terça-feira, setembro 27, 2005

O CARTEIRO

O milagre de Ourique, Herculano e a bandeira portuguesa


O milagre de Ourique baseia-se na tradição que diz que a D. Afonso Henriques, antes da Batalha de Ourique, apareceu Cristo. Cristo prometia ao rei a vitória, mas também a protecção para o reino, glórias futuras, a fundação de um império. Deste modo a independência portuguesa assentava na expressa vontade de Deus e o povo português assumia o papel de povo eleito. A partir do século XIX a autenticidade do milagre foi posta em causa.

Alexandre Herculano refutou-o e a historiografia moderna, depois de rever as fontes que se referem a este milagre, não o aceitou. De facto, nenhum dos documentos coetâneos da Batalha de Ourique que a pormenorizam, avança uma palavra quanto à suposta aparição de Cristo. Só no século XIV surgem factos novos ligados à batalha: a aclamação de D. Afonso Henriques como rei de Portugal pelas suas tropas. Note-se que não há qualquer referência a que essa aclamação tenha tido intervenção divina.

Em 1485 (após 3 séculos de lenda), surge a primeira referência directa ao "milagre de Ourique". Vasco Fernandes de Lucerna, embaixador de D. João II junto do Papa Inocêncio VIII narra os feitos do 1º rei português, alterando-lhes a ordem cronológica e juntando a descrição da campanha de Ourique, o aparecimento de Cristo. O milagre passa assim a fazer parte integrante da História de Portugal.

No século XVII com Bernardo de Brito e a Chronica de Cister, a lenda ganha mais prestígio e precisão. O frade cisterciense aperfeiçoou-a, retocou-a e deu-lhe nova importância, conferindo a Portugal e aos seus reis uma missão carismática.

Podem pois considerar-se dois momentos na história da lenda de Ourique: um resultante da sua invenção por Fernandes Lucerna e outro quando da sua pormenorização, e por consequência, reinvenção por parte do frade de Alcobaça.

Em ambos os momentos havia a necessidade de afirmar a autonomia de Portugal, o carácter de eleição e a impossibilidade de sujeição do reino ao Papa ou a outros monarcas. A moderna historiografia e Herculano contrapõem esta ideia com factos. Os escritos referiam que o contingente militar africano era muito superior ao nosso, comandado por cinco reis mouros, mas na realidade, tendo em conta a situação de crise dos muçulmanos, quer na Península Ibérica, quer no Norte de África, o contingente militar árabe não seria assim tão numeroso. A fundação da identidade portuguesa não poderia residir aí, uma vez que Cristo não teria sido assim tão útil e porque ao dizer que "protege o reino", refere-se ainda a um reino e não a um país. D. Afonso Henriques queria reunir um conjunto de reinos e não uma nação.

Mas baseado nisto, se criou a bandeira portuguesa, de carácter cristológico: as 5 quinas simbolizam os 5 reis mouros que D. Afonso Henriques venceu na batalha de Ourique, os pontos dentro das quinas representam as 5 chagas de Cristo. Diz-se que na batalha de Ourique, Jesus Cristo crucificado apareceu a D. Afonso Henriques, e disse: "Com este sinal, vencerás!". Contando as chagas e duplicando as chagas da quina do meio perfaz-se a soma de 30, representando os 30 dinheiros que Judas recebeu por ter traído Cristo.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Por que nao:)

21/11/09 1:53 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home