntos? E sob que pretexto? Que a colecção é muito boa e seria uma pena para os portugueses perderem a oportunidade de a terem por perto? Cabe ao governo, neste caso, a Sócrates, assumir um papel paternalista e dizer ao portugueses o que é melhor, quando nós sabemos que a colecção não vai ser vista pelos portugueses, mas sim pelos turistas estrangeiros que entre os Jerónimos e um pastel de nata visitam a colecção ("Oh, how lovelly indeed.")
E teremos o "Público" a apoiar cada passo do Museu/Fundação Berardo, como faz com Serralves (visto que Joe Berardo quer um modelo de gestão semelhante ao de Serralves)? E se sim, o que resta ao governo que permitiu e pagou? Será que o governo pode exigir algo em troca?
Acho que não sou a pessoa certa para fazer estas questões e muito menos para lhes dar resposta. Se calhar foi um post tolo. Tenho a certeza que em muitos Acidentais e Blasfémias, há gente mais "por dentro" que pode responder melhor. Mas caramba, a minha indignação conta. Ou não?

1 Comments:

Blogger formiga bargante said...

Claro que a sua indignação conta, Beluga.

A sua e a de todos nós, que pretendemos que Portugal seja um país melhor.

Mas à indignação teremos que juntar a persistência, sem a qual nada se alcança.

27/12/05 5:10 da tarde  

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