segunda-feira, outubro 17, 2005

COISAS QUE EU NÃO COMPREENDO
Ainda o Dia Mundial da Alimentação
Peter Paul Rubens
As três Graças
Museu do Prado, Madrid
A SIC fala sobre o Dia Mundial da Alimentação de uma forma curiosa e contraditória. Primeiro, imagens bonitas em espaços abertos, de gente que quer ser saudável, gente que sabe ser saudável, gente que está a aprender a ser saudável e gente que tenta ensinar como ser saudável. À mistura, as palavras obesidade, percentagens, colestrol e diabetes. Logo a seguir a emissão passa para a Feira de Gastronomia, um espaço fechado, abafadinho em sabores e vapores, com cores libidinosas de ovos moles de Aveiro e castanhas doces, barrigas de freira, morcelas e chouriços e açordas. Um brilho irresistível. A repórter tenta estabelecer uma ligação entre a reportagem anterior e a da feira, mas é impossível: a bota não rima com a perdigota, embora pudesse rimar se a SIC tivesse preparado melhor a intervenção. Ou se nem a tivesse colocado no ar.

Faz lembrar uma campanha recente sobre a obesidade infantil. Nela, uma criança anafadinha tocava à campainha de casa de um colega, que este só abre quando, após o primeiro muito insistir em identificar-se pelo seu nome próprio, em vão porque o outro não o reconhece, desiste e decide dizer: "Sou eu, o gordo."Do outro lado obtém um: "Ah, podias ter dito. Entra." Isto tudo para dizer que quem por dever deve alertar para estas questões, mostra a obesidade como doença passível de reprovação social e não como uma doença grave com repercussões futuras.
Hoje assistimos a dois tipos de postura perante a alimentação. Por um lado a preocupação excessiva à qual se dá o nome de ortodexia, e que pode culminar em anorexia, bulimia e vigorexia (embora a vigorexia seja uma preocupação excessiva, ou obsessão se quiserem, com o exercício físico). Por outro, vemos nos supermercados pessoas com os carrinhos cheios de iogurtes de três mil variedades e todos os tipos de bolachas. Sem ninguém lhes perguntar nada, sorriem na caixa enquanto abrem o porta moedas e dizem: " é o que se leva desta vida."

Será?